Glitter, lado C

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Talvez a única leitura possível deste seja de alguém frustrado com mais um amor fracassado.

Gostaria de dizer que, talvez, essa possa mesmo ser a leitura mais correta a primeiro plano, portanto, não é só isso. A única coisa que tenho a acrescentar nesta leitura é que este poema é um compilado de coisas que eu gostaria de ter dito a um certo alguém — mas preferi não dizer, por vários motivos.

Acho este, particularmente, o ponto mais baixo dos seus antecessores — mas concordo que colocar um ponto final nesta narrativa é, pessoalmente, importante para mim.

O resto, deixo a dispor da interpretação de vocês, leitores.

—  Delgado.

.          .          .

[Verso 1]
Amor, eu te deixei
Pra ir atrás do que eu sonhei
Não tem mais nada a ver
Já tava tão na minha

[Verso 2]
Eu tenho o dom de ir além, vou é correr
O que tiver pra ver, eu quero ter
Bem mais que eu tinha e, sem você
Eu vejo tudo tão mais claro

[Pré-Refrão]
Mais sabor (mais sabor)
Tem mais céu (tem mais céu)
Perigo eu quero
Horizonte
Cada coisa num instante de ilusões

Eu vejo e sinto as batacudas,
Os acordes, as canções e o coro,
Assim como leio a letra,
Me sintonizo com a melodia,
E me torno um com a música.

Por um instante,
Senti que era o seu muso inspirador:
O centro do seu universo,
O tamborim que te causou tanta pirraça;
O fantasma que assolava o sótão no fundo da sua mente.

Era esse o sabor que eu tanto procurava.

[Refrão]
Voltei pra mim
Cê sabe o que é bom
Onda do mar, só quero
Te ver assim se for pra ser melhor
Pra ser ruim, nem quero
Voltei pra mim
Cê sabe o que é bom
Onda do mar, só quero
Te ver assim se for pra ser melhor
Pra ser ruim, nem quero

Você foi o tema, duas vezes,
De poemas tecidos por mim,
Num fim de noite onde estava tão desesperado
Em transmitir tudo e um pouco mais
Do que sentia naquele momento
Apenas para fazer você mudar de ideia
E ficar comigo, por um instante,
Que já passou.

Enquanto o lado P dizia aos quatro cantos
O quanto amava quem você era
E o quanto estava disposto a amar mais ainda
Se você saísse do porão da sua mente, brilhando, como glitter
Da mesma maneira que toda a sua estética e os seus trejeitos brilham e gritam
Algo que você finge que não é com você,
O lado R mostrava o quanto esse amor era sóbrio,
Somente sexual,
E a embriaguez estava no sabor amargo
Que o álcool das suas palavras, gestos e posicionamentos
Deixavam na minha língua, na minha mente,
E nas noites em que eu imaginei você transando comigo.

Particularmente,
Não sobrou muito o que dizer a você
Agora que estou tão longe
E fora da sua realidade
Que perdeu toda cor
Assim que fui salvo pelos meus guias
De tudo que você representa na minha vida.

[Verso 3]
Amor, eu te deixei (amor, eu te deixei)
Pra ir atrás do que eu sonhei
Não tem mais nada a ver
Já tava tão na minha

E eu sabia,
Sabia que teria que te deixar hora ou outra.

Soube tanto que, ao mínimo sinal de perigo,
Em feitiço desesperado
Para manter a paz de espírito que alcancei com tanto esforço
Bani você dos meus caminhos,
E funcionou.

Você representa o fim
De todas as vezes que eu disse a mim mesmo
Desculpas para compensar
As falhas e faltas que vocês tanto tinham
E justificar as atitudes que todos tomaram
Antes de me jogar na fogueira.

Você representa toda frustração,
Falta de amor próprio
E medo de ser
Que eu já senti.

E, mesmo assim,
Poderia ser qualquer um no seu lugar.

[Verso 4]
Eu tenho o dom de ir além, vou é correr
O que tiver pra ver, eu quero ter
Bem mais que eu tinha e, sem você
Eu vejo tudo tão mais claro

Eu já disse que não vou te salvar,
Por mais que sinta pena de você.

Até mesmo existe lados de mim
Que sentem raiva de tudo que você é
Porque fiz de você o centro de tudo de ruim que já vi até então
E até mesmo como espelho das características que menos gosto
Quando me vejo refletido e diluído
Nos meus próprios pensamentos.

[Pré-Refrão]
Mais sabor (mais sabor)
Tem mais céu
Perigo, dispenso
Horizonte
Cada coisa num instante de ilusões

[Refrão]
Voltei pra mim
Cê sabe o que é bom
Onda do mar, só quero
Te ver assim se for pra ser melhor
Pra ser ruim, nem quero

Eu voltei pra mim, amor,
Há muito tempo atrás
E cê sabe o que é bom
Pois conheceu o paraíso
Quando eu me deixei, pouco a pouco,
Ficar em suas mãos.

Onda do mar, só quero —
E só vou mergulhar
Quando tiver certeza que o amor que vou receber
É diferente do mesmo que entreguei a você,
A Sharon, Melissa, Gabriel Santana, Raiane, Ryan, Victor,
Vitor Almeida, João, Gabriel Matheus, Riquelme, France
E tantos outros e outras que não lembro o nome
— Te ver assim se for pra ser melhor
Pra ser ruim (e sempre é ruim), nem quero

Você sorriu quando me viu cruzar aquele arco
Feliz por achar que o meu destino estava selado
No desejo que você tanto alimentou, meses a fio,
Ao descobrir que eu não era tão doce
Quanto parecia nos seus sonhos mais molhados.

Agora, só sobrou o amarelo dos seus dentes,
O enxofre das suas roupas,
O veneno daquela sua amiga igualmente louca,
Talvez uma coisa ou duas que você aprendeu comigo,
E o vazio da sua rotina,
Porque o Sol foi embora.

E duvido muito que ela saiba,
Afinal, você olha sim para os dois lados,
Mas nunca para o lado de dentro.

E, quando atravessar novamente a linha entre entre estar com ela
E estar com outro cara,
Vai dizer que queremos pagar as suas contas,
Quando, na verdade,
A multa pelo excesso de velocidade
Está nos quilômetros que você correu
Na pista de uma realidade que nem mesmo existiu.

O mundo prático está aí,
Achando formas criativas de te dizer
Que os segredos que querem saber sobre você
Já são conhecidos.

Não se esconde o que acontece na luz do dia.

[Saída]
Amor, eu te deixei
Com as suas bobagens e extravagâncias
Amor, eu te deixei
Com as suas narrativas de perseguição e de amor
Amor, eu te deixei
Com as poucas migalhas do que você tinha a oferecer
Amor, eu te deixei
Assim como deixei todos os outros e outras:
Na estante da memória.

[sem título]Onde histórias criam vida. Descubra agora