6. Pelo bem da Imperatriz

1.5K 144 5
                                    

Quando Lea lhe disse "Esse é seu castelo de agora em diante" na noite passada, Clarice pensou que ela estava falando algo do tipo "Agora você é a Imperatriz e esse castelo também é seu", mas não!

Assim que saiu do quarto que agora a pertencia ela notou que a estrutura do castelo diferia de antes, mais nova e não parecia ter uma poeira se quer em canto algum, todas as janelas estavam abertas dando vida ao lugar, clareando-o lindamente, quando anteriormente o castelo era gótico e bem escuro.

- Anne, o castelo está um pouco diferente... - Clarice comentou baixinho.

A serva olhou em volta confusa com a observação, ela rapidamente pareceu ter notado algo e então sorriu compreensiva.

- Não estamos no castelo imperial, sua majestade. - Falou a garota, fazendo com que Clarice ficasse mais confusa e estupidamente nervosa com o título.

Até alguém como Anne não parecia ousar chama-la de algo se não "Majestade" ou "Imperatriz". Clarice temia que talvez esses sejam o seu nome de agora em diante.

- A rainha a presenteou com um palácio assim que se casaram. - Anne começou a explicar. - Ele foi feito a quatro anos com o intuito de guardar as riquezas do reino nele, mas por algum motivo assim que saíram da cerimônia, sua majestade anunciou que você era a dona desse castelo de agora em diante. - Clarice sentiu seu sangue ficar frio de tão nervosa, perdendo um pouco a capacidade de respirar.

"Sua majestade é louca?" Pensou a Imperatriz chocada.

- Ele é tão grande e tão forte quanto o próprio castelo imperial e nele há muitas das riquezas da rainha e de todas as gerações da família real. - Anne continuou tagarelando sem notar a mulher ao seu lado ficando cada vez mais pálida. - Bem, hoje mesmo começaram uma obra para um novo castelo para abrigar as riquezas do reino... - A voz de Anne foi sumindo para Clarice.

A ruiva apenas ouvia seu coração bater descontroladamente em seus ouvidos enquanto caminhava lentamente ao lado da serva em direção a mulher insana que havia a presenteado com mais do que uma pessoa deveria ter.

"Isso é... muito!" Pensou a jovem completamente desconcertada.

~•~

Perto das nove horas, quando a carruagem que trazia Clarice finalmente chegou (o castelo da imperatriz tinha uma hora de distância do castelo imperial) Lea deu fim na maioria de seus trabalhos teóricos e agora caminhava para a sala de "jantar", onde Clarice a esperava.

- Ian, garanta que ninguém, nem mesmo Chloe vá entrar lá enquanto eu estiver conversando com a imperatriz, nosso assunto é pessoal. - Lea ordenou assim que chegou em frente as portas da sala de jantar, essas mesmas que os dois guardas parados na frente abriram para ela.

- Sim, vossa majestade. - Ian concordou e então as grandes portas se fecharam atrás de Lea.

A rainha rapidamente localizou a Imperatriz sentada na ponta da longa mesa (a cadeira que normalmente a pertence). A pequena mulher se ergueu rapidamente assim que ouviu as portas abrirem.

- Vossa majestade - Clarice saldou a rainha em uma reverência não muito elegante, tão atrapalhada que poderia ser levado como uma ofensa para a rainha. Era o esperado de alguém que nunca havia feito uma reverência.

- Imperatriz, não preciso que faça reverências para mim. - Lea respondeu, dispensando a cortesia da jovem com um movimento de mão.

Lea silenciosamente se pôs a sentar na cadeira ao lado direito da Imperatriz, não comentando sobre a ruiva ter sentado em sua cadeira.

- Sente-se, tenho coisas a tratar com a Imperatriz. - Lea pediu de maneira fria, mas não irritada. Tentava a todo o custo não assustar a pequena mulher que agora estava sentada na sua diagonal.

Clarice estava de cabeça baixa, sentindo o peso da presença da rainha perto de si.

- Em primeiro lugar, levante sua cabeça. Minha esposa não deveria se dirigir a mim com a cabeça baixa como uma serva. - Lea ordenou, e em uma velocidade vergonhosa, Clarice se viu olhando para frente e não para as suas mãos em seu colo. - Serei direta. Ao se tornar minha Imperatriz você se tornou um alvo, e ao julgar pelo seu comportamento submisso, um alvo bem fácil. - Começou, pegando um copo de suco natural no processo, líquido esse que ela havia escolhido para agradar o paladar da Imperatriz naquela manhã. - Como lhe disse na noite anterior, decidi ficar com você, por isso dei o meu mais seguro e lindo castelo que tenho entre todos os meus reinos para garantir sua segurança. - Explicou Lea, fazendo com que Clarice se sentisse estranhamente acolhida com tamanha preocupação vinda da outra mulher.

Lea pretendia continuar explicando seus planos futuros para um treinamento árduo que Clarice teria de passar para se tornar forte como ela, mas se calou abruptamente quando notou uma sutil tentativa da Imperatriz de falar.

- R-Receio que sou mais fraca do que qualquer mulher no reino, vossa majestade. Assim como minha pele pálida de mais, a falta de força física é uma das sequelas que tenho depois do tratamento para me tornar mulher fisicamente... - Clarice sussurrou, em momento algum olhando para o rosto de Lea, nem mesmo para o fabuloso café da manhã posto em sua frente.

Lea ficou em silêncio por uns segundos, ponderando se dar a ela um treinamento árduo ainda era uma opção.

- Quero que o povo pense que você é forte, para terem medo e não ousarem atacar você, mas pelo visto você não pode lutar muito bem... terei de mudar os planos. - Declarou Lea antes de tomar uns goles de sua bebida quase esquecida. - Você sabe atuar? - Perguntou de repente.

Clarice piscou os olhos algumas vezes tentando raciocinar o porquê da pergunta, mas apenas concordou com a cabeça quando lembrou que não deveria deixar a rainha esperando.

- Certo, te darei um papel para hoje a tarde. Por enquanto, desfrutemos de nosso café da manhã, majestade.

~•~

- Ian, hoje mesmo teremos um evento, chame todos os nobres e plebeus para a praça na capital. Hoje teremos mais leis a serem decretadas! - Lea ordenou assim que entrou em seu escritório, também conhecido como a biblioteca do palácio imperial.

Ela havia se despedido da Imperatriz a uns minutos, pedindo para que a jovem fosse até seu quarto no palácio e vestisse o vestido que Lea mandaria levarem para lá. Elas já haviam discutido o papel de Clarice, agora ela só precisava saber interpreta-lo.

- Se me permite perguntar... - Começou Ian, e parou esperando a confirmação de Lea que por surpresa veio. - O que a senhora pretende agora, sua majestade? - Perguntou o homem, levemente trêmulo.

- Ian, não fique nervoso, estou apenas garantindo que não precisarei casar com outra mulher e dar o título de Imperatriz a ela. - Respondeu à mulher com um sorriso malicioso, quase maldoso aos olhos do cavaleiro. - Apenas confie em mim, tudo o que estou fazendo é para o bem da Imperatriz. - Pediu Lea, levemente brincalhona.

Afinal ela não precisava da verdadeira aprovação de Ian, ela faria o que quisesse, quando quisesse. Ela ainda é a rainha no fim do dia.

A Imperatriz de Uma Rainha CruelOnde histórias criam vida. Descubra agora