(N/A): sim vai ter lágrimas por isso já meti foto engraçada pra amenizar, kazutora cacho de banana ambulante
30 de outubro.
Quando Kazutora te levou para casa naquele dia, ele desligou a moto, esperando que você entrasse em segurança, mas você sentia como se fosse a última vez que o veria, talvez fosse porque vocês finalizaram o trabalho e não precisariam mais obrigatoriamente se ver ou se falar todo dia, de alguma forma era a sua parte favorita do dia e a mais animada. Como isso aconteceu?
Você caminhava lentamente para a porta, mas então parou e se virou, ele ainda a olhava.
— Acho que vou começar a te chamar de Kazuza.
— Hã? — Ele te olhava confuso.
— É um cantor brasileiro, eu adoro a música Exagerado dele.— Você compartilhou outro pedaço de você.
— Deve ser uma música linda. — Seu olhar se suavizou, e você não conseguia mais quebrar o contato visual daquelas íris mel.
— É sim. É engraçada a forma que cada exagerado é merecedor de uma coisa muito boa na vida. — Ele ainda te olhava atentamente, sabendo que você continuaria sua frase. — Um amor. Essa música sempre significou isso na minha interpretação, nunca soube porquê. Doideira, né?
— É um significado bem maneiro. — Ele tentava segurar o quanto o que você tinha dito significava algo para ele. Significava que ele podia ser feliz ainda. Que podia merecer algo bom. Que podia ser exagerado. — Aprendi uma coisa esses dias. — Ele rapidamente mudou de assunto.
— Aprendeu a lavar cueca na mão e sozinho?
— Isso eu não aprendi ainda.
— KAZU—KAZUTORA VOCÊ CRIE VERGONHA NA CARA. Quantos anos? Quantos? 15 né? — Ele chorava de tanto rir. — Tá rindo do que, palhaço? Vai ter mãe a vida toda pra lavar cueca pra tu, não. Te orienta e toma rumo garoto, eu hein.
— Eu aprendi uma musiquinha em português.
— Ih, alá tomou rumo mesmo. Canta pra mim, vai Kazuza.
— "É qui oji vai te fextinha aki dentru do meu barrah"
— Que bonitinho! — Você disse, e ele corou um pouco sorrindo. — Tá quase, mas já é um passo. Enfim, vou entrar antes que minha mãe venha aqui fora me dar sermão pra não ficar beijando essas horas. — Você não queria ir, você sentia que algo ia acontecer. Mas seus pés já estavam ali, abrindo a porta de casa, você olhou para Kazutora uma última vez antes de fechar a porta e aquela parte quebrada e sombria havia tomado conta de seus olhos novamente. Quando foi que aquele olhar sinistro havia ido embora para retornar agora?
Dia 31 de Outubro de 2005 você planejava passar o Halloween com suas amigas em casa mesmo, com uma sessão de filmes de terror e uma boa música só entre vocês. Então o dia inteiro você passou organizando as decorações pela casa, mas você sempre criticava que tal decoração devia estar em tal lugar, nada estava bom. Faltava decoração ou havia demais. Mas você apenas estava sentindo que havia algo errado, apenas não sabia o quê. O seu celular vibrou, você animadamente pegou achando que era Kazutora enviando algum meme de humor duvidoso, mas era um de seus amigos do Brasil, um da barra pesada.
— "Konitiuá"
— Ave maria Felipe que língua maia é essa? — Você falou indo para o quintal.
— Oxi, não é assim que se fala em japonês?
— Me ligou pra me dar um infarte com essa pronúncia horrorosa?
— Na verdade só pra saber da treta que vai ter hoje. Uns manos meus que vieram do Japão falaram que hoje vai ter uma briga da pesada mais interessante que o jogo do Corinthians.
— Deve ser uma briga de gangue, tô sabendo de nada não. — Você pegou um barbante e segurou o celular entre o ombro e a cabeça enquanto passava o barbante de uma árvore à outra.
— Ainda bem que eu sou seu amigo traficante e fofoqueiro. Se liga, vai ser uma tal de Valhalla e Toman, parece ser duas gangues famosas daí. Eles chamaram hoje de Halloween Sangrento.
— Ah, sei. Não tô ligando muito porque nem tô envolvida nesse rolê.
— Mas eu quero saber dessas cois— Você parou de ouvir. Porque uma memória veio à tona, a de quando você e Kazutora estavam no terraço e a jaqueta que ele usava possuía uma etiqueta com o nome Valhalla. Você pensou se tratar de alguma marca de roupa, por isso não ligou muito. Aquela sensação voltou ao seu peito junto com a preocupação, Kazutora se meteu numa merda de briga de gangue, por que ele nunca tinha mencionado sobre uma gangue antes? Você sentia que devia estar lá. Você precisava estar lá.— S/N? Caiu a ligação?
— Onde? Que horas?
Você xingou tudo o que podia pela frente porque a briga já tinha começado a muito tempo atrás, e você não sabia dirigir, apenas deu uma desculpa e desligou o telefone. Pegou apenas uma bolsa com seus documentos e telefone e saiu correndo, Kazutora parecia forte e se viraria bem, mas você não conseguia confiar de que tudo acabaria bem.
Você ponderou ligar para ele, mas quem levaria o celular pra porradaria? Ele mesmo. E Hanma. E Kisaki.
Porque mal você sabia que Hanma havia ligado para Kazutora no meio de uma briga. Tipo, QUAL O SENTIDO?
Quando você chegou mal podia sentir suas pernas, sua respiração estava totalmente desregulada e seu estômago todo estava revirado, tanto que você jurava que poderia vomitar a qualquer instante. Ver aquilo era pior, um cara ensaguentado deitado no chão que você pensou ser Baji pela foto que Kazutora tinha de wallpaper, um monte de gente arrebentada e Kazutora todo arrebentado também. Quando Kazutora te viu, ele não soube como reagir, seus olhos já estavam completamente cheios de lágrimas e seu rosto completamente molhado, você não entendia, muito menos entendia porque seus olhos também marejavam, você andava lentamente até Kazutora que mal podia olhar pra você, ele mantinha o olhar no chão sem saber o que dizer, por fora uma expressão triste e por dentro, mais quebrado ainda. Não dava pra saber se ele poderia receber ajuda desta vez. Ele não sabia mais se era merecedor de alguma coisa, se era merecedor de você. Você foi boa para ele, assim como ele foi para você, mas ele foi bom para o mundo naquele ponto?
Ninguém conseguia dizer nada.
Ele apenas retirou o brinco e com as mãos trêmulas e machucadas te entregou, sentir seu toque mais uma vez o fazia mais certo do que teria que fazer, e qual seria seu destino.
— Tenho que assumir a culpa. — Ele conseguiu dizer ainda sem ser capaz de olhar seu rosto.
As lágrimas começaram a rolar sem parar. Você não entendia merda nenhuma mas não era hora de questionar, ele não queria que você tivesse se envolvido com toda essa bagunça que ele estava envolvido, você era jovem demais para entender que ele estava te protegendo. E ele era jovem demais para lidar com tanta coisa.
Quando a polícia chegou, você estava um pouco longe, mas conseguiu ver a viatura indo embora com Kazutora dentro. Agora tudo que você tinha dele era um brinco, o qual você guardou e queria se prometer de que nunca mais olharia para ele. Kazutora não tinha morrido, mas você tinha criado sentimentos por um Kazutora que sequer havia existido, você acreditava que ele tinha conserto e podia mudar, mas aquele momento provava que não. Você precisava esquecê-lo, ele foi só mais um maluco na sua vida.
E doía, ah como doía pensar isso.
Porque não era verdade, ele foi o maluco que te comprou chocolate de madrugada quando você menstruou e queria muito um chocolate. Que aprendeu uma música em potuguês. Te levou para passear de moto mesmo você berrando e não achou ruim. Que conseguia ursinhos de pelúcia para você. Que confiou em você para se abrir. Ele só precisava de mais sanidade, e isso definitivamente não era algo que você devia dar a ele, você apenas o mostrou um caminho, e era de total espontânea vontade que ele poderia começar a seguir esse caminho não por você, mas por ele.
Naquele dia você preferiu ficar sozinha e cancelou os planos com as garotas, se trancou em seu quarto e ouviu música até conseguir se agarrar ao sono forçadamente.
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Exagerado - Kazutora Hanemiya
RomanceOs seus destinos foram traçados desde a maternidade, mesmo em Países diferentes. 𝐊𝐚𝐳𝐮𝐭𝐨𝐫𝐚 𝐇𝐚𝐧𝐞𝐦𝐢𝐲𝐚 𝐱 𝐅𝐞𝐦¡𝐫𝐞𝐚𝐝𝐞𝐫 (+16) @gaydramatic Arte da capa: @0sasami0 on Twitter.