Capítulo 2

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Giovanna Martins

Meu peito pesa com as notícias. Santiago deixou a casa para a ex-mulher, e agora fico imaginando onde ele está ficando. Seus parentes não vivem no Brasil, e, embora tenha dinheiro para escolher onde quiser, conheço o homem que ele é. Ele nunca gostou de ambientes impessoais como hotéis. Santiago sempre valorizou conforto, algo que remete a um lar. Tento afastar a preocupação, mas ela se infiltra mesmo contra minha vontade.

— Onde você está dormindo? — Pergunto, a voz saindo mais firme do que esperava.

Ele levanta os olhos, surpreso com a pergunta.

— Em um hotel — responde casualmente. — Tem uma cama quente, uma banheira e televisão. Não se preocupe, estou bem.

— Não é como se eu estivesse preocupada — corto rapidamente, mas o calor no meu rosto me denuncia. Faço uma pausa, suspirando. — Mas está chovendo forte, suas roupas estão úmidas... Por que não passa a noite aqui? Meu pai está viajando com a namorada, como você sabe, e só volta no final do mês.

Dou as costas antes que ele consiga responder. Não quero encarar aquele olhar de réu novamente, o mesmo que sempre me faz ceder mais do que gostaria.

— Eu não quero incomodar — ele diz, vindo atrás de mim. — Só vou me despedir do nosso filho.

Quando entramos na sala, Christian está afundado no sofá, os olhos grudados na animação que ainda passa na televisão. Pego o controle remoto e desligo o aparelho.

— Não! Mamãe! — ele protesta, o tom carregado de uma pirraça que normalmente seria maior.

Mas a presença do pai o faz recuar. De alguma forma, Santiago sempre teve essa capacidade de intimidar, mesmo sem intenção. Ele se aproxima, abaixando-se na altura de Christian.

— Vamos lá, campeão. Está na hora de dormir. Escuta sua mãe, hein? — Santiago diz suavemente, bagunçando os cabelos do filho, que resmunga algo incompreensível, mas se levanta.

Eu observo a cena, o nó na garganta crescendo. Mesmo com tudo o que aconteceu, ele tem esse jeito de se conectar com Christian que sempre me desarma, mesmo que eu odeie admitir.

Christian caminha em direção ao corredor com passos arrastados, lançando um último olhar para a televisão como se esperasse que ela magicamente voltasse a funcionar.

— Boa noite, campeão — Santiago diz, a voz carregada de ternura.

Christian para, vira-se e corre para abraçá-lo. O gesto inesperado pega Santiago de surpresa, mas ele retribui com a mesma intensidade. Meu coração aperta ao assistir. Por mais complicado que nosso relacionamento seja, é impossível negar que ele ama o filho.

— Boa noite, papai.

Santiago se levanta com o filho no colo, como se o peso daquele abraço ainda estivesse sobre seus ombros.

— Ele te adora — digo, mais como uma constatação do que um elogio.

— Eu sei... e isso só torna tudo mais difícil.

Sua resposta vem acompanhada de um olhar que não consigo decifrar por completo. É arrependimento? Saudade? Um pouco dos dois?

Desvio o olhar, cruzando os braços como se isso fosse me proteger da tempestade de sentimentos que ameaça me engolir.

— Bom, tem um quarto de hóspedes aqui. É simples, mas confortável. Pode passar a noite lá — digo, tentando soar indiferente.

— Obrigado, mas não quero incomodar — ele responde, mas seu tom é tão sério que quase soa como um pedido de desculpas.

Depois que tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora