I'm So Sorry

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   E lá estava Nikolai Gogol impaciente, no final de seu desafio denominado "Traição de Gogol", apenas esperando quem seria o sortudo que iria sair vivo desse desafio. Nikolai, no começo, gostava de acreditar que Dazai seria o grande vencedor, pois assim finalmente conseguiria alcançar sua tão esperada liberdade, com seu objetivo finalmente concluído, Fyodor Dostoevsky estaria morto.

   O tempo ia passando cada vez mais, e Gogol se via cada vez mais preocupado, sem entender o real motivo de sua preocupação. "Eu quero que ele morra, sempre quis isso, por que estou tão preocupado? Não, não Nikolai, você não pode começar a se arrepender agora, foca no positivo, você finalmente verá Fyodor morto." Pensava ele, andando em círculos esperando algum sinal de nenhum dos dois presos. Já estava quase no limite do tempo esperado para que o veneno fizesse seu total efeito. Gogol estava cogitando entrar e tirar o russo de lá, quando sua atenção foi chamada ao perceber que a porta final finalmente estava sendo aberta, essa era a hora em que o grande vencedor seria anunciado. Isso o causava medo, ele queria que Dazai ganhasse e finalmente ter sua tão esperada liberdade, mas ao mesmo tempo queria que ele perdesse, apesar de tudo, tinha medo de perder Dostoevsky.

   — O antídoto Gogol. – Dazai disse cruzando os braços, indo direto ao ponto, não estava afim de brincadeiras, afinal, ele havia ganhado – eu fui o primeiro a sair da prisão assim como constava as "regras" de seu jogo.

   Nikolai estava arrasado, não conseguia acreditar que Fyodor havia perdido, seu coração aumentava a frequência dos batimentos a cada segundo que se passava, quase como se fosse ter um ataque cardíaco a qualquer momento, ele tentava se fazer acreditar que o homem em sua frente não era Dazai Osamu, mas sim seu melhor amigo.

   — Ah... Claro, você ganhou certo? – Nikolai pegou o antídoto que ele estava guardando para o grande ganhador e entrega nas mãos de Dazai – Aqui está, ainda bem que saiu antes dos 30 minutos se não você não iria mais viver, o que seria uma pena certo? – dizia Gogol com seu tom irônico de sempre tentando disfarçar sua raiva e decepção, estava arrasado demais para demonstrar felicidade por ele.

   — Uma pena o Dostoevsky não ter conseguido se salvar não é? – comentou Dazai apenas para irritar o palhaço, pois havia percebido a raiva e decepção em seu olhar.

   Nikolai decidiu apenas ignorar o que o outro havia dito, seria melhor pros dois, e, logo em seguida, começou a correr e empurrou Osamu de sua frente, tentando alcançar a porta logo e achar Fyodor. "Dos-kun eu espero que você ainda esteja vivo... O horário! Isso, quantos minutos já se passaram?" Nikolai procurou seu relógio em seu bolso para ver quando tempo ele ainda tinha até o prazo final.

   — NÃO! Isso não pode estar acontecendo, o tempo já acabou... Ele... Morreu? – Dessa vez não possível tentar disfarçar o que estava sentindo, na mesma hora lágrimas começaram a escorrer pelo rosto do mesmo, o que só fez ele aumentar o passo, ainda tinha expectativa de achar Fyodor vivo, mesmo sabendo que isso seria impossível.

   "Você nunca aceitou nada que tivesse risco de morte sem ter um plano para sair vitorioso, até mesmo a coisa mais arriscada você sempre teve um plano, nunca se deixou ser derrotado tão fácil assim, eu não consigo acreditar que você morreu, no começo eu achava que queria isso, mas enquanto te esperava, percebi que não, eu nunca quis te perder, me diz que você arranjou uma forma de sair vivo dessa situação, por favor... O pior de você ter ido, é que tudo isso é culpa minha, eu não admitiria isso facilmente, mas eu me arrependi de ter te feito aceitar esse desafio, eu só queria voltar no tempo e concertar tudo! Conseguir te salvar sem precisar fazer você se arriscar assim, para no final, ser tudo em vão, você não ter conseguido sair me dói muito não era esse o final que eu esperava. Espero que, de onde é que você esteja, você possa me perdoar algum dia..."

   Nikolai adentrava cada vez mais salas da prisão tentando achar Dostoevsky, até que, assim que abriu a próxima porta, avistou seu tão amado amigo jogado no chão, de fato estava morto. Na mesma hora ele se sentiu fraco, sentiu como se não tivesse mais forças dentro de si capazes de o fazer ficar em pé, ele queria gritar, chorar até não poder mais, mas também queria estar lá, com Fyodor, então foi correndo em direção do outro e se jogou de joelhos no chão e segurou o corpo do russo o deitando em seu colo.
  
   — Me diz que você ainda está aqui, que isso tudo não passa de um pesadelo, por favor, abre os seus olhos e me diz que você tá vivo... – Nikolai fazia carinho no rosto de Fyodor e tirava os fios de cabelo de sua cara, logo em seguida desceu sua mão para o pescoço do outro, tentando achar alguma pulsação, ainda esperando algum sinal vital nele, mas sem resultado, ele havia, de fato morrido.

   "Você está gelado Dos-kun, mas isso é apenas frio certo? Vamos pra casa por favor... Eu vou ficar com você até que você acorde, mesmo que seja eterno! Eu não vou sair daqui até que eu te veja bem denovo, eu preciso de você aqui, te ver sorrir uma vez, sentir seu toque novamente, ouvir sua voz mais uma vez, mesmo que isso me faça me sentir preso e que eu não tenha liberdade, eu só peço que... volta pra mim."

   Todos os momentos que os dois passaram juntos, todos os momentos que Fyodor poderia ter matado Nikolai ou vice-versa, mas não fizeram, todas as vezes que eles sairam juntos, todas as vezes que Gogol teve que cuidar de Dostoevsky por sua anemia ter o deixado doente, Nikolai simplesmente não conseguiria acreditar que nunca mais poderiam ter algum momento assim denovo, tudo simplesmente havia acabado, de uma maneira que nem ele conseguia acreditar que era real, mesmo sendo o dono do jogo, não achava que o russo perderia assim, achava que iria ganhar e então o matar com suas próprias mãos algum dia, porém agora isso já não seria mais possível, o veneno já havia feito esse trabalho por ele. A culpa sempre viverá dentro de Nikolai, nunca vai se perdoar por ter feito esse jogo que agora considerava idiota, no começo achava a ideia mais genial do mundo, até perder a pessoa que mais amava por causa desse desafio.

   "Tudo o que eu queria nesse momento era poder voltar no tempo e te tirar disso, eu nunca quis que você morresse dessa forma, eu sempre achei que você fosse vencer e sair vivo! Eu estava te esperando fora da prisão, querendo te dar um abraço quando te visse e percebesse que você estava vivo, mas agora isso não seria possível. E isso tudo é culpa minha, se eu não tivesse me feito acreditar que queria te ver morto, talvez você ainda estivesse aqui comigo, e bem! Talvez você não fosse morrer de uma forma tão idiota quanto essa, que droga!"

   Nikolai não conseguia fazer outra coisa além de chorar, a ficha ainda não tinha caído para ele, ainda restava um pouco de esperança em sua mente, ele não queria acreditar que aquele dia era real, mas agora já estava feito e não havia mais como voltar atrás, não existe mais jeito de apagar as ações e escolhas feitas antes desse ocorrido, a única coisa possível de ser feita agora, é aceitar que aconteceu.

   Gogol puxou o russo para perto de si o abraçou, o último abraço que poderia dar nele seria esse.

   — Você normalmente iria odiar esse abraço, mas agora você já não está mais aqui para reclamar – Nikolai afundou sua cabeça no ombro de Fyodor, como forma de "esconder" dele que estaria chorando por isso – Eu irei sentir sua falta, muita falta, por mais que eu nunca iria admitir isso se não fosse por esse momento... Eu te amo Dos-kun – Nikolai susurra essa última frase, em um tom quase impossível de se ouvir de não fosse o total silêncio presente no ambiente.

   E assim Nikolai ficou, abraçando o corpo de Fyodor, como se o tempo já não existisse mais para ele, não queria o soltar, pois sabia que não iria mais ter chance de o abraçar novamente. Essa seria a última vez.

I'm So Sorry (Fyolai)Onde histórias criam vida. Descubra agora