Capítulo 4

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Depois do fatídico acontecimento do dia anterior, Sakura estava se saindo muito bem em ignorar os telefonemas de Naruto e Hinata e os olhares inquisidores de Sarada. Tentou fazer o possível para não estragar o dia da filha, mas também sabia que nada nem ninguém a faria sair de casa novamente aquele dia, portanto pediu comida para o jantar. Assistiram a um filme juntas e passou a mão nos cabelos de Sarada até que a mesma dormisse em seu colo.

Desde que saiu da academia e arrastou uma Sarada completamente confusa para casa, Sakura se sentiu tão exausta que nem parecia uma médica plantonista. Seus ombros estavam pesados e os punhos tensos. Sabia que não poderia continuar desse jeito e por isso tomou um banho longo e quente para tentar relaxar após colocar Sarada na cama. Mas nada adiantou. Passou a noite inteira rolando de um lado para o outro, pensando nos últimos acontecimentos e com o coração apertado por tanta pressão das variações de humor daquele dia.

Enfim desistindo de tentar dormir, levantou-se e fez um chá, ao receber os primeiros raios de sol da manhã, que repousavam na mesa redonda com apenas duas cadeiras desocupadas, como sempre fora. Sua mente maléfica automaticamente inseriu a imagem de outra pessoa sentada, ao lado dela e de Sarada durante uma refeição. Seus olhos queimaram mas ao mesmo tempo sentiu a adrenalina fluir por seus punhos. Era incrível a linha tênue entre sentimentos bons e ruins quando se tratava dele.

Sentou-se a mesa com a xícara quente e ficou olhando para um ponto qualquer. Ainda não conseguia processar o que estava acontecendo, sentia apenas dor. Não queria ver Sasuke, nem Naruto e nem Hinata. Sentia-se traída e negligenciada. Durante a noite ficou tentando pensar em motivações para Sasuke estar na vila depois de dez anos sem saber de seu paradeiro. Tentou pensar no porquê Naruto lhe escondeu que o companheiro de time estava na vila, quando ela mesma foi o questionar. Tentou decidir o que fazer com tudo aquilo e sobretudo tentou pensar no que falaria a Sarada. Porém Sakura não chegou a nenhuma resposta para nenhuma daquelas perguntas. Tudo o que conseguira fora olheiras enormes e um travesseiro encharcado de lágrimas.

- Bom dia, mamãe. – Sarada apareceu coçando os olhos por debaixo dos óculos, bocejando – já está acordada?

- Bom dia amor. Lhe pergunto o mesmo. Caiu da cama? – olhou de cenho franzido para os pés descalços de Sarada no chão frio.

- Não consegui dormir direito. – a pequena colocou as mãos para trás desviando o olhar

- Tudo bem, vá colocar meias, faço um café para você.

Não esperando a resposta da filha, se levantou e acionou a cafeteira ao se dirigir para a bancada e preparar ovos mexidos. Quando tinha tudo pronto encontrou Sarada sentada na cadeira ao lado onde estava, olhando fixo para algo fora da janela, com os sharingan ativados. Sakura parou ofegando com o prato e a xícara na mão, e quando piscou, os olhos de Sarada estavam normais. Estava ficando insana, pensou. Colocou tudo com cuidado a sua frente e rapidamente viu sua expressão mudar, fazendo-a rir.

- Com fome?

- Hai! – respondeu-lhe, atacando os ovos. – cadê os tomates?

Sakura pigarreou tentando parecer indiferente.

- Irei comprar mais hoje, prometo.

- Mas tem vários!

- Ah é? – se fez de desentendida. Estava evitando qualquer coisa que a fazia lembra-lo, por isso jogou todas as verduras no fundo da geladeira. Se isso a tornava infantil, que assim fosse. – Não reparei.

Sarada pareceu querer retrucar, franzindo a testa e formando um bico quando foram pegas pela campainha.

- Quem deve ser tão cedo? – murmurou para si mesma se dirigindo a entrada.

Calçou suas pantufas e abriu a porta por um milésimo de segundo antes de voltar a fechá-la, ou pelo menos tentar.

- Sakura! Espera, precisamos conversar! – Naruto colocou um ombro entre a porta, impedindo-a de fechá-la. Estava vestido com o uniforme de hokage e segurava um pequeno pacote nas mãos.

Antes que Sakura pudesse responder, Sarada intrometeu-se da mesa.

- Mamãe, é o sétimo? Porque não deixa ele entrar?

Malditos genes curiosos. Amaldiçoou a si mesma.

Encarou o loiro, com aquele olhar conhecido de quem se preocupava com seus amigos mais do que qualquer coisa. Sua camisa estava um pouco amassada e suas sobrancelhas estavam franzidas, sua postura corporal não parecendo nada com a de um líder naquele momento. Sakura reparou que talvez não houvesse sido a única e não dormir direito aquela noite.

Respirou fundo e abriu totalmente a porta, mas ainda colocando seu corpo a frente.

- Naruto, não quero conversar agora. – falou no tom mais baixo que desse para escapar de Sarada e que o amigo ouvisse. – Você mentiu pra mim.

- Não! Por isso precisamos...- vendo a expressão da amiga a sua frente, bufou frustrado – Vamos tomar um café, eu posso explicar tudo. Tenho certeza que você vai entender.

Sakura olhou para Sarada atrás tentando ouvir o que falavam fingindo prestar atenção em sua xícara de café. Suspirou tentando clarear a mente e dissipar tudo o que estava sentindo naqueles dias. Avaliando ao simples convite, dirigindo-se a sua faceta racional, analisou todo o contexto, como se estivesse de volta as provas teóricas que já havia feito.

Tudo o que mais temia na vida era ser levada pela mágoa e pela imprudência, e não era hoje que gostaria que isso acontecesse, por mais quebrada que estivesse. Podia ser uma garotinha chorona durante a noite, podia estraçalhar tomates fingindo ser a cabeça de Sasuke as escondidas, mas decidiu ser superior. Decidiu se posicionar. Ser o contrário dele. Iria enfrentar o que fosse para proteger Sarada. E admitia para si mesma, que não aguentava mais querer Sasuke tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Estava ficando louca e se sentia patética o tempo inteiro. Como se já não tivesse vivido o suficiente por ele todo esse tempo. Como se já não houvesse se tornado miserável por ele durante anos, a sua espera. Aquele ciclo precisava acabar.

Não sabia de onde havia tirado tal motivação, mas sabia que se precisava acabar com algo, precisa começar e cortar pelas raízes.

- Tudo bem. Fale com seu amigo. Nos reuniremos no Konoha Coffee ás 11h. – respondi cruzando os braços.

Naruto pareceu entender de quem eu falava mas isso não o impediu de arregalar os olhos.

- M-m-mas Sakura-chan...tem certeza?

- Até mais tarde, Naruto. – me despedi fechando a porta na cara do hokage.

- Mamãe?

- Sim?

- O que está acontecendo? – Sarada levantou-se de sua cadeira levando a louça até a pia.

Sakura pensou rápido a cerca de não levantar suspeitas.

- Naruto e Hinata esconderam de mim que ela queria ajuda para cursar ninjutsu médico. Me senti meio ofendida...Mas já está tudo bem. – tentou seu melhor sorriso de lado sem deixar seus lábios tremerem. Já ia se dirigindo para dentro para trocar de roupa e ir ao encontro desagradável quando Sarada a chamou.

- Hm. Mamãe, eu...queria te perguntar uma coisa. – Sarada terminou de secar a xícara e virou-se apoiada ao balcão, com os olhos semicerrados e uma expressão de matar qualquer um em pressão. Sakura limpou suas mãos suadas no vestido.

- Aquele homem de preto que apareceu ontem na academia. Ele é o meu pai? 

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