Capítulo 15

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Giovanna Martins

— Filho, se apresse, seu avô está chegando — digo cantando todos os brinquedos espalhados enquanto organizamos a bagunça da casa.

Meu pai me ligou bem cedo, ainda com o sono na voz, dizendo que decidiu encerrar a viagem. Ele falou com aquele tom quase indiferente, como se não fosse nada demais, mas a razão era clara: o frio estava insuportável, e ele sentia falta do clima quente e tropical do Brasil. O mais irritante de tudo foi que ele só me ligou quando já estava desembarcando no aeroporto de volta ao Brasil, como se eu não tivesse nada a ver com o planejamento de sua viagem.

Conhecendo-o como conheço, sei que ele é do tipo perfeccionista — aquele que organiza até os livros por datas de compra, tamanho e cor, e que suas coleções de enciclopédias medicinais devem permanecer imaculadas nas prateleiras do escritório, como se cada item fosse parte de um monumento pessoal. E é justamente por isso que não posso evitar o pânico que sinto agora, sabendo que ele vai voltar para uma casa que, ao menos nos meus olhos, parece um verdadeiro caos.

A sala está tomada por brinquedos espalhados por todos os cantos, roupas amontoadas, almofadas largadas no chão. E o pior: eu havia dado a minha palavra que cuidaria de tudo enquanto ele estivesse fora. O peso dessa promessa agora parece quase insuportável. Sei que, ao abrir a porta de casa, ele vai encontrar tudo fora do lugar, e o olhar dele, sempre tão exigente e crítico, vai refletir a decepção. Eu imagino a cena: ele entrando, percorrendo a casa com aquele olhar que nunca perde nenhum detalhe, e, no instante em que ele vê o que se tornou o ambiente, a frustração será inevitável.

Eu já consigo até ouvir a sua voz em minha mente, com aquela mistura de incredulidade e desapontamento, me questionando por que não consegui fazer as coisas direito, por que a casa não estava à altura de seus padrões. Isso, para ele, vai ser um sinal claro de falha, e não importa o quanto eu tente justificar o caos. Para meu pai, o mundo deve ser organizado, controlado, e no meu íntimo, sei que ele esperava que eu tivesse sido capaz de manter tudo sob controle, mesmo na sua ausência.

— Mamãe — Christian puxa a manga da minha camisa. — Quéo ir na casa do papai — ele aponta para o lado.

— Querido, está muito cedo, seu pai deve estar dormindo, e eu ainda tenho de arrumar toda a bagunça que você fez com suas brincadeiras ontem à noite — digo e o vejo cruzar os braços em protesto. — Quéo ir na casa do papai! Dar bom dia pro papai.

Meu filho está tão feliz desde de que Santiago veio morar na casa ao lado, ele tem comido toda sua comida, e já não fica mais tão preso na televisão ou em seu tablet. Quando Santiago chega do trabalho, ele o leva para nadar na piscina de sua casa, andar de bicicleta na rua e fazer atividades ao ar livre, sei que isso tudo tem feito muito bem para meu menino.

— Ah! — suspiro brava, mas no fundo, meu peito está cheio de orgulho. — Você venceu — eu digo pegando em suas pequenas mãos. — Vou deixar você com ele, enquanto arrumo a casa, certo?

***

Pulando ao meu lado, meu filho sai vitorioso de casa, assim que nos vemos diante da grande porta do vizinho, toco a campainha, sentindo certa angústia pelo tempo curto que tenho para organizar tudo.

Leva alguns minutos, e quando a porta se abre, Santiago aparece usando apenas um short de seda curto, enquanto seu abdômen faltoso de roupas, mostra o quanto ele ainda é aplicado a exercícios físicos. Ele se espreguiça, flexionando os bíceps e tríceps inchados e nos olha bocejando e abrindo um sorriso ao mesmo tempo.

Nem parece que esse homem tem quase quarenta anos, penso perdendo todo o ar.

Pulando ao meu lado, meu filho sai vitorioso de casa, e quando paramos diante da imponente porta do vizinho, toco a campainha, sentindo uma angústia crescente. O tempo está apertado, e a bagunça que deixei para trás me pesa na consciência.

Após alguns minutos, a porta se abre e lá está Santiago. Ele aparece usando apenas um short de seda curto, e seu abdômen definido, agora exposto, é uma prova visível de que ainda dedica tempo aos exercícios físicos. Ele se espreguiça, os bíceps e tríceps inchados se destacam, enquanto ele nos observa com um bocejo, acompanhando de um sorriso descontraído.

É impossível acreditar que esse homem tem quase quarenta anos, penso, sentindo um nó se formar na minha garganta.

— Bom dia, papai! — Christian corre até ele e abraça sua perna com força.

— Bom dia, garotão — Santiago responde, pegando-o no colo com um sorriso genuíno.

— Desculpa, te acordei, não é? — ele diz, ainda segurando Christian, que parece não se importar com a interrupção.

— Está tudo bem — Santiago beija a cabeça do filho. — Receber esse "bom dia" animado, justifica qualquer coisa.

Com Christian ajeitado em seu colo, Santiago me olha, esperando algum tipo de reação minha que não seja simplesmente eu encarando seu corpo exposto, quase sentindo o calor da sua presença em cada pedaço de mim.

Eu balanço a cabeça, tentando retomar o controle, e foco nas palavras que preciso dizer.

— Então... ele queria vir te desejar "bom dia", e, como meu pai está chegando de viagem, gostaria de saber se você pode ficar com ele, só até eu conseguir dar conta da casa, que está... um pouco bagunçada — encolho os ombros, envergonhada, sorrindo sem graça.

— Claro, pode ir, eu fico com ele, sem problemas — ele responde sem hesitar, mas com um sorriso que só aumenta a tensão no ar.

Solto um outro sorriso sem graça e aceno para eles.

— Até logo. Se comporta, filho.

Quando viro as costas e começo a caminhar de volta, sinto o olhar de Santiago queimando em mim, como se estivesse me marcando. A sensação de ser um alvo só desaparece quando entro na minha casa, fecho a porta com um suspiro e me apoio nela, sentindo minha respiração descontrolada. Esse é o efeito que Santiago Castillo tem sobre mim sempre que se exibe sem pudor, com aquele corpo que me faz perder a noção de tudo ao redor.

Depois que tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora