Aos poucos eu fui me acalmando e o choro cessou. Agora sinto como se estivesse em uma montanha russa, que sobe muito rápido ou desce da mesma maneira. Estou sem nenhum controle sobre o meu corpo, é como se os meus sentimentos estivessem em combustão, e que tudo que aconteceu na minha vida fosse um gota de combustível que quando juntos causaram grandes estragos. Eu vivi mais de uma década guardando tudo para mim, minhas ideias, meus pensamentos, meus sofrimentos, a minha vida, mas o estopim chegou e com ele a necessidade do meu corpo de liberar tudo que estava preso. A forma como eu consegui foi com a minha instabilidade emocional, por hora, esse episódio foi suficiente, mas até quando? Até quando ter surtos de choros e risos fará com que eu não vire cinzas? Pois cada vez que eu entrar em combustão, será como se uma parte de mim estivesse deixando de existir!
— Tome essa água, minha menina — diz a Maria. Em qual momento ela saiu do quarto? Me pergunto mesmo não tendo interesse na resposta, apenas bebo o líquido que estava com um gosto adocicado.
— Como você está se sentindo, Luna?— Dessa vez quem fala é o Ethan. Olho para ele vendo os seus olhos azuis, preocupados. Dou um sorriso sem graça para ele e desvio o meu olhar do dele. Ele não devia me vê daquele jeito, como uma louca.
— Foi um espetáculo e tanto né? — ironizo. As palavras saem com um gosto amargo pela minha boca — Me desculpa, você não precisava ter visto tudo isso.
— Não se desculpe, você não precisa fazer isso! Não quando não foi você quem começou tudo isso — ele vem até mim e senta ao meu lado na cama e empurra levemente o lado do meu corpo com o seu ombro — E se aquilo foi um espetáculo, eu o fechei com chave de ouro, em? — diz sorrindo e eu o retribuo achando graça em suas palavras.
— Esse mundo está perdido mesmo. O Senhor acha engraçado bater em um Padre? Além do seu título, ele tem idade para ser o seu avô. Você não tem vergonha? — Automaticamente o Ethan fecha o seu semblante, ficando sério e em seguida respirando fundo.
— É sério que você acha que eu sou errado aqui? O Padre que você está defendendo, fez uma cessão de "exorcismo" porque a garota em sua frente o confrontou. Que mundo maluco é esse que a Irmã vive?
— Ethan, por favor, não fale assim com ela. Ela não merece isso. A irmã Maria sempre cuidou muito bem de mim — digo tocando em sua mão fechada sobre a madeira lateral da cama — E Irmã, por favor, não o provoque.
— Tudo bem — os dois dizem em uníssono, o que torna engraçado, me fazendo rir.
— Eu senti tanta saudade de ouvir o seu sorriso, minha querida — Ela vem até mim e me abraça. Ela se afasta e senta no espaço vazio ao meu lado — Agora me conte, quem é esse "ele" que vem te buscar? — Questiona seria.
— Ethan, você pode nos deixar a sós por alguns minutos? — peço e ele levanta andando em direção a porta, mas antes de passar por ela, ele para e diz:
— Estarei aqui fora, não se preocupe não irei ouvir a conversa. Estarei em ligação resolvendo tudo o que você irá precisar para sair daqui — e sem esperar a minha resposta ele fecha a porta. Com a sua saída o local fica silencioso, tanto que consigo ouvir o som do grilo friccionando as asas, olho para a Maria e percebo a expectativa em sua face, então respiro fundo e digo:
— É um pouco complicado. Eu não sei muito sobre ele. Parece loucura, mas Irmã é como se eu não precisasse, sabe?
— Não, minha querida. Eu não sei, por favor, tente me explicar.
— Eu não sei como explicar, eu só sinto. O Mason é misterioso, ele não é muito de falar sobre ele, mas as vezes não é necessário ele dizer nada, eu consigo lê-lo pelo seu olhar, os seus gestos... É loucura né?
VOCÊ ESTÁ LENDO
A mercê da maldade
ChickLitLuna é uma jovem que conheceu precocemente a maldade existente no mundo, mas especificamente a crueldade que existe dentro do ser humano. E em um dia comum a sua rotina muda e Luna não só vê como também é vítima da podridão do homem e diante de tal...