𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟏

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Iria fazer um ano desde que você havia se mudado do Brasil para o Japão, você desejava que o motivo fosse igual aos livros que você ia pra cima e pra baixo lendo, que se mudaria para a mansão de sua tia rica e encontraria seu artista favorito na esquina ou ficaria extremamente popular na escola de uma hora para outra e viveria seu sonho de Regina George.

Mas foi ao contrário, você se mudou porque seus pais se separaram por traição por parte de seu pai, quando aquilo aconteceu a importância de ser mãe caiu pra você dessa vez, foi a primeira vez que você pôde sentir o que era colocar o bem estar e prioridades de alguém acima de você, substituir seu sono pelo sono de alguém, o que era o amor que os poetas tanto descreviam. Você descobriu, sentiu, como era ser Mãe da sua Mãe.

Eu não sou jovem demais para isto?  Você se perguntava.

Sua chegada no Japão e na escola não foi muito estranha pra você, até porque sua mãe era japonesa e fazia questão de que você soubesse tudo sobre as tradições e a língua japonesa. Além do mais, você já esteve no japão para visitar seus avós, mas você era muito criança.

Entretanto, para os japoneses nativos era diferente no seu sotaque, na sua forma de portar tão brasileira, principalmente na escola. Era estranho para os seus colegas verem que você considerava um encontro perfeito apenas pagode e churrasco, e adorava usar chinela havaianas.

No começo foi difícil fazer amigos, mas pelo menos duas você conseguiu e elas eram o principal motivo de você ir pra escola. Emma Sano e Hinata Tachibana, as que te acolheram e de verdade ficaram empolgadas ao souberem que você era de outro País. Até mesmo passaram a frequentar alguns churrascos que seus avós e mãe faziam, a cultura brasileira era viva na sua família pela paixão sua e do seu avô pelo Brasil.

Deu pra ver os pontos bons e ruins já, né? Enfim, viver é bom.

Você estava tomando café e debulhando um saboroso pão com mortadela com seu avô, sua avó insistia para que você comesse mais, por mais que aquele café e pão parecessem ter só forrado seu estômago você não podia, porque estava em cima da hora.

— Tenho que ir, ojisan. — Você correu ao banheiro para escovar os dentes e fazer suas outras coisas antes de sair apertando o passo para a escola.

No brasil, você teria debulhado pelo menos 3 pães, se arrumado um pouco mais e mesmo que chegasse atrasada não se meteria em tanta encrenca porque todo mundo chegava atrasado numa escola do Brasil. Era só culpar o ônibus (o que podia ser verdade) ou simplesmente inventar uma boa história, sobre inventar uma boa desculpa, brasileiros eram tão craques quanto o Neymar fazendo gol (ou caindo no meio do jogo por 0 motivos).

Mas não, você estava no japão onde as pessoas eram rigorosas e educadas, mas felizmente você podia xingar vez ou outra que ninguém entenderia mesmo.

O dia seguiu normalmente, aula, intervalo, aula, trabalho. TRABALHO? COM OUTRAS TURMAS?

Ah, não. Não foi isso que eu pedi.

— S/N, nós tentamos falar com a professora de ciências sobre fazermos em trio, mas... — Emma começou, nervosamente, mexendo nos dedos olhando desesperada para que Hinata continuasse a notícia.

— A professora entendeu errado e te botou com um aluno novo. — Hinata continuou, antes que você pudesse dizer algo.— Não queríamos que você se sentisse de fora nem nada! Ela não deu chance sequer de você fazer dupla comigo e a Emma com o aluno novo.

— Mas que diabo de aluno novo é esse, boy? De que ano ele é?

— Não sabemos de que ano ou quem ele é. — Emma disse, seu nervoso passando por perceber que você não se sentia excluída.

— Se não for alguém legal, você pode falar pra professora trocar sua dupla.

— Mas vai ser legal, sim. Mete um moleque doido pra fazer trabalho comigo que ele se endireita rapidinho. — Você bebeu um pouco da sua água na garrafa. — Comigo não vai ter enrolação, não, fi.

— S/N, eu racho demais com você. — Hinata disse caindo na gargalhada, Emma logo caiu e você também. As risadas foram interrompidas pelo sinal que era tão suave ao que você ouvia no Brasil. — Ah, é. Agora tem clube.

— Vocês escolheram qual? Eu escolhi o de teatro, acho que vai ser divertido. — Emma sorriu, ela era tão doce assim como Hinata.

— Eu escolhi o de culinária. — Hinata disse, era a cara dela.

— Menina, peguei logo o de vôlei que desconto todo o estresse até minhas mãos ficarem roxas de tanto que eu vou bater naquela bola. — Você disse dando uma olhada na bolsa, conferindo se seu uniforme de vôlei feminino estava lá.

— Bacana, então. Até mais! — Você se despediu de suas duas amigas e seguiu rumo ao vestiário, e de lá a quadra.

O que você não esperava era ter de sair da quadra até o outro lado da escola atrás da merda de bola de vôlei que por algum motivo estava na sala dos professores e a consagrada sala ficava onde judas perdeu as botas.

— Que merda, hein. — Você andava xingando mentalmente, quando viu um garoto de cabelos negros com algumas mexas loiras no final do corredor.

Caramba, que gato. Espero que não olhe nem fale comigo.

Você seguia olhando pro chão, tentando não parecer alguém que estava impressionada por ver um garoto tão bonito logo na sua escola, você nem sequer percebeu os dois garotos com as pernas quebradas que o seguiam.

— Aí. — Ele falou.

Sabe quando alguém acena pra você do outro lado da rua e você prefere ignorar e fingir que não foi com você do que se enganar porque era pra alguém atrás de você? Então, já havia acontecido com você.

— S/N? — Soava mais como uma pergunta do que como alguém te chamando.

— Eu. — Você se virou, a tatuagem no pescoço do garoto não era algo que te impressionava, você já havia conhecido um monte de mandrake na vida.

— Ah, então é você com quem vou fazer o trabalho. — Sua voz parecia serena e gentil, pra alguém que tinha dois amigos de pernas quebradas o seguindo pra lá e pra cá.

— Tu é o aluno novo, é? — Você botou as mãos na cintura olhando melhor o garoto.

Gato por bosta.

— Sim, Kazutora Hanemiya. — Ele sorriu gentilmente de novo. — Você não deve ser daqui né? Que legal fazer trabalho com alguém do exterior. — Ele sorriu para você de novo e se virou. — A gente se vê por aí. 

— É. — Você se virou indo atrás da bola de novo. — Deve ser daquele tipo que do nada puxaria uma 38 da mochila. Mas meu Deus moleque gato do caramba, parece até tentação. — Você pensava alto.

Depois da escola você tinha tempo para comer um pão de queijo na única padaria com comidas brasileiras na região e relaxar um pouco antes de surpreender sua mãe com alguma guloseima gostosa para vocês comerem após ela sair do trabalho de escritório. Ela sempre te xingava porque queria emagrecer e você não deixava a mimando desta forma. Sua música tocava tão alto em seus fones que faziam você viajar entre cenários imaginários e provavelmente nunca aconteceriam, mas e daí? Era melhor se iludir com coisas que nunca iam acontecer.

Você só não tinha notado Kazutora, seus subordinados e Takemichi passando na rua.

Exagerado - Kazutora HanemiyaOnde histórias criam vida. Descubra agora