Capítulo 7

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O sol escaldante passava pelo vidro da janela esquentando o corpo de Sasuke que afastou as cobertas grunhindo em reprovação. Com isso acabou despertando de seu sonho, que se encontrava na melhor parte, Sarada estava correndo em sua direção e ele estendia os braços para pegá-la. Desistindo de voltar para o sofá, decidiu tomar um banho e tirar o suor do corpo. Podia ouvir os ruídos da família Uzumaki no andar abaixo. Trancou a porta e levou roupas limpas ao banheiro entrando debaixo do chuveiro gelado. Fechou os olhos sentindo a enxurrada gelada cair por suas costas e encarou seu braço artificial.

Quando perdera o membro, e voltou a vila para pagar por todos os seus crimes, mesmo assim lhe sendo oferecido uma prótese igual a de Naruto, ele pensara que seu recomeço seria adaptar-se com o que tinha. Lidar com as consequências de seus atos. Recusara a ajuda e quase não teve dificuldade em continuar seus treinamentos, pois era ambidestro. Em batalha isso se provou não ser um empecilho também. Somente quando Sakura foi atrás dele em uma de suas viagens, admitiu com dificuldade que definitivamente seria incrível ter os dois braços de volta.

Foi apenas quando depois de ir embora novamente e pode voltar dessa vez, decidiu ir até Orochimaru e lhe pedir uma prótese. Karin ajudou a fazer o transplante e a adaptação das células. Ajudou-o com a fisioterapia e aos novos treinamentos para fortalecer o novo membro. E foi assim que na teoria, voltaria inteiro para elas.

Agora, parecia algo tão pequeno. Tão insignificante. Se sentia mais inseguro do que nunca. Chegava a ser irônico. Agora que o tinha de volta e podia tê-las novamente de forma completa, pareciam longe demais para alcança-las com seus braços.

Agachou-se no box com o rosto coberto pelos fios negros encharcados. Queria conseguir encontrar o sentido de tudo aquilo, de tudo o que fizera para chegar até ali se ainda não conseguira atingir o principal objetivo. Não sabia o que o fez desistir e dar meia volta em direção a Naruto aquela noite. Ficara por dias naquele sofá olhando para o teto como se houvesse perdido o movimento de todo o seu corpo. Não conseguia focar em nada e parecia que toda sua força física havia se esvaído. As vezes ativava seu sharingan para checar se ainda havia chakra. Se estava vivo. Se tinha poder. Sentia-se tão miserável e esdrúxulo que mal tinha consciência de si mesmo. Dormiu como nunca, passava horas em sonhos profundos e insuportavelmente desejosos. Acordava angustiado e atacava uma das garrafas que Naruto escondia de Hinata na última gaveta da escrivaninha. Quando mal conseguia enxergar um palmo a sua frente, deitava novamente e o ciclo se repetia.

Mas hoje, por algum motivo, teve vontade de reagir. Saiu do banho e ficou olhando o espelho úmido calculando seus próximos passos. Talvez fosse egoísta de sua parte, mas já havia voltado atrás, várias e várias vezes. Não desistiria agora. Sua decisão estava tomada, só lhe faltava coragem, o que nunca achou que fosse possível. Não hesitou em atacar Sakura por trás ao tentar mata-la friamente, mas estava aqui dessa vez, morrendo de medo de enfrentar os olhos verdes impetuosos. Ou pior, os pequenos olhos idênticos aos seus.

Tentando deixar os ressentimentos passados para trás, pensou calmamente como faria. Se aproximar de Sakura estava fora de questão no momento. A mulher estava completamente tomada pela mágoa, não que não estivesse com razão. Mas ainda não era o momento. Sasuke sabia muito bem quando era a hora de dar espaço. Tentar algo com Sarada também não era viável, uma vez que a menina não o reconhecia e não podia simplesmente chegar e conta-la que era seu pai, aquele que a deixara. Não intencionalmente, claro, mas não seria relevante para uma criança de doze anos. Fora a ameaça direta de Sakura, que Sasuke não duvidava nem por um segundo que dessa vez, a mesma teria coragem de cumpri-la.

Já vestido, balançou os cabelos em direção ao sol para que secassem mais rápido. Através da janela olhou Boruto no jardim ajudando Himawari a cavar uma muda perto de um canteiro. Boruto parecia ser próximo de Sarada. E já que prometera ser o sensei de seu pseudo sobrinho, poderia aproveitar-se um pouco de algumas situações. Encarou o relógio acima da porta do escritório. Sakura muito provavelmente estaria em seu plantão naquele momento.

Abriu a porta e desceu as escadas, com seu estômago ronronando em resposta ao cheiro delicioso de ovos fritos e café.

- Finalmente, bela adormecida. – Naruto o encarou com a boca suja de ovos.

- Bom dia Sasuke-kun. – Hinata lhe ofereceu um sorriso gentil enquanto despejava café na xícara do marido. – Servido?

Sasuke corou como todas as vezes em que a mulher lhe oferecia comida, estava começando a incomodar-se em sua estadia longa. Os Uzumaki eram receptivos, não esperava menos de seu melhor amigo e esposa, mas mesmo assim sentia-se incomodando. Porém, quando foi atrás de sua antiga casa no distrito do antigo clã Uchiha, descobrira que todo o terreno estava sendo revitalizado. O apartamento emprestado cedido por Kakashi quando voltava a vila de vez em quando, fora vendido, já que o antigo hokage não tinha notícias de seu paradeiro. Já a casa que construíra junto com Sakura um pouco antes de Sarada nascer, e cuja as mesmas habitavam, obviamente, estava fora de cogitação.

- Não precisa ser tímido. Você é da família. – Hinata afastou uma cadeira em um convite silencioso.

- Obrigado.

Foi-lhe servido um prato cheio e uma xícara generosa de café. Comeram e beberam em silêncio por um tempo, apenas ouvindo as vozes abafadas de Boruto e Himawari no jardim.

- O que vai fazer? – Naruto se pronunciou

Sasuke encarou o loiro a sua frente e engoliu a última garfada de seu prato.

- Treinarei com Boruto. Tudo bem por você?

Naruto franziu as sobrancelhas e abriu a boca começando a dizer algo, mas pareceu desistir, bufando.

- Não, nenhum. Tenham cuidado. Bom, preciso ir. – afastou a cadeira e se levantou - Obrigada pelo café Hina. – o loiro deixou um beijo casto no topo da cabeça da esposa e gesticulou para que Sasuke o acompanhasse.

- Obrigada Hinata. – recebeu outro sorriso gentil da morena enquanto repousava sua xícara a mesa e seguia o hokage para fora da casa.

- Ei, Boruto. Sasuke vai treiná-lo hoje.

- Sério?? – o mini Naruto sacudiu as mãos de terra e deu um beijo na bochecha de Himawari. – TCHAU MÃE! – berrou ao lado de Sasuke que grunhiu com o barulho do nanico. Que genética. – Vamos, Sasuke-san. Os caras ficarão se mordendo quando eu chegar com o senhor na academia.

Apesar da irritante empolgação do garoto, Sasuke sorriu. A academia era perfeito. 

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