Capítulo 18

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Era uma da madrugada de terça-feira. Miguel ainda não conseguia dormir. Sentia-se incomodado com algo que não sabia explicar. Da sacada de sua sala, vestindo apenas cueca boxer, olhava a lua e as estrelas. Às vezes seus olhos vagueavam para a direção do apartamento de Mariana. Ele estava preocupado. Perdeu a conta de quantas vezes havia atendido o celular na tarde de segunda-feira desejando que fosse ela.

Desejava ouvi-la dizer que queria a ajuda dele. Mas àquela hora da madrugada, lutava contra a vontade de sentar-se em seu escritório e buscar mais informações sobre ela. Relembrou as palavras de Elias e Paulo: "Você pode ajudá-la se de fato quiser."; "Às vezes os fins justificam os meios."

Miguel não resistiu, resolveu finalmente olhar aquela Consulta PA2. Deixou a sacada e atravessou a sala escura até o escritório. Acendeu a luz e procurou o PA2 impresso sobre a mesa, mas ele não estava ali. Lembrou-se que havia embolado o papel e jogado no cesto. Como Divina tinha ordens para não limpar seu escritório, sabia que o papel ainda estaria dentro dele.

Pegou-o e o desembolou, ainda sentindo-se errado por fazer aquilo, pois em sua mente ela não era uma criminosa e ele não tinha o direito de fuçar sua vida assim. Para ele aquilo era falta de respeito com uma pessoa, que ele não sabia o porquê, tinha em alta conta. Talvez porque para ele, respeitar qualquer pessoa significava muito.

Enfim, lá estava o papel aberto, embora amassado. Buscou com seus olhos os campos que continham dados cadastrais da proprietária e finalmente leu mais do que havia lido no dia anterior, que era seu nome completo. Naquele documento havia números dos documentos importantes de um cidadão. Nome, CPF, RG, endereço e nome da mãe. Miguel então, sentou-se em frente ao seu computador e iniciou seu trabalho de investigação.

Em pouco tempo tinha informações que considerava importantes: ela se chamava Mariana Nogueira; 32 anos; filha de Maria Teresa C. Nogueira; formada em Administração de Empresas, trabalhava no Tribunal há 8 anos na área de RH. Conseguiu também um número de celular registrado em seu nome, acessou suas redes sociais, mas não encontrou muita coisa, pois parecia que ela era um pouco avessa a expor sua vida pessoal. Coisa que Miguel considerou sensato, já que hoje em dia parecia que as pessoas haviam perdido a noção.

Miguel teve acesso a tanta informação, mas não havia nenhuma pista do sujeito. Como eles não eram casados legalmente, era como se ele não existisse na vida dela, ao menos não na vida cadastral. Quisera que aquilo fosse verdade, assim ela não estaria vivendo o tormento que vivia, não teria que fugir e viver amedrontada. Parou olhando para o nada pensando naquilo e se deu conta de que se aquele desejo fosse verdade, talvez ele nunca a tivesse conhecido. Do último pensamento, não gostou.

Miguel chegou a fazer buscas de boletins de ocorrência de violência doméstica com esperança de encontrar algo, mas infelizmente não encontrou nada. Ela certamente nunca havia prestado queixas do cara. Irritado por ter vasculhado a vida dela e não ter obtido nenhum dado sequer do seu agressor, Miguel desligou o computador e foi deitar-se. Precisava tentar dormir, pois em 4 horas deveria estar de pé para o trabalho.

Ao amanhecer levantou-se e seguiu sua rotina diária de arrumação para o trabalho, exceto por mal ter tido tempo de fazer seu desjejum. Estava um pouco atrasado quando saiu para o trabalho e desceu a rua caminhando até o prédio da PF.

—*—

Mariana acordou novamente apreensiva. Mais uma vez teve pesadelos com Vinícius. Levantou-se um pouco desanimada. Preparou algo para comer com as coisas que Janete havia lhe comprado no dia anterior. Ajeitou as coisas na cozinha e foi logo olhar seu e-mail em busca de resposta do Dr. Caio. O tempo estava passando e ela queria viajar logo. Havia decidido ir de ônibus, mas antes precisava acertar as coisas com o advogado para deixar aquela questão encaminhada, pois em algum momento ela precisaria de sua CNH.

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