Depois que tudo deu errado

Capítulo 8

Giovanna Martins

"Você tem o dedo podre para homens!"

Dirigindo de volta para casa, não consigo evitar que minha mente volte para a última discussão que tive com meu pai. Ele sempre foi muito bom comigo... ou pelo menos foi até o momento em que comecei a me interessar mais por rapazes e menos por ele. Quando ele descobriu sobre meu romance secreto com Santiago, ficou furioso, e a partir dali, tudo começou a desmoronar.

Uma das frases que mais me marcou e que ele repetia até se cansar era: "Esse cara vai partir seu coração, é tudo questão de tempo." E, como numa maldição, acabou se concretizando exatamente como ele previu.

Passaram-se muitos anos de desavenças entre nós, nas quais ele me disse palavras que doeram mais que qualquer tapa, mais que as respostas ríspidas que me dava quando eu o questionava sobre o paradeiro da minha mãe. Ele se tornava ainda mais fechado, e aquilo me cortava de um jeito que até hoje me deixa uma sensação de vazio.

Bruno apareceu na minha vida de forma inusitada, através de um aplicativo de namoro. Desde o primeiro encontro, eu senti algo diferente. Ele era... legal, um cara bacana, daqueles que você sente confiança logo de cara. E, surpreendentemente, suas características físicas lembravam muito as de Santiago. De estatura mediana, corpo musculoso, abdômen definido... até mesmo a forma de falar e se vestir, tudo muito semelhante.

Eu não sabia se aquilo era uma coincidência ou se, de algum modo, estava buscando homens que se parecessem com Santiago. Minha terapeuta me disse que isso era um reflexo de um trauma não resolvido. Eu me magoei tanto com o pai do meu filho que, inconscientemente, procurava por homens com o mesmo perfil, buscando uma resposta ou algo que me fizesse entender o que aconteceu no passado.

Mas Bruno, mesmo sendo parecido com Santiago, era diferente. Ele era romântico, idealista, tinha uma boa profissão, e parecia se preocupar de verdade comigo. Ele trabalhava como professor de educação física e, além disso, tinha uma linha de academias espalhadas pelo Brasil.

Os momentos que mais me agradavam eram quando saíamos os três: Bruno, Christian e eu. Meu filho parecia se divertir de verdade, e eu ficava tranquila, sabendo que ele gostava de Bruno. E isso me dava uma sensação de alívio, como se, quem sabe, ele fosse um bom padrasto, alguém que poderia se tornar parte da nossa vida, se tudo corresse bem.

Bruno tratava meu filho com carinho, e sempre me dava a sensação de que seria um bom pai. Mas o meu pai... ele ainda não aceitava isso. Como olhou para Santiago cinco anos atrás, ele olhava para Bruno com o mesmo desdém, dizendo que tudo estava acontecendo muito rápido e que eu deveria tomar cuidado com encontros de aplicativos. Era como se ele visse em Bruno algo que me escapava, como se ele quisesse me proteger, mas a verdade é que sua visão era embaçada pela raiva do passado.

Estaciono o carro na garagem e sorrio ao ver a última mensagem no meu celular. Bruno me enviou uma foto nossa, tirada há poucas horas no shopping. Estávamos juntos, enquanto eu ajudava a escolher um presente para a irmã dele. Eu acabei me demorando mais do que o planejado, mas ele insistiu que almoçássemos e, depois, fomos ao cinema. Ele parecia aliviado ao saber que Christian estava com o pai biológico, e me incentivou a manter uma boa relação com ele.

Ele é tão perfeito, e eu sinto que talvez, finalmente, eu tenha encontrado algo que pode dar certo.

Saio do carro, olho para o céu, e vejo que a noite já está caindo. São quase seis da tarde. Ao entrar em casa, o ambiente silencioso me recebe, e eu sou invadida por uma sensação de familiaridade que me reconforta.

Subo as escadas e, para minha surpresa, encontro Santiago e Cristian dormindo abraçados na cama pequena de meu filho. A televisão exibe, em volume baixo, um filme do Shrek, e aquela cena simples me enche de alegria. Não é apenas pelo fato de ver meu filho seguro e bem, mas pela aproximação dos dois. Algo me diz que será esse o assunto do meu filho nos próximos dias.