Capítulo Único

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Edward Elric caminhava em passos calmos pela estrada de terra ladeada por baixos muros de pedra, o leve ranger de sua perna esquerda a cada flexionar de suas articulações mecânicas, denunciando a necessidade de manutenção que ele tendia a ignorar.

Ele não prestava muita atenção ao ruído, no entanto.

Não que passasse algo extraordinário em sua cabeça; apenas banalidades ocupavam sua mente, dita genial por tantos. O conserto do telhado, a encomenda de peças para a oficina, a entrega dos convites para o décimo aniversário de Nina, na próxima semana...

Ao passo que a lista de tarefas rolava por sua mente, a própria Nina cantarolava uma cantiga qualquer, enquanto fazia, ao lado do pai, o caminho para o cemitério. Apesar de a voz melodiosa da menina ser a trilha sonora da cena corriqueira, Edward não estava muito ciente do fato também, mais preocupado em lembrar-se o que Winry havia pedido que ele comprasse na mercearia, quando retornassem.

No entanto, bastou um o gritinho assustado da criança para que o ex-alquimista se visse completamente alerta, segurando a filha a meio caminho do chão, evitando que despencasse de barriga, após tropeçar em uma pedra.

— Você se machucou? — perguntou, preocupado, colocando a menina de volta em seus pés, enquanto fazia uma rápida triagem em busca de danos, percebendo, aliviado, que as botas marrons que usava, não permitiram que ferisse os pés.

— Não — Nina respondeu, ofegante pelo susto. — Mas as coroas amassaram um pouco — acrescentou, com uma careta, enquanto se abaixava para pegar os cinco anéis de flores lilases que havia trançado mais cedo, naquele mesmo dia.

Enquanto resgatava os objetos, um novo gritinho abandonou a boca da criança, mas Edward não se preocupou dessa vez, visto que risadas se seguiram.

— Para, Tiny! Estou bem! — a garota exclamava, entre risos, tentando evitar que o grande pastor alemão lhe presenteasse com novas lambidas nas bochechas.

Edward sorriu, encarando a cena por alguns segundos, mas logo agiu em defesa da filha.

— Ok, saco de pulgas, deixa ela em paz — mandou, mas o cachorro apenas tombou a cabeça para o lado, como se não o compreendesse. — Não se faça de sonso comigo — o ex-alquimista acrescentou, severamente, ajudando a filha a se levantar.

— Vamos, Tiny, temos que levar as flores para os túmulos dos meus avós — ralhou, enquanto ajeitava o vestido rosa pastel, e só então o canino enorme demonstrou entendimento.

Edward rangeu os dentes, sabendo que ele tinha compreendido desde o princípio, jurando internamente que o bicho se fazia de desorientado apenas para provocá-lo. Winry zombava dele toda vez que expressava o pensamento, dizendo que ele maliciava demais as atitudes do cachorro. Claro, ninguém acreditaria nele, enquanto o animal encarasse os demais membros da família com seus olhos pidões, redondos e brilhantes.

— Pronto — Nina declarou, chamando a atenção do homem de volta.

— Não prefere que eu leve isso? — Edward ofereceu.

— Só me ajude — respondeu a menina, passando ao pai duas das coroas de flores, antes de ajeitar os cabelos louros presos em rabos gêmeos, jogando-os novamente por cima dos ombros, e pegar uma das mãos do homem nas suas.

A dupla retomou o caminhar pela estrada de terra, o cachorro gigantesco seguindo-os fielmente de perto, ocasionalmente rodeando-os para farejar em volta. Edward mal podia entender como as vezes conseguia ignorar a presença do animal, especialmente porque ele tinha altura o suficiente para bafejar em seu ombro a cada passo do percurso.

Os comentários das pessoas que encontravam pelo caminho, apenas reforçavam seu ponto.

— Eu não sabia que criava cavalos, Edward — Dener Berwald comentou, de maneira risonha, quando passou por eles.

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