1. o fantasma do bairro

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- Mateo, você sabe que não pode ficar desse jeito na cadeira, eu já consigo ver a sua coluna pedindo socorro! - a sua mãe, Fabiana, o alerta.

Ele realmente se encontrava numa posição que era nociva para a sua musculatura, já que ele não mexia muito o seu tronco, na maioria das vezes apenas a sua cabeça mas, se Mateo pudesse, não abriria nem seus olhos para observar o mesmo quarto, as mesmas paredes e a mesma cocha de cama todos os dias. Não é como se ele não pudesse sair de casa, ele pode e quer mas, não se sente muito seguro em relação a isso.

Além do medo de acontecer algum acidente, todas as vezes que ele já saiu de casa depois que ele havia se recuperado, as pessoas ficavam o olhando. Algumas fingiam não olhar, olhavam pelo canto do olho mas, ele sabia que elas estavam tendo pena, ou indiferença, o julgando apenas com o olhar. Ele odiava ser julgado, por isso, evitava ir com sua mãe e seu pai até um supermercado por exemplo, sem contar que em alguns tipos de estabelecimentos não se tem uma rampa para facilitar a vida do rapaz.

- Que coluna, mãe? - ele fala num tom brincalhão e se ajeita na cadeira.

- Enfim... vou fazer um chá pra você, essa chuva tá trazendo um frio danado.

- Ok, obrigado - dona Fabiana sai do quarto, encostando um pouco a porta.

Ele empurra sua cadeira de rodas para perto de sua janela.

Entre as coisas que ele assegura dizer que o mantém vivo, mesmo que sejam poucas, a que está no topo da lista era a janela do seu quarto, que era voltada para uma vista linda do sol se pondo. Tirando a quadra de basquete que era livre para quem quisesse jogar, ficava bem na frente da sua casa, do outro lado da rua, sempre havia jogos de grande escala em finais de tarde como estás mas, diferente desses finais de tarde, estava chovendo, não tanto, ainda assim isso poderia afastar aqueles garotos irritantes que iam jogar de segunda a sexta depois da escola. A atmosfera estava calma e até então nenhum grito exagerado comemorando uma cesta foi ouvido por ele, apenas o som das gotas de chuva caindo no telhado.

Se sentir feliz por um bando de adolescentes - como se o mesmo não fosse, talvez até mais novo que o bando - ficarem tristes por não poderem jogar basquete na chuva o deixava muito velho.

- Porra, eu tava tão animado pra jogar hoje - Mateo observava e ouvia - ele não sabia se era por causa do eco que a chuva provocava ou de seu sentido aranha despertando mas, ele conseguia ouvir o que eles estavam falando do outro lado da rua - os "trogloditas" pela janela de seu quarto, era um grupo de 3 garotas e 4 garotos, apenas uma das meninas estava com uma roupa mais leve que nem as dos meninos para jogar basquete, essa menina em específico estava mais perto dos garotos. Eles estavam em baixo de uma lona que tinha perto de uma parada de ônibus.

- Vocês são feitos de açucar, por acaso?

- Não mas, ainda assim sou muito doce, se você quiser provar - que merda de cantada é essa... eu senti isso por ela.

- As suas putinhas não consiguiram te ver hoje, Rafael?

- Você é minha putinha, Amanda - a garota fez uma expressão de nojo. Mateo não sabia se ele iria se matar ou chorar de vergonha primeiro, ele estava prestes a tacar uma pedra na cabeça dele.

A garota que recebeu aquela péssima cantada, era simplesmente o tipo de garota que sempre tem em filmes adolescentes, ela tinha lindos cabelos loiros, vestia uma roupa que a deixava quase semi-nua, eu diria que ela é o tipo de garota que diz não ter estria. O cara que deu a cantada parece ser pior ainda, resumindo ele era só um padrão, alto, magro e com os olhos claros. Eu dúvido que a sua personalidade seja tão clara quanto seus olhos.

Para a felicidade deles, e a infelicidade de Mateo, a chuva havia parado. O grupo pegou três rodos que estava numa casinha de manutenção que ficava ao lado da quadra, e passaram por toda a quadra. Mateo achava que eles iria terminar quando já estivesse de noite mas, depois de 5 minutos a quadra estava sequinha.

𝒃𝒆𝒇𝒐𝒓𝒆 𝒔𝒖𝒏𝒔𝒆𝒕.Onde histórias criam vida. Descubra agora