Capítulo 37

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Ravena havia desperdiçado toda a sua liberdade ao jogar um guardião flyer de cima de uma montanha, então talvez ela merecesse ser atravessada pela espada de Nyria apenas por sua idiotice. Ela só não esperava que doesse tanto.

Quando a flyer atravessou Ravena com sua espada, a moça caiu no chão, vomitando muito sangue. O povo ao redor ficou ali, observando boquiabertos quanto mais tempo ela ainda duraria viva. Então um minuto se passou, dois, três, sem que a morte viesse busca-la.

— Será que alguém pode por favor, me trazer agulha e linha? — pediu Ravena.

— Que merda é essa? Era pra você estar morta. — disse Ariela.

— Pra tristeza de vocês, eu não vou morrer tão cedo.

Ravena conseguiu enxergar alguns rostos confusos.

— Se querem uma explicação tragam agulha e linha, ou alguém que possa me costurar.

Depois que mais cinco minutos se passaram, ao verem que ela ainda não havia morrido, trouxeram uma curandeira para ajuda-la.

— Explique-se — ordenou Ariela.

— Corações compartilhados.

— Desenvolva mais.

— Quando eu tinha cinco anos, sai voando além dos limites que os flyers impuseram aos nebulosos, e aquele filho da puta que vocês chamam que guardião me encontrou, me seguiu de volta até minha casa, matou meus pais e ateou fogo na casa comigo dentro. Eu morri intoxicada pela fumaça, mas por sorte os vizinhos encontraram meu corpo antes que ele fosse carbonizado. Minha irmã não estava em casa naquele dia, então ela continuou sã e salva.

"Os vizinhos levaram minha irmã e o meu corpo até o Karayan, para que ele realizasse o feitiço dos corações compartilhados. Basicamente você pega os corações de duas pessoas que sejam da mesma família, uma viva e uma morta, parte eles ao meio e, usando magia, junta um pedaço do coração vivo com um pedaço do coração morto, depois coloca os corações misturados de volta no lugar e espera que as pessoas acordem. A pessoa que antes estava morta revive e são acrescentados mais cem anos a vida dela. Ela não pode morrer antes que os cem anos acabem, a não ser que a outra pessoa que doou parte do seu coração a mate."

Ravena havia escondido essa história das pessoas a sua vida inteira, e era de certa forma libertador poder conta-la agora.

— Tem ideia de pra onde vai agora que é livre, Ravena? — perguntou Ariela.

— Ainda estamos considerando a liberdade dela? — interrompeu Nirya. — Ela tentou matar um guardião.

— Ele acabou de passar voando por aqui, só posso imaginar que ele está muito bem. Então sim, ela ainda está livre. — Ariela respondeu. — Então Ravena, pensou para onde vai?

— Na verdade, não.

— Porque não continua vivendo aqui? Numa tenda, não naquele quartinho mofado, é claro.

— A que preço?

— Nos ajudar nessa guerra.

— Nem pensar. Jamais trairia meu povo.

— Não precisa lutar. Tudo o que tem que fazer é nos dar algumas informações sobre Valkiria e Karayan para que possamos parar a guerra. Dessa forma nem o seu povo nem o meu sairão prejudicados, e claro que faremos reajustes quanto as divisas territoriais.

Ravena pensou um pouco antes de responder:

— Se for para parar a guerra eu aceito, mas com uma condição.

— E qual seria?

— Não matem minha irmã.

— Muito bem. Acordo fechado.

Ariela estendeu sua mão para Ravena, que ainda estava jogada no chão, mas agora sem uma espada a atravessando e devidamente costurada.

— Desculpa, mas ainda não consigo levantar. Acordo fechado. — Ela repetiu.

                                     ⚔️

Nikolás estava sentado a mesa, dentro de uma das tendas do acampamento quando Ariela chegou.

— Achei que iria falar com o seu pai.

— Ele está basicamente surtando, então ele pediu que eu viesse falar com você.

— Tudo bem então.

Ariela se sentou na outra cadeira de frente para Nikolás.

— O que ele... O que nós, flyers, queremos é formar uma aliança entre nosso povo e Cortlend. Nossa população não é muito grande, e com as mortes ficou menor ainda, portanto precisamos de mais soldados para lutar ao nosso lado.

— Eu gostaria de poder simplesmente aceitar, mas como rei preciso pensar primeiro no povo. Uma aliança com os flyers é muito bem vinda, no entanto um acordo assinado apenas por palavras tem uma validade curta. Gostaria de uma aliança que se mantivesse caso venham futuros conflitos.

— Então o que sugere?

— Posso unir o útil ao agradável e te pedir em casamento, dessa forma nossos reinos estariam unidos permanentemente. Mas caso aceitasse, eu ainda teria mais duas exigências: que a maior parte do meu exército lutasse com arcos e flechas, e que, considerando que o inimigo não tem apenas armas, mas também possui magia e asas, o que os torna muito mais perigosos para humanos do que flyers, vocês oferecessem armamento especial. Já vi as espadas que usam, aço revestido com magia. Quero o mesmo para os meus soldados.

— Aceito tudo o que disse. As exigências e o pedido de casamento. — Ariela respondeu com um sorriso.

— Fico muito satisfeito. — Nikolás respondeu com um sorriso maior ainda.

E assim o acordo entre os dois reinos foi selado, não com um aperto de mãos, mas com um beijo entre uma princesa e um rei apaixonados um pelo outro.

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⏰ Última atualização: Nov 01, 2022 ⏰

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