É estranho estar aqui de novo.
O ar não parece mais o mesmo. Ou sou eu que estou o inalando diferente de antes.
Já faz uma semana que estou enjaulada por paredes em tom de verde musgo. E admito que não queria minha liberdade desta vez. Porque eu sei o que vou encontrar lá fora.
E sei que vou me arrepender de ter voltado.
Encaro o espelho enquanto escovo o cabelo castanho e rebelde que faz cócegas em minha barriga desnuda.
A garota que vejo não está nenhum pouco empolgada. Mas a idiota ainda não se convenceu de que está a minutos de cometer mais um erro.
— Vicky? — ela se aproxima da porta fechada. — Está pronta?
— Quase — digo pegando minha camisa cinza.
— Posso entrar?
— Pode — permito após estar totalmente vestida.
Minha mãe abre a porta, mas fica parada lá por alguns instantes.
— O que foi?
— Ficou ainda mais linda — elogia vindo até mim. — Ele cresceu mais, como isso é possível? — pergunta acariciando minhas mechas onduladas.
— É só não cortar.
— Rabugenta — alfineta rindo. Ela parece distante ao deslizar a mão por meu cabelo. — Senti tanto sua falta... — sussurra ao me abraçar.
Inspiro fundo.
Também senti falta disso.
Esse cheiro de flor de laranjeira. O clima familiar e tranquilo. Os braços que estão sempre dispostos a me confortarem. Senti falta até das panquecas queimadas do papai. Mas é óbvio que ele não precisa saber disso.
— Me deseje sorte.
Ela sorriu triste.
— Tem certeza disso?
— Não.
— Então por que, amor?
Minha boca nem se abre.
O que eu diria? Que fui praticamente expulsa de Seattle?
Não. Ela não precisa saber.
Encaro seus olhos azuis, e me sinto angustiada. Sim, ela precisa saber. Mas não posso dizer como de fato tem sido minha vida nos últimos anos.
Ela suspirou assentindo.
— Tudo bem. Se você tem força o bastante pra vir até aqui, vai ter pra superar — assinto em concordância. — Mas me prometa, que se não conseguir mudar as coisas ou se adaptar a isso... vai embora.
— Prometo. Se der tudo errado. Eu sumo daqui e só venho no natal, como antes.
Ela me abraçou novamente, como se não quisesse me deixar partir jamais.
Só que eu tinha que ir.
Então peguei minha bolsa e me despedi com um beijo.
Cheguei aqui há sete dias, mas só meus pais tem essa informação. Isso porque vim em uma madrugada chuvosa, e com um ótimo capuz sobre a cabeça.
Entrei em meu carro determinada a ir para a guerra que eu mesma comecei. Dessa vez estou indo para decretar a paz que poucos querem aceitar de mim.
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Condenada a Viver
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