Problemas de Comunicação

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 Shinra bocejou e se encolheu contra o marido o máximo que pôde sem incomodá-lo. Não que aquilo fosse merecido, não depois da forma que Shinra vinha agindo, mas ainda se permitiu ficar próximo dele e olhar sua feição adormecida e relaxada. Adorável, de acordo com Shinra. Precisava daquilo mais do que gostava de admitir, sentia uma saudade inexplicável de Arthur, mesmo tendo o afastado para cuidar de seu bebê, e particularmente, achava inexplicável como Arthur nunca o cobrou por mais atenção, ou por alguma noite mais quente. Certo, Arthur tinha noção que Shinra havia tomado a maior parte das responsabilidades com o filho para si, quase como uma obsessão. Não queria causar problemas, mas no fundo, Shinra só queria dividir aquelas responsabilidades ao meio, mas não conseguia. Se sentia culpado em o fazer. E fazia menos de um mês que estavam com a criança!! Talvez ele fosse louco? Sim, talvez ele fosse, porque Arthur demonstrou plena capacidade de cuidar dessa criança mais de uma vez. Mas Shinra achava que deveria cuidar da criança sozinho, porque, no final do dia, ele estava parasitando Arthur!

Essa era a vigésima noite que passavam com o bebê que logo logo poderiam chamar de filho, e estava sendo sem dúvidas a mais difícil delas. Era tarde da noite e ninguém tinha ido dormir, o que era péssimo porque tanto Shinra quanto Arthur tinham de estar amanhã de manhã muito bem cedo no serviço social, para oficializar a adoção e registrar a criança como deles! Mas como iriam acordar cedo a essa altura do campeonato, aí eu já não sei, colega.

O bebê simplesmente não parava de chorar e não dormia, e Shinra nem assim deixou Arthur ajudar, porque sim, o loiro queria ajudar, mas Shinra sempre dizia que Arthur não precisava se preocupar, que estava tudo bem, mas todo mundo sabia que não estava. Shinra estava a ponto de chorar junto da criança, quando finalmente ela se acalmou e dormiu. Não sabendo por qual milagre, ele acabou pegando no sono após horas chorando e exigindo atenção de todos os jeitos, Shinra se jogou na cama. 

Ele sabia que esse bebê era diferente, que ele havia sofrido mais do que deveria ser permitido para um inocente como ele, mas Shinra estava tão cansado! Não podia mais ficar com ele. Pelo menos não por agora. Precisava de ajuda, precisava dividir a responsabilidade ao meio, mas não conseguia! Shinra já teve que ficar o dia todo sozinho com a criança hoje, e foi uma experiência tão exaustiva que era como se todo o seu corpo e mente tivessem resolvido se cansar de uma vez só. Desde as juntas das pernas até o último fio de cabelo. Queria gritar, surtar, perder o controle de suas ações!! 

 Shinra nem lembrava mais o que Arthur havia ido fazer, provavelmente tinha ido resolver algum problema sobre seus pais, e acabou demorando mais do que devia, como sempre. Arthur chegou mais esgotado do que ele esperava, ficando atordoado ouvindo a criança chorar, implorando para Shinra falar o mais baixo possível em uma mensagem de texto digitada em um celular com brilho no zero e se recusando a falar. Shinra sabia que era uma sobrecarga sensorial. Shinra teria sorte se ele falasse nas próximas horas e aceitasse algum tipo de abraço ou toque. Ele mesmo já havia passado por incontáveis delas ao longo da vida, e por isso Shinra sabia que o melhor era não forçar Arthur a nada. Por mais que ele tivesse decidido seguir Shinra pela casa praticamente durante toda a noite, como uma sombra, Shinra não disse nada. Pelo menos não com palavras. Sabia o que acontecia com o cérebro de Arthur quando ele encontrava os pais, os irmãos, a família que não o quis. Quer dizer, não sabia completamente. Sabia que aquilo fazia mal para Arthur e que o deixava sobrecarregado. Seja sensorial ou psicológico.

Arthur ainda era bem chuunibyou, às vezes ele ainda gostava de falar que era um cavaleiro e fingir que Shinra era seu príncipe predestinado nas estrelas, mas ele não era mais adolescente. Ele não era mais o Arthur Boyle de 17 anos que perdoou sua família em favor do Chuunibyou. Ele era Arthur Kusakabe, casado a três anos, 25 anos na cara, e agora era pai. A simples ideia de ter contato com a família que o rejeitou e ele rejeitou de volta, o deixava agoniado. Desconfortável, para dizer o mínimo. Shinra sabia disso? Não. Sabia que aquilo o fazia mal, mas não a razão de o fazer mal. 

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⏰ Última atualização: May 14, 2022 ⏰

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Keith Crescendo no Caos KusakabeOnde histórias criam vida. Descubra agora