𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟑

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Os dias se passavam e era rotina que Kazutora e você se vissem pelo menos uma vez por dia, e que pelo menos 10 vezes ele tentasse te irritar e conseguisse, fazendo com que você o xingasse, e quando você estava prestes a descer o tapão no braço dele, você o xingava em português mesmo, se ele continuasse era o tapão no braço, e depois? Ele não ousaria mais te irritar.

— Kazutora, você não pode botar culpa nesse tal de Mikey toda vez que você escreve uma palavra errada. — Kazutora sentava ao seu lado em uma mesa da biblioteca pública, a mesa estava minimamente organizada com todas as coisas de trabalho que vocês tinham levado.

— Por que não? — Você colocou uma das mãos na cintura e deu aquela olhada de mãe prestes a jogar o chinelo na fuça do filho.

— Garoto! Nem sempre a culpa vai ser de alguém, às vezes as coisas dão errado na nossa vida para que outras deem certo, é normal ter uma pedra no caminho, a gente apenas decide se vamos tropeçar, chutar ou simplesmente ignorar a pedra, nunca sabemos afinal, se essa pedra esconde um diamante dentro ou alguma coisa histórica. — Ele te olhou por alguns segundos, pensativo, e então quando olhou para a mesa seus cabelos caíram em seus olhos. Kazutora finalmente te contou.

Com o olhar baixo e as mãos nervosas, ele contava para você porque havia sido preso, como na cabeça dele a culpa era realmente desse tal de Mikey e o quanto ele queria se vingar, ele parecia ter medo de você achar ele um lunático mas sua sede de vingança era maior. Sua garganta guardava um nó enorme e você queria chorar por ele, você queria dizer a ele que botar a culpa em alguém não era uma forma de superar e segurar uma enorme merda que você fez. Mas as palavras mal saiam da sua boca, você só sabia que Kazutora não havia perdido sua sanidade totalmente por causa de Baji.

Você agradecia mentalmente esse tal de Baji.

Kazutora estava vulnerável na sua frente, você não sabia quando vocês ficaram tão próximos, você ainda não entendia.

Você pegou os fones e o seu telefone, encaixou o telefone e colocou um fone em si e o outro no ouvido de Kazutora, que se assustou com seu toque que era sutil e angelical, há quanto tempo ele não recebia um toque gentil assim?

— Essas são minhas músicas favoritas. Elas sempre me trazem de volta ao normal quando não me sinto eu mesma.

Ele não disse nada, apenas observava cada coisa que você fazia espantado, a última pessoa que havia confiado nele para se abrir era Baji. Agora, em seus ouvidos tocava Stargazing de The Neighbourhood. Você esboçava seu sorriso mais gentil para Kazutora, e quando você voltou sua atenção para o trabalho, os olhos de Kazutora se enchiam de água, o que ele tinha feito para receber um ato tão gentil? Ele se sentia culpado de ter recebido algo bom, ele não achava merecer coisa alguma.

Mas você havia despertado algo nele, ele precisava retribuir sua boa ação.

Após finalmente terminarem o trabalho e começarem a guardar as coisas, ele se virou para você.

— Você não tem medo de andar de moto, tem?

— Nunca andei, não. Mas sempre via uns cara dando grau na frente da minha casa ou era um RAN DAN DAN DAN em plena madrugada. — Seu jeito de falar o fazia rir. — Mas por quê, hein? — Ele apenas te encarou com um sorriso sapeca nos lábios. — Kazutora Hanemiya. SENHOR Kazutora Hanemiya. Você NÃO ouse dar grau nesta moto comigo em cima.

— Tudo bem, prometo.

Ele cruzou os dedos sem você ver.

Vagabundo.

— MINHA NOSSA SENHORA DESACELERA ISSO KAZUTORA — Você berrava em português agarrada aos ombros do garoto. — KAZUTORA PELO AMOR DE DEUS!

— Eu não entendo uma palavra que tu tá falando, mas você devia parar de berrar e olhar essa vista! — Ele disse e enquanto vocês passavam por uma ponte você podia ver as luzes de Tóquio iluminando a noite, com o vento em seu rosto e cabelos você sentia estar voando, e com a vista de milhares de luzes que pareciam formar um céu na terra, a sensação era aumentada. Você nunca tinha sentido algo assim, não havia palavras suficientes para descrever a sensação de estar ali, voando com Kazutora.

— Isso é tão lindo...— Você disse quase sem fôlego ainda tão admirada.

— Você tem algo assim no Brasil?

— Só quando pegávamos alguma rodovia, mas era de carro e eu tinha medo de abrir a janela. Mas isso aqui...de moto. Sinto como se estivesse voando. — Havia um brilho em seu olhar, você não queria sair daquele momento, mas a próxima vista era linda também. Quando vocês pararam no semáforo e os prédios altos e pessoas passando pra lá e pra cá te lembrava a times square que você via em filmes, era seu sonho ir para lá.

Pelo espelho, Kazutora via seu olhar brilhando, e algo em seu interior mudou.

Você também sentiu algo mudar em você, no mesmo instante.

Foi como um fio que ligasse vocês dois e uma faísca passasse dando choque. Você estava maravilhada demais para perceber que ainda estava agarrada aos ombros do garoto.

Isso foi no dia 30 de outubro.

Exagerado - Kazutora HanemiyaOnde histórias criam vida. Descubra agora