O plano de pararmos no High Park vai por água abaixo. O tempo acabou fechando da metade do ensaio em diante, e agora Alex está guiando sei lá para onde debaixo de uma chuva fraca. Ainda tem um pouco de sol, mas já já ele vai se pôr e ficaremos conversando no escuro a não ser que paremos em algum lugar, como uma cafeteria ou algo assim.
– Para onde estamos indo?
– Para o Chester Hill Lookout – Alex diz.
Não sei que lugar é esse, mas deve ser bem sossegado. Alex não puxa papo durante o percurso. Estou com o coração apertado de novo e com medo de falar algo que eu não deveria, então também não digo nada.
Após alguns minutos, ele vira em uma rua sem saída e para no final dela. Tem uma vista bonita daqui. Creio que seja mais bonita em dias de sol e saindo do carro, mas daqui de dentro também é bonito. Alex estaciona e deixa o ar-condicionado ligado para mim. Ele deve ter reparado que estou suando apesar do clima.
Tamborilo uma melodia qualquer com os dedos no descanso de braço da minha porta. Silêncio entre Alex e eu é algo tão raro quando estamos bem. Qualquer coisa vira assunto entre nós. Agora não tem nem música de fundo e acho que é para não nos distrairmos.
– Então... – começo. – Você vai me dizer por que não está feliz?
– Estive bem entediado.
Okay, não era bem o que eu achei que fosse ouvir.
– Com a garota com quem você está saindo?
– Também. Em casa, com ela, com a banda...
– Com a banda? Hoje foi entediante?
– Não. Hoje não.
Ajeito a minha posição no banco, ficando com o corpo voltado para o lado e joelho cruzado sobre o banco, apontando para Alex.
– Por que você tem andado entediado?
– Porque desde que paramos de nos falar, eu fiquei com 4, 5 horas por dia de tempo ocioso. Eu não tinha reparado que a gente se falava ou ficava junto por tanto assim todos os dias. Você já tinha notado isso?
– Não que era tanto tempo, mas somando as trinta conversas picadas que tínhamos por dia tanto pelos perfis falsos quanto pelos verdadeiros, não duvido que seja tudo isso.
– É tudo isso. Eu garanto. Eu tive que juntar a banda de novo e aumentar a quantidade de ensaios por semana para ocupar o espaço que você deixou vazio. Era isso ou ficar horas na Twitch assistindo alguns gamers ou trabalhar fora do expediente para evitar o ócio.
– Até onde eu sei, você gosta de fazer essas três coisas. Por que continuou entediado?
– Porque essas coisas ocuparam o meu tempo, mas não me tiraram a sensação de vazio. E às vezes eu não queria fazer nada daquilo, só queria jogar conversa fora e comentar sobre as novidades com alguém. E, tudo bem, eu tenho os caras que jogam comigo há anos, tenho o Terry e o Kalevi, tenho o meu pai e a minha família, mas não é a mesma coisa. Eu senti a sua falta – Alex diz, com os olhos na rua.
Meu coração bate nas costelas com o pulo que dá. Ele não vira o rosto nem faz contato visual comigo. Só continua sério com a atenção em um ponto qualquer à sua frente. Para mim, pouco importa. Sua declaração enche meus olhos de água de qualquer forma.
– Eu também senti a sua, Alex – conto. – Estar em Toronto sem você quase me fez comprar uma passagem de volta para o Brasil.
– De vez?
– Ahan. Eu não sabia se o Colin iria destruir as minhas chances de conseguir um bom emprego em Toronto, precisei lidar com o vazio que você deixou para trás e eu não podia nem correr para o colo da minha mãe porque ela estava morando com você. Foram semanas bem tristes, vazias e chatas sem você. Muito, muito chatas mesmo. Eu senti falta até das suas implicâncias, para você ter uma ideia.
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Ao Som da sua Musica - Livro unico
Storie d'amoreQuase seis anos atrás, Erika conheceu um amigo virtual enquanto buscava tutoriais de suas músicas favoritas no Youtube e acabou se apaixonando. Ao chegar no Canadá, ela o conheceu pessoalmente por acaso e manteve esse segredo, mesmo ficando amigos...