A Condenação

26 2 1
                                    


- Você sabe que fez, seu verme errante! - Uma voz odiosa ecoou pelo salão do conselho - Você não deveria ter tocado nela!

Os sussurros e falácias eram discutidos sobre o réu ali presente, no meio de todas as presenças altivas do grande conselho de Luxavat, nua e com uma aparência terrível. Um homem alto que fora rebaixado a se ajoelhar, de longos cabelos outrora vermelhos vibrantes mas agora um sujo desgrenhado. A face do que um dia já fora um grande nome do reino agora jazia sobre o chão, como um pecador.

- Temos que resolver isso logo senhor, o rei está esperando! Não podemos apenas executar este homem? - Disse o pequeno conselheiro da raça dos gnomos que estava esperando impacientemente ao lado de outro homem com vestes grotescas, um inquisidor.

- Claro que não! - uma outra conselheira contrariou. - Ainda que o crime que esse homem cometeu seja grave, não podemos condená-lo a algo assim... Ele ainda é o herói.

Herói, de fato. Pensou o réu com desgosto. Não adiantava quantos nomes ou títulos eram impostos a ele, no final esse prevalecia. Tudo na vida dele se baseou nisso, e na morte também iria se basear.

Uma injustiça nojenta que apenas esse reino cometeria.

- Peço perdão pela intromissão, senhores... - A voz doce proferida silenciou todos no local imediatamente. Todos naquela sala eram os cabeças do reino, as maiores das autoridades do grandioso império. Mesmo assim, o temor e respeito tomou conta do ambiente conforme o pináculo entrava no Grande Salão da Verdade. A Rainha estava ali. - Temo que essas discussões fúteis não vão nos levar a nada... Tudo que vejo sendo discutido aqui é se o peso desse crime é maior que todas as ações que nosso herói cometeu diante a balança do carma. Então tenho uma proposta.

Seus passos ecoavam na sala diante ao silêncio devastador, algo que somente ela poderia causar nos bastardos arrogantes do conselho. De cabelos vermelhos vibrantes, vestes brancas e douradas com o padrão eclesiástico de Luxavat, um corpo de proporções magníficas que os homens do império só poderiam sonhar em possuir. O respeito da dama altiva exalava por todo esse castelo de forma que ninguém, ninguém, poderia contestar a coroa que brilhava acima de sua cabeça.

Ela se aproximou do homem ignorando o receio de seus súditos e acariciou seus ombros. O toque suave de seus dedos era como seda, e sua pele clara reluzia com a luz ambiente do salão, que era parca por ser provida apenas pela clarabóia em seu centro, iluminando o criminoso de forma acusatória.

O criminoso por sua vez sentiu um arrepio de pura repulsa, o que passava em sua mente era claro para a mulher que o tinha na palma das mãos. Nojo.

- Um cavaleiro errante, quebra-votos, falso herói... Tantos nomes seriam proferidos pela população sem esperança ao saber que o ídolo da nação não passa apenas de... - Houve uma breve pausa enquanto a rainha encarava o réu. - ... Um mero homem pecaminoso e repulsivo...

- E... E o que tens em mente vossa santidade? - Um conselheiro teve a coragem de perguntar.

- "O grande herói do império, após todos seus serviços para nós, tomou uma decisão crítica para o bem-estar de todos que vivem nas terras santas. Ele saiu em uma jornada para as terras onde os deuses já não tocam, uma terra de morte e terror onde todos os males e abominações há de nascer. Ele fora erradicar os demônios nas Brumas Sombrias!" ... - Um sorriso satisfeito foi esboçado pela mulher enquanto o conselho argumentava entre si sobre as implicações do que foi dito.

- Mas vossa santidade, isso não seria o mesmo que matá-lo?

- Que pergunta tola, Senhor Zegrief. - Acariciando os cabelos desgrenhados do antigo herói de Luxavat, ela disse: - Ele é poderoso o suficiente para viver lá o suficiente para virar uma lenda. Pensas tão pouco do homem que matou o Dragão da Calamidade?

Caminho da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora