E eu sempre reflito à noite antes de dormir

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Provocações à parte, a semente da dúvida foi plantada com sucesso na cabeça do comissário, por isso quando Eren passou pela frente do escritório dele com o dossiê que Ceylin havia pedido, Ilgaz levantou-se às pressas e o chamou.

– Eren... dá um pulo aqui, por favor.

– Eu só vou levar isso para a polis Ceylin e já venho aqu... – com um puxão nada amigável, Ilgaz fez Eren entrar na sala dele e fechou a porta.

– Não posso esperar, preciso ver esse registro, entra aqui... – tirando o dossiê das mãos do investigador, ele começou a analisar as informações, sem saber exatamente o que estava procurando.

O que Ceylin queria saber, usando aquilo?

Os presos visitados eram peixes pequenos: dois batedores de carteira, um ladrão de padaria, alguns garotos que foram pegos vendendo drogas na porta da universidade... ninguém relevante o suficiente e a maioria liberada no mesmo dia ou transferido para o presídio durante a semana. Sua intuição estaria errada? A oficial tinha parecido tão suspeita ao não se justificar sobre aquele dossiê... mas também podia ter pedido o registro só para provocá-lo, o que não seria tão impossível assim: Ceylin havia tornado a gafe do primeiro dia em um assunto recorrente entre eles.

– Achou o que estava procurando, Sayın Komiser? – ligeiramente aborrecido com o rompante de Ilgaz, Eren queria se livrar daquele encargo antes que a policial aparecesse atrás dele e encontrasse Ilgaz bisbilhotando seu trabalho. O investigador sabia que eles acabariam se atracando pela delegacia a qualquer momento, mas desconfiava que não seria do jeito ruim.

– Não achei nada demais... sabe o porquê dela precisar dos dados desses imbecis? – Eren fez um gesto amplo de quem não tinha ideia.

– Algo que Metin Bey tenha pedido? Testar nossa burocracia? Ter um controle de quem frequenta a delegacia? Não sei, abi. – estendendo a pasta para Eren, Ilgaz acabou recuando no último segundo. – Ah ah, abi! Uff!

– Claro! Claro, eu sou um idiota! – o comissário revirou as folhas novamente, tirando fotos de algumas partes. – Procurei na lista sobre os presos, mas não entendi a relevância deles... – então Eren viu que a situação ia piorar rápido: Ceylin vinha pelo corredor, avistando-os juntos na sala do comissário.

– Abi, lütfen, me dê isso antes que ela entre! – fechando o dossiê às pressas, foi por muito pouco que Ceylin não os pegou em flagrante.

– Erencım, você conseguiu o que me prometeu? – ela olhou de um para o outro, cheia de desconfiança e Ilgaz manteve a expressão neutra, apesar de queimar por dentro.

– Já estava levando para você, canım, só precisei resolver algumas questões de última hora.

– É impressionante como aparecem questões de última hora no escritório do Komiser Kaya. – ela levantou a sobrancelha atrevida e Ilgaz teve vontade de mordê-la. O movimento era irritante e sexy, mas acendia os alertas errados nele.

– Como isso não seria possível então, canım? Komiser Kaya é um homem muito solicitado. Hadi, aqui está seu registro. Espero que faça bom uso dele.

– Sağol. – ela não queria falar nada, mas a suspeita foi mais forte. – Vocês parecem muito esquisitos hoje, Komiser Kaya mais do que o normal. – Ilgaz estalou a língua ao mesmo tempo que Eren, o que a fez rir. – Neyse, hadi bye bye.

– Bye... – Eren então se virou para o amigo, ainda reclamando. – Abi, assim você enfraquece nossa amizade! – Ilgaz teria rido se não estivesse olhando as fotos do documento para confirmar suas suspeitas.

– Você dá muita importância a essa mulher. – "Não é possível, como...?"

– Não posso me dar ao luxo de irritar a sobrinha do chefe, Ilgaz.

– E eu não acredito que depois dos trinta você resolveu ter medo de mulheres como ela... – "Então eu estava certo. O que está escondendo, Ceylin?"

– Ceylin não é uma mulher comum, abi.

– Tem razão, ela é um projeto de belzebu. Olhe isso. – o comissário estendeu o celular para Eren, depois de marcar um nome.

– Onur Durmaz. – cara de paisagem. – Onur Durmaz! O advogado dos Tilmen!

– Exatamente. O que o advogado da máfia estava fazendo visitando três garotos que não tinham onde cair mortos e porque Ceylin está interessada nisso?

~*~

Onur Durmaz, o advogado, era um reconhecido chacal nos corredores da promotoria e da delegacia de Istambul, responsável por lidar com a polícia quando os seus parceiros dentro da máfia eram pegos. Desagradável, debochado e inteligente, parecia refletir a versão masculina de Ceylin, Ilgaz pensou ao vê-los conversando da primeira vez. Agora, vendo as fotos do registro que ela havia procurado, o clima de intimidade entre a policial e o advogado o atingia de um jeito diferente.

Não podia mais negar que era uma espécie esquisita de ciúme antes e que agora tendia a ver tudo nebuloso por isso. Ele precisava esfriar a cabeça e investigar com imparcialidade porque Onur Durmaz estava ligado à missão que a gendarmerie lhe havia passado e ele não poderia arrastar Ceylin para o meio do furacão por ciúmes... suspeitas infundadas.

Mas era bem difícil.

"Abi, isso não prova nada.", Eren tinha dito mais cedo e Ilgaz ainda tentou deixar de lado, se concentrar no próprio trabalho acumulado, para então passar horas a fio puxando os dados disponíveis sobre Ceylin e Onur depois do expediente. Encontrar tanta coisa sobre eles, relacionando-os, é que foi uma surpresa desagradável. De amigos de infância a colegas de escola, namorados, faculdade de Direito juntos, noivos... "Mas que diabos?"

Parecia ter sido a milhões de anos, mas ainda assim, era um passado que estava às vistas de todos e que Ceylin não parecia fazer questão de esconder. Ter voltado para Istambul era também voltar para o antigo amante? Como ela podia se relacionar com um tipo que era mal visto por todas as instituições da ética e da honra?

– Ainda por aqui, Sayın Komiser? – recostada à sua porta, Ceylin parecia genuinamente surpresa de vê-lo trabalhando até aquela hora, espelhando-o.

– Pergunto o mesmo. – Ilgaz desligou o computador na velocidade da luz, mas não conseguiu esconder no rosto que estava incomodado com o que descobriu. – Uma fã de horários regulados ainda por aqui me parece...

Trégua, komiser, lütfen... – ela passou as mãos no rosto e entrou de vez no escritório dele. Ceylin não sabia o que a havia feito procurá-lo, especialmente naquele horário vazio na delegacia, quando justamente a ausência de pessoas a deixava desprotegida. Dela mesma, das barreiras que se impôs desde o primeiro dia, das próprias mentiras que usava para se manter afastada do comissário todas aquelas semanas. Ilgaz a encarava naquele momento como se despisse a sua alma e ela gostava.

– Estávamos em guerra? Não estava sabendo. – o comissário fechou a tampa do notebook e afastou a cadeira da mesa, dando espaço para que ela sentasse na ponta do móvel, de frente para ele. Não sabiam quem estava mais surpreso quando Ceylin se colocou lá, de fato, mas ali o clima mudou, esquentando, incitando a cometer erros, envolvendo-os.

– Não seja cínico. Sabe que não confio em você e a má impressão que deixou. – sorrindo ela parecia quase uma estranha. Os sorrisos dela nunca eram para ele, mas ali estava, como se fossem velhos amigos.

– Não confia no comissário da polícia de Istambul, sendo você a policial transferida a menos de dois meses? – Ceylin mal conteve uma risada alta e o movimento fez com que o joelho dele encostasse na coxa dela. O riso morreu. Tinha sido uma péssima ideia, uma ideia idiota, não deviam estar ali.

– Não confio em ninguém, Ilgaz, especialmente em mim. – eletricidade, fogos de artifício, trovões e relâmpagos.

– E por que está aqui? – naquela delegacia, na sala dele ou praticamente no colo de Ilgaz? Qualquer uma das respostas serviria ao comissário.

– Não sei. – olhando para o ponto onde se esbarravam, Ceylin fugiu, mas Ilgaz não iria recuar: a mão enorme e quente alcançou a pele da coxa, bem onde a saia se abria em uma fenda discreta e subiu, levando o tecido para cima no caminho. O olhar de um preso no outro, a trégua virando rendição.

– Resposta errada. 

Bir kadın/adam gelir PT BROnde histórias criam vida. Descubra agora