Luiza soprou o ar com força para fora dos pulmões, a luz da sala ofuscou sua visão momentaneamente e ela se questionou que merda tinha na cabeça quando aceitou ir para aquele lugar. Sentindo as pernas bambas e as mãos frias, ela colocou a máscara, Yara lançou um sorriso orgulhoso a ela.
A menina de pele negra nem olhou para trás quando seguiu o mascarado com a máscara assustadora do V de vingança, ela sabia que iria vacilar se falasse ou escutasse algo vindo das amigas, então, daquele jeito foi melhor. Lá fora a noite cheirava a capim, terra e medo, Luiza se encolheu com o uivo, os pelos do braço se eriçaram, ela apertou a lanterna nas mãos, cavalo que estava a sua frente nem ao menos reagiu, continuou caminhando com as passadas apressadas até o tal porão.
A fazenda era assustadora, pior que as histórias que ela havia escutado, tinha alguns móveis externos espalhados pela propriedade, um móbile preso em um gazebo tilintou com o vento, Luiza sentiu os olhos marejarem, imaginou como era quando a família morava ali, como o lugar deveria ser lindo, sendo bem cuidado e cheio de vozes, risadas e pessoas felizes, ela sorriu para os vasos de flores que serpenteavam uma fileira de cipreste, ela podia ver por uma fresta uma enorme piscina atrás dos arbustos, a luz roxa estava acesa, mas ela estava vazia.
Eles pararam em frente a porta do porão, a estudante chacoalhou os braços como se aquilo fosse espantar seu medo e desceu os degraus, a porta se abriu com um rangido soturno, ela deu os primeiros passos para dentro, a mudança de temperatura foi rapidamente notada, uma fresta de luz invadiu seu campo de visão, e próximo a ela outro guia apontava para onde ela deveria ir, ela seguiu a luz, pegou o pequeno envelope e deu o fora dali rapidamente.
Lá fora e sozinha naquele momento, Luiza sentiu a visão rodar, respirou fundo e contou até dez, deu graças a Deus pela temperatura ter diminuído, pois, o calor do verão a matava, as mãos tremiam enquanto ela abria o envelope, decidiu rasgá-lo antes que perdesse toda a paciência.
— "Eu falo, mas não tenho boca. Eu ouço, mas não tenho ouvidos. Não tenho corpo, mas vivo com o vento. Quem sou eu?" — Leu a charada, a cara se contorceu em desgosto, como ela poderia saber aquilo?
A garota piscou atordoada, o que diabos é isso? Pensou, levou a mão a cabeça e praguejou baixinho, a lua minguante parecia zombar dela lá do céu, Luiza sentiu o corpo tremelicar copiosamente, ela caminhou devagar entre a vegetação rasteira, lendo e relendo a charada, não era burra, mas odiava aqueles tipos de perguntas.
— Merda! — Ela xingou alto quando pisou numa tábua com pregos. — É sério isso? Isso é doentio! — Seus olhos incertos ficaram vidrados na tábua cheia de pregos, para sua sorte, o objeto não perfurou muito o solado de sua bota tratorada, ela se lembraria de agradecer Yuna pela escolha mais tarde.
Foi difícil tirar o prego do calçado, quando conseguiu ela virou a tábua para baixo e pisou com toda sua força, para que os objetos se enterrassem na areia e grama úmidas. Luiza respirou fundo, aquilo fora demais, ela poderia ter se machucado seriamente, aquela brincadeira estava indo longe demais, ajeitando a lanterna e tomando fôlego ela começou a correr de volta para o celeiro, o uivo surgiu, mas ela ignorou com sucesso, uma mulher vestida de branco e ensanguentada estendeu a mão em sua direção e pediu por socorro, mas a jovem continuou seu percurso, ela queria chegar logo as amigas e avisá-las do que acontecera.
Cavalo guardava a frente do galpão, ele a seguiu com o olhar até que a mesma entrasse, a mudança de temperatura fez ela relaxar, mas ela não podia se dar ao luxo, tinha que tirar as amigas dali.
— Gente! — Ela proferiu quase sem ar. — Temos que sair daqui agora!
— Por quê? O que aconteceu? — Yara foi a primeira a se aproximar. — Você está bem?
— Não! Não estou bem! — Ela chacoalhou os braços e bateu com força na mesa. — Eu quase me machuquei, essa brincadeira está indo longe demais.
— O que aconteceu? — Dessa vez Gabriela se aproximou, analisando a linguagem corporal da amiga em busca de respostas.
— Fala logo! — Yuna berrou, ela não aguentava mais ficar naquele lugar, sentia a cabeça doer.
— Eles colocaram uma tábua cheia de tachas para eu pisar — A voz de Luiza soou estarrecida, ela pigarreou sentindo a boca seca. — Eu poderia estar morrendo ensanguentada nesse exato minuto, o prego não perfurou muito, pois o solado da bota horrorosa é grande.
Gabriela rolou os olhos, ela amava os calçados.
— Você disse ser um jogo, mas já está passando dos limites — Manifestou Gaby, buscando por alguma câmera nas paredes.
— Vocês são muito dramáticas — A voz do Rei entoou pelo cômodo. — Qual é a resposta peão preto?
— Não sei! — Luiza gritou, apoiou-se na mesa e fechou os olhos com força. — Só deixa nós irmos embora!
— Não, cada uma terá que responder sua charada.
— Posso ajudar ela? — Gabriela questionou com a voz hesitante.
— Não — O Rei negou, vozes soavam abafadas próximas a ele. — Isso é contra as regras. — Temos uma segunda opção para você, Hannibal Lecter.
— Qual? — Luiza se ouviu perguntar.
— Bom, talvez seja melhor em jogos físicos.
Luiza sentiu o corpo arrepiar novamente.
E aí Kings and Queens! O que estão achando desse conto?
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Acha que Luiza se sairá bem no jogo físico?
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Xeque-mate
Mystery / Thriller(Conto) Uma mensagem estranha é enviada para quatro amigas. Yara, Luiza, Yuna e Gabriela são estudantes do colégio Prime e, em um dia normal na vida pacata das alunas, uma delas recebe uma mensagem enigmática, logo mais, as outras vão recebendo suce...