Aquele mês de abril era o último suspiro de um inverno que se demorava em ir embora para ceder espaço à primavera, mas na casa dos Erguvan Kaya todos já estavam rendidos a ela: Pınar corria atrás de Kaan com suas perninhas gordinhas e as chiquinhas balançando, desviando perigosamente dos brinquedos espalhados pela casa.
A mesma casa em que Ilgaz, o ex-chefe da gendarmerie turca, foi confundido com um mendigo e descobriu o amor da primeira filha.
A mesma casa em que, casados a pouco menos de cinco meses, deram as boas vindas ao menino de olhos verdes e jeito calmo como o pai.
E por fim a mesma casa em que, depois de dois anos de casados, recebiam a pequena espoleta que parecia reunir o melhor dos dois genitores.
— Defne, ponha os pratos na mesa, por favor. Kaan, tire pelo menos os Legos do chão, você pode tropeçar com Pınar. – ele dizia, enquanto tirava o jantar do forno, esperando a esposa chegar da delegacia. Foi um choque para todos em Istambul ele ter voltado do caso mais espetacular da carreira como chefe da gendarmerie apenas para entregar o lugar, sete anos antes.
"Isso é um absurdo!" – a mãe havia bradado.
"Você tem certeza disso?" – Yekta parecia um pouco desapontado.
"Vai nos visitar às vezes?" – Eren era o que parecia genuinamente feliz.
— İyi geceler, baba. – com fones de ouvido de gatinho cor-de-rosa e quinze anos, Defne desceu para ajudar o pai a colocar a mesa do jantar, sabendo que aquela era a hora em que ele pegava seus irmãos para o banho.
— İyi geceler, kuzum, terminou seu trabalho de casa?
— Evet. Acho que minha mão vai cair de tanto escrever. – Ilgaz sorriu, arrumando a comida em cima da mesa e depois secou as mãos para enfrentar seus leõezinhos, que costumavam fazer manha para não pararem de brincar.
— Termine aí por mim, taman? Vou começar a saga do banheiro.
— Boa sorte, baba. – podia parecer loucura para qualquer um ele ter "desistido" do cargo na polícia especial da Turquia, mas não para ele, não quando ele estava no santuário que havia construído para si com Ceylin. Não quando abraçava os filhos que tinham e os colocava para tomar banho, mesmo sob protesto e precisando ameaçar tirar a sobremesa para que recolhessem os brinquedos espalhados na casa. Não quando a ouvia gritar que havia chegado no andar de baixo e depois aparecia na porta do banheiro, com um sorriso resplandecente e um olhar apaixonado.
— Aslanım, – um beijo no cabelo molhado de Kaan – kuzum, – outro no cabelo molhado de Pınar – canım kocam. – outro no sorriso apaixonado do marido. – Senti cheiro de pilaf, é o nosso jantar?
— Evet. Pode tomar banho, já acabamos aqui.
— Não vou demorar. – ela desceria em alguns minutos, cheirando a sabonete de flores que gostava e cheia de coisas para contar. Eles jantariam e colocariam as crianças para dormir. Depois conversariam bobagens e fariam amor boa parte da noite.
Não, ele definitivamente não era louco por ter deixado Istambul e a solidão de anos para se estabelecer como professor da academia de polícia de Mardin, onde Ceylin havia criado raízes com a família. Claro que Ceylin havia protestado, gritado, esperneado, chorado.
— Antes de dizer que não, me escute! – ele havia pedido. – Não estou perdendo nada, meu amor. Estou ganhando... ganhando você, ganhando nossa filha! Depois de tudo o que você passou, depois de tanto que vivemos até estarmos juntos de novo, não é justo tirar você do lugar que te trouxe uma vida normal com Defne, te afastar do que você conquistou com tanto esforço.
— Mas e você? E a gendarmerie?
— Sem você, não tem valor algum. – não olharia para trás, para o passado cinzento e vazio porque o futuro agora tinha cor, um pouco de caos e ternura. Tinha seus filhos, sua casa, uma profissão que amava e ela.
A mulher que veio e mudou sua vida, como água mudando a forma de um coração que antes era de pedra.
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Bir kadın/adam gelir PT BR
FanfictionEle era o chefe de operações de uma organização policial que investigava corrupção dentro da instituição, e ela era um dos principais suspeitos do esquema. Depois de usar todas as armas para proteger seus segredos, incluindo a sedução mútua, os cami...