Giovanna Martins
Confiro no espelho se minha aparência está no mínimo agradável, não dá para fazer muita coisa quando o assunto é gravidez. Minhas roupas no tamanho "P" já foram substituídas pelo tamanho "M" e eu tenho a plena convicção de que logo serão substituídas por "G": ou seja, a imagem que o espelho da minha suíte reproduz, é de uma mulher, usando calças leggings pretas, e uma blusa solta muito parecida com um robe de renda de uma mulher de sessenta anos. Ainda que eu me sinta um saco de batata, devo ficar feliz, pois, o bom de estar grávida, é que podemos usar qualquer roupa, sem ficar com a aparência desleixada.
Jogo o cabelo para trás da orelha, e ouço o celular tocar pela décima vez em algum lugar de dentro da minha bolsa que está em cima da cama. Hoje é o grande dia, dia em que finalmente eu vou saber sobre o sexo do meu bebê, e com toda certeza meu acompanhante está ansioso.
Santiago ficou de me acompanhar, mas tem um enorme porém nisso tudo. Ficamos de fazer tudo às escondidas, ninguém pode saber ou sequer suspeitar que estávamos nos entendendo novamente, e essa situação me faz sentir péssima. Por mais que eu ame o pai do meu filho, não posso ignorar os sentimentos de Susana por ele, e é por isso que eu tenho mantido em segredo a ideia de deixá-lo acompanhar a minha gestação. E sinceramente nem sei onde eu estava com a cabeça quando aceitei isso.
Com a bolsa no ombro, e o celular pendurado na orelha, termino de dizer a cansativa frase: "estou indo" e o desligo. Quando vejo a porta do elevador se abrir percebo que distante da recepção do prédio e atrás das grades que contornam o edifício, há um conversível parado, o motorista, é o sonho de consumo de qualquer mulher, barba aparada, óculos escuros, escondendo alguma pedra preciosa na íris, e um sorriso largo de orelha a orelha. Estufando o peito que mesmo por debaixo do terno, dá para notar que está todo desenhado. É uma perfeita mistura da ostentação de um sheik árabe, com a incrível beleza de Henry Cavill e a sensualidade de um deus grego esculpido à mão. Ele sorri para mim e eu para ele, enquanto meus passos vão aparecendo lentos à medida em que o porteiro destrava o portão de acesso, e eu caminho em direção aquela beldade, que retira os óculos e dá um pequeno aceno em minha direção. O dia colabora para o frenesi, o céu está azul com alguns castelos de nuvens e o vento marítimo leva meus cabelos liso demais e me fazendo sentir a Pocahontas no filme.
Me aproximo do carro, sorrindo, e de repente...
— Porque demorou tanto para se arrumar? Estou aqui e vinte minutos te esperando! — sinto as mãos de Santiago me fazendo voltar a realidade. — E porque está olhando para esse cara? — Ele aponta com o polegar por cima do ombro.
Sorrio sem graça.
Uma loiraça, vizinha do prédio passa por nós, furta um olhar em Santiago e entra no conversível. Ótimo não era para mim que o sheik estava acenando. O carro se move nas ruas e finalmente eu me viro para olhar para o pai do meu filho.
Santiago está usando uma calça jeans preta, e uma camisa gola "v" que erradamente expõe alguns pelos do seu peito.
Que vontade de morde ele!
Se controla mulher!
Hoje ele está mais sério do que o habitual.
— Desculpa! É que fiquei minutos procurando uma roupa, estou ficando grande.
— Uma bela definição para gordinha — ele implica e encole o braço quando levanto a mão para acertar um tapa.
— Ah! Você não tem jeito! —Desisto de agredi-lo, e procuro por meus óculos escuros na bolsa.
— Porque não quis subir? — Pergunto abrindo a caixinha dos óculos. Abro a caixinha e coloco os óculos observando.
— Você sabe — ele fala, apoiando as mãos atrás das minhas costas enquanto caminhamos em direção ao seu carro que está estacionando no meio fio da calçada.
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Depois que tudo deu errado
RomanceNo passado Giovanna Martins viveu um romance intenso com Santiago Castillo, o pai de seu filho Christian de apenas quatro anos. Juntos eles enfrentaram muitas circunstâncias que nem sempre foram a favor desse amor deixando muitas marcas e mágoas ent...