Capítulo 14

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Santiago Castillo

— Pronto, filho? — pergunto, apagando todas as luzes da sala.

— Sim, papai! — ele confirma, se enfiando na cabana improvisada que fizemos com um lençol.

— Um, dois... e três! — conto, e apago todas as luzes. Ele rapidamente acende as lanternas, sorrindo, e se aperta ainda mais contra mim dentro da cabana, apontando a lanterna para o alto. Juntos, deixamos nossa imaginação fluir e acreditamos que estamos acampando no meio da selva africana.

Eu me mexo tentando encontrar algum espaço para esticar as pernas, mas sem sucesso. A cabana parece ter ficado menor do que eu imaginava.

— Filho, acho que essa cabana ficou pequena, e eu...

— Shhh, não pode falar, papai! — ele faz o gesto de silêncio com o dedo indicador apontado para os lábios, enquanto liga e desliga a lanterna. — Não pode falar, os bichos vão achar a gente.

Sorrio e apoio a lanterna na barriga, fazendo sombras e criando figuras de animais, arrancando risadas de Christian. A brincadeira é divertida, mas, mesmo lutando contra o sono, percebo o esforço que ele faz para não dormir. Talvez ele tenha medo de que, ao acordar, eu já não esteja lá para abraçá-lo e fazê-lo sorrir.

— Filho — digo, virando a lanterna para seu rosto e vendo seus olhos, pequenos e brilhantes, cheios de sono. — Você pode dormir. Papai vai estar aqui quando você acordar.

— Não vai embora, papai? — ele pergunta com a voz embargada.

— Não, filho, eu não vou embora. Eu nunca mais vou embora. — Puxo seu corpinho para cima do meu peito e ele me abraça, rendido ao sono, adormecendo profundamente.

Depois de colocá-lo na cama, desço para a sala onde montamos o acampamento, e começo a recolher as coisas. É quando ouço batidas na porta e a campainha toca.

Sorrio, já sabendo quem é, e abro a porta. Lá está ela, a pessoa que sempre me faz querer rir mais alto.

— Giovanna? — Finjo surpresa, abrindo a boca em deboche. — Atravessou o oceano para chegar até aqui? Até que chegou rápido — zomba e ela me encara com uma expressão séria.

— Eu vi luzes piscando, fiquei preocupada — diz ela, os olhos vagando pelo chão antes de me encararem novamente.

— Luzes piscando? Deixa eu adivinhar... pensou que fôssemos abduzidos por alienígenas? — Rio, mas ela me encara com um semblante sério e me dá um soco leve no braço, indicando que minha piada não teve o efeito desejado.

— Para de gracinhas, Santiago. É a primeira vez que ele dorme fora de casa sem mim, e eu sou mãe, você é pai, deveria saber como me sinto.

Vejo a preocupação em seus olhos e meu sorriso se apaga. Não posso ignorar o peso daquelas palavras.

— É claro que sei como se sente. Quer entrar? — Pergunto, abrindo a porta mais, gesticulando para que ela entre.

Ela entra, ainda segurando as mãos e um tanto sem jeito, olhando ao redor da sala com os olhos críticos.

— Não sabia que gostava desse tipo de móveis — comenta com uma análise que não consegue esconder.

Ela sabe que não sou fã de modernidade. Sempre preferi ambientes rústicos, que me lembram minha infância.

— Quando comprei a casa de porteira fechada, também não tive tempo de comprar nada novo — explico.

— Você é dono de uma empresa de móveis planejados. Por que não manda fazer móveis sob medida? — Ela questiona, ainda com a análise crítica no olhar.

Eu sorrio e acendo a luz da sala, revelando a bagunça de brinquedos espalhados, almofadas jogadas e a cabana feita com lençol.

— O que estavam fazendo acordados até essa hora? — ela pergunta, vendo a cena.

— Brincando de acampamento na sala. Ele dormiu há poucos minutos — respondo, enquanto tento recolher os objetos.

— Santiago, precisa colocar grades de segurança nas janelas e nas sacadas da varanda. É perigoso. Nosso filho não é uma criança hiperativa, mas ele corre por toda parte.

— Já pensei nisso. Essa semana vou resolver tudo para deixar a casa segura para ele — respondo, com um tom sério.

De repente, o assunto parece ter se esgotado, e o silêncio toma conta do ambiente. Ela se senta delicadamente no braço do sofá, juntando as mãos sobre as coxas e olhando para elas, como se procurasse coragem para falar o que quer.

— Seu namorado já foi embora? — Pergunta, de forma casual, mas com um olhar que não esconde o peso da pergunta.

Lanço-lhe um olhar de soslaio enquanto continuo a organizar a bagunça.

— Sim. Ele foi embora minutos depois que você trouxe o Christian — ela responde, olhando para mim com um ar de arrependimento. — Santiago, você pode me dar atenção por um minuto? Eu juro que já estou indo embora.

Deixo os objetos sobre o sofá, puxo uma cadeira e me sento de frente para ela, sentindo o peso da situação.

— Diga.

Ela molha os lábios, me encarando nos olhos, e começa a falar com a voz mais suave, quase vulnerável.

— Eu quero... — Ela hesita, olhando para as mãos antes de me encarar novamente. — Quero me desculpar, por ter falado aquelas coisas. Eu não deveria ter...

— Está tudo bem — interrompo, tentando amenizar a situação. — Eu entendo, você estava com raiva, e eu deveria ter ligado antes.

— Não! Nada disso justifica a forma como te tratei — ela diz, tentando esconder os olhos marejados enquanto olha para suas mãos.

— Giovanna... — Estico a mão e seguro seu queixo quebrando toda resistência que ainda resta entre nós. — Eu sei que não posso reparar todos os danos que te causei, mas eu juro estou dando o meu melhor, eu só quero que me perdoe, e deixe as diferenças para trás. Temos um filho juntos, e precisamos estar em acordo para que possamos tomar as melhores decisões juntos, por ele.

— Acontece que... — Ela limpa uma lágrima se despindo da carapaça que usa para mostrar o quanto é forte, então revela seu verdadeiro 'eu'. Um 'eu' destruído por mim, um 'eu' frágil como cristal, que pode quebrar a qualquer momento.

Consigo ver a mesma menina inocente que saiu da minha casa correndo e chorando quando me encontrou na cama com Amanda, a mesma menina que chorou até dormir nos meus braços, quando eu disse que não podíamos ficar juntos por causa da diferença de idade que tínhamos.

— Ainda dói, Santiago. Dói muito, e mesmo tendo passado tantos anos eu não sei como lidar- confessa ela deixando algumas lágrimas escorrerem em sua face.

Sei que é muito difícil levar por tanto tempo o pesado fardo de rancor e decepção. Eu sei exatamente como ela se sente, só ainda não disse.

— Eu sei que dói. Mas, não quero mais que me veja como um inimigo, quero ser seu amigo e ainda que eu tenha perdido seu amor, quero pelo menos conquistar a sua amizade – estico o braço e toco delicadamente no seu tosto, limpando as lágrimas que escorrem.

Sabendo o quanto ela é frágil, a puxo para meus braços, e a abraço forte. Ela se desmancha em lágrimas em meu ombro, e eu percebo que consegui dar um passo gigantesco, indo em direção aos meus objetivos. Reconquistar a sua amizade e confiança que são fundamentais para mim. 

Depois que tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora