Capítulo 12

1.7K 140 5
                                    

Giovanna Martins

Abro a porta e sinto meu sangue congelar na corrente sanguínea com o que vejo. Santiago está parado ali, com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco do conjunto de moletom. Seus olhos me encaram com uma intensidade que me prende. Ele força tanto a mandíbula que posso ver o contorno tenso de seus músculos, como se estivesse segurando algo.

— Boa noite — ele diz com uma voz seca. — Vim ver o Christian, posso entrar?

Dou um passo à frente, deixando a porta entreaberta, sentindo um nó apertado no meu estômago. Uma necessidade urgente de adiar esse encontro toma conta de mim. Mas ele já está ali, e tudo o que eu posso fazer é respirar fundo e segurar o que me resta de controle.

— Desculpa, eu não queria incomodar — ele diz, o olhar vagueando pela casa, como se procurasse alguma coisa ou alguém. — Só quero ver meu filho, Giovanna.

— Quem é, amor? — Bruno pergunta de longe, seu tom suave, sem perceber a tensão crescente.

Ao ouvir a voz de Bruno, Santiago avança um passo, forçando a entrada sem esperar permissão. Seu corpo parece se inflar de uma energia não dita, algo bruto, incontrolável.

— Eu só quero ver meu filho! — A voz dele sai rouca, vibrando pelos meus ouvidos, como se cada palavra fosse uma explosão controlada.

Respiro fundo e, derrotada, abro a porta completamente, permitindo que ele entre. Bruno aparece pelo corredor com Christian nos braços. Quando meu filho vê o pai, ele escorrega do colo de Bruno e corre em direção a Santiago, saltando para os braços dele como se fosse a coisa mais natural do mundo. Santiago o recebe com uma alegria silenciosa, apertando o corpinho pequeno contra o seu peito com uma força que quase me faz esquecer de tudo ao nosso redor.

— Papai, ganhei um binquédo novo! — Christian exibe seu brinquedo com um sorriso inocente.

— Se diz brinquedo, filho — Santiago corrige, sorrindo enquanto coloca as mãos atrás da nuca do menino, ainda o mantendo colado a seu corpo.

Quando finalmente coloca o menino no chão, ele me olha com uma suavidade que não condiz com a tensão que permeia o ar. E aí, o que eu temia chega: a apresentação. Tento manter a voz tranquila, mas sei que ela sai trêmula, carregada de insegurança.

— Bruno, amor... Este é o Santiago, o pai do meu filho. E Santiago, esse é o Bruno, meu namorado.

Minhas palavras saem pesadas, como se cada sílaba fosse um peso difícil de carregar. Eu sabia que um dia teria que fazer isso, mas não imaginei que seria tão difícil, tão cedo.

— Prazer, Bruno Henrique — Bruno se adianta, estendendo a mão. Seu olhar é uma mistura de curiosidade e desconfiança.

— Santiago Castillo — ele responde, apertando a mão de Bruno com força, sem ceder à cordialidade. O toque entre eles é firme, mas carregado de um silêncio impresso de rivalidade.

O ar dentro da casa está tão denso que mal consigo respirar. A sensação é a de que, em qualquer momento, a sala vai se transformar em um ringue de luta, e nós três seremos os combatentes. A tensão palpável faz a sala girar ao redor de mim.

Eu respiro fundo, tentando restabelecer algum controle.

— Bruno, você pode me dar licença, por favor? Preciso conversar com o pai do meu filho em particular.

— Claro, vamos lá, garotão — Bruno sorri para Christian e pega a mão do menino, afastando-se. Eu vejo a expressão do pequeno, os olhos brilhando de um jeito que só uma criança poderia entender, como se estivesse pedindo para o pai não ir.

Quando finalmente conseguimos um pouco de espaço, a raiva que eu estava segurando explode.

— Santiago, você não me ligou! Não avisou que viria! E eu estou recebendo uma visita, por que tem que ser assim?

— Não quero causar problemas — ele tenta se controlar, mas vejo o olhar duro que ele me lança. A voz dele está baixa, mas a intensidade é visível. — Mas você não pode me impedir de ver meu filho, Giovanna! Sempre que eu venho, você reclama, e quando não venho, também reclama! O que você quer de mim, afinal? Será que eu não posso, ao menos, cumprir meu papel de pai em paz?

Eu não consigo conter a frustração, a mágoa acumulada ao longo dos anos vazando em cada palavra.

— Não venha se fazer de vítima! Você sabe que não merece isso! Está aqui por causa do meu pai, Santiago! Porque, se fosse por mim, você nunca se aproximaria do meu filho!

As palavras saem cortantes, e enquanto eu falo, um vento gélido parece passar pela casa. Quando a última palavra sai, sinto o peso da tensão aumentar. A sombra de Bruno aparece na porta, ele está tão rígido quanto Santiago. Eu sustento a raiva que queima dentro de mim, como se fosse um vulcão prestes a entrar em erupção. Minhas mãos apertam a maçaneta da porta até os dedos doerem.

— Desculpa, não pude deixar de ouvir — diz Bruno, sua voz calma, mas cheia de uma sinceridade que me surpreende. Ele se aproxima e pega minhas mãos, segurando-as com firmeza. — Eu sei que sou novo por aqui, mas... — Ele olha para Santiago com uma expressão séria. — Meu amor, nós não precisamos transformar isso em algo desagradável. Somos homens, maduros e adultos, não somos? Vamos lidar com isso de uma forma que não cause desconforto nem a você, nem ao Christian, certo, Santiago?

Santiago só acena com a cabeça, seus lábios ainda tensos, seu rosto ainda fechado como uma máscara.

— Não quero causar confusão. Eu só queria levar o Christian para passar a noite comigo — diz ele, a voz baixa e quase cautelosa.

Eu o encaro, sem humor algum.

— Santiago, eu não vou deixar meu filho passar a noite em um hotel, ou em qualquer outro lugar que você esteja. E nem pense em levá-lo para aquela casa!

— Não estou morando em um hotel — ele responde, sem perder a calma. — Eu comprei uma casa.

Eu o olho, tentando processar a informação.

— E onde você está morando? — pergunto, agora mais curiosa.

— Na casa ao lado! — Ele solta um suspiro cansado, passando a mão pela barba.

A surpresa me atinge como uma lâmina afiada.

Bruno me abraça pela cintura, fazendo questão de me envolver de uma forma possessiva e protetora.

— Então... — Bruno franze a testa, tentando entender a situação. — Você comprou a casa ao lado da minha?

— Sim — Santiago confirma, com um sorriso de satisfação que não passa despercebido. — Agora somos vizinhos.

Eu fico sem palavras, o golpe da informação me atordoa. O pai do meu filho não é um simples canalha, ele é um dissimulado calculista que joga o jogo de maneira fria, como um psicopata.

Eu respiro fundo, tentando organizar meus pensamentos.

— Tudo bem, então... — Minhas palavras saem pesadas, como se o peso de tudo isso estivesse finalmente caindo sobre mim.

Depois que tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora