Depois que tudo deu errado

Capítulo 46

Giovanna Martins

Abro a porta me sentindo enfurecida. E como Ana Júlia havia me contado, aquela mentirosa trapaceira, está na sala também, com sua mão no peito de Santiago , e o mesmo permanece estático, com os braços cruzados encarando com a feição dura, sem esboçar qualquer interesse. Christian ganha espaço na minha frente e grita pelo pai, que quando o vê, se agacha para recebê-lo em seus braços, sorrindo como sempre faz.

Amanda se afasta, pega sua bolsa e põe no ombro sem tirar os olhos da cena que comprova sua derrota. Forjou um exame de gravidez, pensando que conseguiria engravidar depois do casamento, mas descobriu que era estéreo!

— Olá, Amanda. — Digo cheia de ironia e raiva.

Meus hormônios ainda vão ser os culpados por eu matar alguém.

— Oi! — ela fala e olha para Santiago com Christian no colo trocando carinho de pai e filho.

Sinto o gosto da vitória.

— Eu já estava indo — ela diz me olhando com aquele mesmo olhar sanguinário de quatro anos atrás, mas agora eu sei me defender desse olhar, me tornei uma mulher, e sou forte para enfrentar qualquer coisa.

— Ótimo! Porque aqui não tem lugar para você — Jogo minha bolsa em cima da mesa e cruzo os braços, Santiago me olha com um sorriso escondido e continua fingindo dar atenção ao filho que está em seu colo. Ele só não quer se meter em uma briga de mulheres — E não quero você entrando nessa sala sem antes pedir permissão à secretária! E não é secretariazinha, o nome dela é Ana Julia e eu exijo respeito!

— Fica tranquila Giovanna, eu já conversei tudo o que tinha para ser conversado com o pai do seu filho, não é? Somente o pai do seu filho — ela nos dá as costas e sai da sala, carregando consigo a sua derrota quase emoldurada nas mãos, mas ainda assim ela faz questão de lembrar que Santiago e eu não estamos juntos e que não temos mais nada além de nosso filho.

— Que visita agradável! — Santiago sorri e finalmente põe o menino no chão. — Veio cuidar dos meus interesses?

— Estava passando por aqui, e Christian queria te ver — falo e me jogo no sofá bufando de raiva, odeio Amanda, odeio essa mulher com toda a minha alma. — O que ela queria?

— Reatar. O de sempre — ela fala a ajuda a colocar o filho em cima da sua cadeira, pega um lápis no pote e uma folha e entrega ao menino para desenhar.

— Está tudo bem? Você parece tensa — ele comenta quando vem se sentar ao meu lado.

— É uma merda ter que ver a cara dessa mulher, depois de tudo — falo e ele ri tranquilamente.

— E o casamento? — ele pergunta esticando o corpo, jogando os cotovelos em cima dos joelhos enquanto brinca com os dedos.

— Sábado, às sete da noite — falo e ele assente. — Por sorte já está tudo pronto, dona e Ieda, e Susana, Vanessa e minha mãe, conseguiram organizar tudo — explico e ele continua assentindo.

Me jogo para trás no sofá, olhando meu filho distraído mexendo em tudo em cima da mesa do pai.

— E porque está com esse semblante tão triste? — ele pergunta também olhando para o filho, há uma mistura de tristeza e sofrimento em seu tom.

— Eu estou bem, é que... A gravidez está mexendo com meu humor — respondo, e ele volta a assentir como se estivesse sem palavras, ou reação. - Santiago.

Ele me olha em silêncio.

- Eu queria me desculpar por tê-lo tratado mal no dia do meu noivado.

- Não se preocupe com isso. Já passou! O importante agora é saber sobre você. Já começou a fazer o acompanhamento médico?

— Ainda não, estou muito atarefada com os preparativos para o casamento e ainda tem a faculdade, estou tentando dar conta de tudo, mas assim que eu voltar da lua de mel, eu vou resolver tudo.

Ele passa as mãos no cabelo, e coça a barba, encosta com a coluna no sofá e me encara sem dizer nada.

Eu amo seu olhar que parece queimar quando estão em mim, eu amo seu toque tão suave, eu amo as marcas de expressões que já começaram aparecer em seu rosto, eu amo os fios brancos que estão crescendo escondidos por entre seus cabelos, eu amo tudo em você, Santiago.

Eu queria dizer isso, mas eu não posso. Não posso mais.

Logo sinto meu estômago revirar e meus olhos se encherem de lágrimas quando lembro da minha mãe dizer: casamento é para a vida toda, querida, faça bem a sua escolha. Eu sei que no dia em que eu dizer o "sim" a minha história com Santiago vai ter um fim. Mas eu não tenho mais escolhas, estou grávida de Bruno e não posso tirar isso dele, não posso ser egoísta e pensar somente em mim.

— Você ainda vai embora? — Pigarreio para disfarçar a voz chorosa.

— Sim. Na segunda-feira — ele diz e me olha com tanto pesar, que é impossível conter os rios de lágrimas que estão presos atras dos meus olhos.

Abaixo a cabeça e sinto os suspiros vindo, embolando a minha garganta trazendo um turbilhão de lamentos, e logo uma lágrima escorre em meus olhos.

— Giovanna? — a voz baixa me chama e suas mãos me puxam para seus braços quando ele percebe que estou lutando para não chorar na sua frente. — Está tudo bem. Eu vou sempre ligar para falar com nosso filho. E você vai ficar bem, com seu marido e sua nova família — ele insiste em me confortar.

Levanto a cabeça e deixo ele me ver, assim como estou, emocionalmente acabada.

— Eu sinto muito, Santiago... Eu tentei... — Ele me cala com o polegar.

— Shhh — suas mãos me puxam contra seu peito, e ele me beija entre os olhos. Me fazendo sentir que estou em meu lugar feliz, segura. Protegida. — Não precisa me dar explicações, Giovanna. Tudo o que mais quero nessa vida e ver você e meu filho felizes.

Isso é uma despedida?

A despedida escondida por detrás de um de suas palavras me faz desmanchar em lágrimas, escondo o rosto em seu peito, e choro até a sua camisa social branca ficar molhada.

Por que esse tal amor é tão complicado às vezes? Por que amar às vezes dói tanto?