Não lembro de ter visto Craig no meu primeiro dia de aula, se bem que no meu primeiro dia eu cheguei atrasado. No segundo também, no terceiro, quarto, quinto... Demorou um tempo para meus pais aprenderem a me deixar na escola no horário, meu pai achava que daria tempo de me deixar na escola depois de preparar tudo na cafeteria. Não dava. Só depois de muitas aulas perdidas ele entendeu isso e passou a me mandar pegar o ônibus da escola como todas as outras crianças.Foi no ônibus que eu o vi pela primeira vez, ele passou com a cabeça baixa e foi direto para o fundo. A única coisa que chamava um pouco mais de atenção nele era o fato dele ser mais alto que os outros garotos que entraram junto e parecer mais velho, eu estava na terceira série, pensei que ele talvez fosse da quarta já que nunca o tinha visto nem mesmo no recreio, não que eu fosse o garoto mais atento do mundo. Realmente foi uma surpresa quando ele entrou na mesma sala que eu e tomou seu lugar de uma forma tão natural, lembro de ter pensado que ele era novato quando entrou pouco tempo depois de mim, mas sua naturalidade dizia que ele já estava habituado à sala. Nunca nem mesmo tinha ouvido falar dele, só me alertaram sobre o gordo cuzão, Eric Cartman.
De fato, Craig não era popular. Não falavam dele simplesmente por não terem o que falar, ele era encrenca não por ser como Cartman que brigava, fazia birra, manipulava. Todos se irritavam com o seu cinismo e seu jeito de simplesmente não se importar com nada, se alguém chamava sua atenção ele simplesmente dava o dedo e agia como se nada estivesse acontecendo. No mesmo dia que eu o vi em sala, ele foi mandado para a orientação por ter dado dedo para o professor e só voltei a vê-lo quando ele foi buscar a mochila. Ele saiu sem protestar com a mesma cara de morte que estava desde o início.
Craig era o menino mais alto da sala e vivia na orientação, se eu dissesse isso e a pessoa não o conhecesse, provavelmente iria imaginar um valentão grandalhão. Ele definitivamente não era assim. Craig era alto e magrelo, braços longos, rosto longelíneo, nariz fino e comprido, dentes tortos, olhos verdes opacos e expressão séria. Eu até queria falar com ele, ele dizia o que pensava, mas não parecia ser um babaca completo, contudo, já sabia que eu tinha adquirido a péssima reputação de garoto problemático.
Tudo mudou no ano seguinte numa aula de marcenaria. Eu estava com medo, não vou mentir, a sala era cheia de serradeira, lixadeira, serrote, caixas de prego. Eu tremia mais que o normal, tinha um milhão de formas de morrer alí. Eu que já estava nervoso, fiquei ainda mais quando Stan me chamou de bagunceiro, existe um abismo entre estar nervoso e ser bagunceiro. O senhor Adlam não prestava atenção na gente, simplesmente dizia para parar de bagunçar para fingir que fazia alguma coisa, eu tomava cuidado ao cortar as toras de madeira, tentando manter minhas mãos firmes para não me machucar. Quase perdi os dedos com o susto que tomei quando Stan e Kyle surgiram do inferno para dizer que Craig me escolheu para brigar. O encarei do outro lado da sala, ele só parecia normal, até Cartman chegar, falar alguma coisa e ele me dar dedo do nada. Que cara babaca! Não pensei muito quando os dois perguntaram se eu topava uma briga depois da aula e eu disse que sim.
No final eu esqueci o que tinha dito e fui direto para casa. Mais tarde aqueles dois apareceram lá em casa me cobrando por não aparecer para a briga, disse que não tinhamos motivos para brigar, mas eles disseram que Craig apareceu para a briga, disseram que ele me chamou de dentuço, mas o que eu devia fazer? Eu sou dentuço. Disseram que ele me chamou de babaca, marica, ok, eu fiquei puto. No dia seguinte realmente nos encaramos para lutar, mas só parecíamos uns retardados se encarando. Eu não queria brigar e nem sabia, só que mesmo assim eu treinei para encarar Craig umas duas semanas depois.
Fiz box e até que foi divertido (tanto que segui praticando depois disso). Depois de treinados, segunda feira depois da aula de marcenaria eu e Craig nos encaramos, eu me sentia patético usando só o calção de box, só que Craig parecia ainda mais ridículo usando uma coisa que parecia uma fralda. Caímos na porrada, Craig empurrava mais que batia e isso não quer dizer que não doía, na verdade doía bastante, ele empurrava os lugares certos como a boca do estômago e a lateral da cabeça.
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Craig Tucker, o menino que não se importava
FanfictionFoi no ônibus que eu o vi pela primeira vez, ele passou com a cabeça baixa e foi direto para o fundo. A única coisa que chamava um pouco mais de atenção nele era o fato dele ser mais alto que os outros garotos que entraram junto e parecer mais velho...