Capítulo 20

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Eles seguiram caminhando pela viela. Miguel com gestos protetores, sempre atento a tudo. Ao chegarem em frente ao prédio, ele ordenou:

—Dê-me sua chave.

Pegou-lhe a chave eletrônica, passou-a no leitor, abriu o portão e entrou na frente, como que para protegê-la. Subiu os degraus segurando-a pela mão. A porta de vidro que dava acesso ao hall costumava ficar fechada à noite. Fez sinal para que ela esperasse. Abriu a porta com a chave eletrônica e entrou, mantendo-a atrás de si, servindo-lhe de escudo. Após averiguar o hall, fez o mesmo na área de acesso às garagens. Tudo tranquilo, retornou, estendendo-lhe a mão e conduzindo-a até o elevador, abrindo a porta para que pudesse entrar. Questionou o andar, ela então, completamente sem ação, apenas respondeu, não tomando nenhuma atitude para impedi-lo de subir.

Ele apertou o botão indicativo do 6º andar. Quando o elevador parou no seu destino, Miguel fez sinal para ela ficar para trás. Abriu a porta e saiu do elevador, averiguando o andar, examinando também as escadas. Já no hall, que dava acesso aos dois apartamentos do andar, entregou-lhe a chave, esperando-a abrir uma daquelas portas. Observou quando ela se dirigia ao apartamento 602 e, rapidamente, fez uma conferência silenciosa da fechadura. Achou-a muito frágil, mas não disse nada, afinal quem decide com que tipo de fechadura quer trancar sua casa é o proprietário, não ele.

Mesmo hesitante, ela inseriu a chave e abriu a porta. Parada, sem saber o que fazer, Mariana ficou olhando para ele. Sequer sabia se devia ou não convidá-lo a entrar. Parte dela não queria, a outra parte lhe dizia que devia retribuir a gentileza dele para com ela, ao ponto de averiguar minuciosamente se seu algoz estava ali. Ele era muito protetor e muito simpático também.

Miguel percebeu sua hesitação e entendeu. Sabia que havia avançado uma enorme barreira naquele dia, o que era uma grande conquista. Não iria insistir. Seus olhares se cruzaram.

—Bem, já vou indo. – disse ele, preso em seu olhar.

Ela então disse:

—Espere! Quer entrar? – a voz demonstrava receio, mas ela lutou contra ele.

—Não precisa, não vou te forçar a me receber. Além do mais, não quero incomodar sua amiga.

—Não está forçando. Minha amiga não está. Entre, por favor!

—Obrigado! – agradeceu e entrou. —Então é aqui que você se esconde. – fez uma breve análise do ambiente. —Sua amiga tem bom gosto. – disse para quebrar o gelo.

—Tem sim. Sente-se. – disse mostrando-lhe o sofá.

—Obrigado! – disse ele sentando-se. Notou que, em cima da mesa, havia um notebook e vários papéis espalhados.

—Parece que sua amiga, ou o marido dela, trabalharam aqui recentemente – sondava o terreno, tentando descobrir mais.

—Ah não! – sentou-se também. —Paula e Beto não moram no Brasil. Eles se mudaram para Portugal há alguns meses. Ela me emprestou o apartamento para eu ficar até que eu consiga ... – parou quando percebeu que quase havia falado demais.

—Até que você consiga...? Vamos, diga! – insistiu Miguel.

—Até que eu resolva minha situação – conseguiu escapar pela tangente. E optou por mudar o foco da conversa.

—Você aceita água? É a única coisa que tenho para oferecer – sorriu amarelo – pois como o apartamento estava fechado há meses e eu não tive como fazer compras pra não sair lá fora, só tenho o essencial.

—Água agora, após nossa corrida, seria perfeito! – disse olhando-a fixamente.

Ela se levantou e foi até a cozinha buscar a água e ele foi atrás. Enquanto ela pegava a água na geladeira, ele fazia a análise da cozinha e notou que havia poucos alimentos ali visíveis e disse:

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