Inconsciente

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Sinto-me sonolenta, enquanto tiro minhas vestes e me repouso em uma grande banheira com água quente, mal consigo sentir o calor em minha pele, eu já havia perdido as contas de quantas seringas de heroína haviam sido aplicadas em meu corpo, por um instante pude me sentir como um cadáver em decomposição, mas feliz por estar morto, afundei minha cabeça na água e tampei minha respiração, era como estar desacordada o mundo havia parado, até que decidi deixar a água entrar em meus pulmões, foi uma sensação anestesiante, por incontáveis segundos pude me sentir viva, até que tudo ficou escuro e em profundo silêncio.

— oh meu deus acorde, acorde Frida, não morra por favor

Ao abrir os olhos eu estava caída sobre os braços de minha mãe, que chorava apavoradamente, eu pedi perdão incontáveis vezes enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto, eu mal sabia oque estava fazendo, por um instante as vozes em minha cabeça aviam desaparecido, eu gostaria de estar naquela paz para sempre...

— "Se acalme eu estou bem"

Disse com a voz trêmula.
Levanto-me da banheira e caio no chão por estar totalmente sob efeito de drogas, eu mal sabia onde estava, vou até o quarto e encontro minha mãe dormindo... É parece que quem estava na banheira me salvando era mais uma de minhas alucinações idiotas, me senti inútil por mal conseguir morrer, comecei a vomitar e senti que todos os meus órgãos estavam saindo, mas a dor interna ainda era bem pior que isso.

Vesti uma roupa confortável e acendi um cigarro, me sentia podre, decomposta, imunda, eu estava morando sozinha, mas não tão sozinha assim, já que recebia sempre uma visitinha das malditas vozes e alucinações, e só aí que me toquei que minha mãe dormindo que havia visto no quarto também não era real, eu não sabia mais oque era real e oque não era.
Eu passava uma parte do meu tempo fumando e me drogando, e o resto do tempo eu passava bebendo doses e mais doses de álcool até passar mal ou me mutilava com diversos objetos.

Eu negava acreditar estar mal, já que meu senso de superioridade não me deixava acreditar nisso…
Decidi comprar uma arma pela dark web e chegou incrivelmente rápido, apenas a comprei para la aponta para minha própria cabeça ou ameaçar alguém de morte, eu tinha uma linda coleção de facas de várias cores e tamanhos, eu as usava para matar animais ou talvez um dia, pessoas, mas meu terapeuta me disse para não fazer isso, apesar de que ele é um idiota que merece morrer.

E olhando em minha volta pude perceber estar vivendo em uma situação deplorável, comidas podres por toda a cozinha, moscas por toda parte, garrafas de bebidas quebradas pela casa, sangue no chão por ter me cortado na noite passada e muitas outras coisas nojentas.
Mesmo sonolenta decidi arrumar tudo, deixei a casa um brinco.

Comecei a me olhar no espelho e apontar minha arma diretamente para mim

Vozes na minha cabeça:

— Você é uma vaca deplorável, eu deveria...

Eu não queria acreditar, a arma estava sem balas, começo a apertar o gatilho diversas vezes, e começo a rir muito de forma indagante e constrangedora.

— "Será que sou louca?"

Sempre me vem a mente desejos insanos relacionados a mim ou a outras pessoas, sinto que estou presa em um labirinto em que sou incapaz de sair, meus pensamentos me assolam e me fazem perder os sentidos.

— Como poderei viver se duvido de meus próprios instintos?

Eu não sei mais quem sou, e me lembro vagamente de minha infância, as vezes tenho pesadelos dessas memórias sombrias de abusos e torturas psicológicas, eu vivo o inferno dentro de minha própria mente, não consigo dizer em palavras o quão apática me tornei com o tempo e talvez isso não seja tão ruim assim. Quando as vozes não me deixam dormir eu gosto de ligar o rádio e ouvir músicas bem alto!

— Cadle Of Filth — Bathory Aria, essa é minha favorita!

Como amo ouvi-la enquanto canto e danço inconsciente no banho, me imagino nua em um palco com luzes coloridas apontadas para mim. Sinto-me envergonhada, mas segura por ninguém estar olhando, e quando a música acaba posso ouvir apenas as vozes me aplaudindo.
E eu simplesmente dou um sorriso alegre, porque para mim isso basta, não sou como os outros que vivem de dinheiro e status, estar inconsciente é tudo que preciso para viver.

No final daquele dia eu decidi que iria procurar um motivo para continuar viva, tive algumas ideias, o problema é que quando me relaciono com pessoas acabo colocando minha vida em perigo, isso me encanta, mas de qualquer forma já estou em perigo simplesmente por ter a mente que tenho, sério eu não me preocupo com isso, eu estou sozinha a tanto tempo que não sei mais como é ter uma companhia que não seja a minha, fico encantada com pessoas violentas, já tive vários relacionamentos com pessoas assim, que me maltratavam e me machucavam muito sabe, gosto de viver perigosamente, a adrenalina que flui em meu corpo, me traz uma energia incrível.
São momentos gloriosos que me fazem pensar que a vida é bela, o sofrimento é ardiloso, nocivo e apaixonante.
Uma vez uma pessoa me bateu até me deixar inconsciente, talvez isso seja o amor verdadeiro, pequenas demonstrações de carinho, quando eu estava inconsciente me deitei sobre o chão frio, e sorri profundamente, dei gargalhadas de alívio, cheguei a perder o fôlego e fiquei sem ar.
É como morrer e renascer mais forte, como é lindo ser amado, me entristece algumas pessoas dizer que isso não é amor, as pessoas são muito desprovidas para saber sobre isso.

Não tema ficar inconsciente de dor, você renascera belo e livre... E assim é a vida, pessoas que amam sofrem.

— mas quem disse que não há beleza nisso?

Na infância tive problemas com meu pai que era alcoólatra e me espancava.

— talvez ele queria dizer, que estava tudo bem (diferir) e que você é amada!

Não percebeu? Isso é um ciclo de emoções,
pessoas mais profundas que necessitam demonstrar seu amor.
Talvez ser manipulado, iludido, maltratado, seja o essencial, não deixe te dizerem que isso não é o amor.

— "Você se machuca porque se ama"

Disse a voz em minha cabeça…

Acredito que em algum lugar desse muito, existe alguém me esperando, ansioso para minha chegada, e eu irei encontrá-lo!

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