Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro. 23 de maio de 1944.
Querida mamãe,
Como está em Paris na companhia de minha estimada irmã caçula? Espero que estejam bem, aqui está tudo na mesma: Vovô tão rabugento quanto de costume, acredita que ele agora cismou que tenho de me casar ou ficarei sendo solteirona? Inacreditável, ao menos papai nada diz, se bem que ele tão pouco vai até a fazenda, especialmente agora com a tecelagem indo de mal a pior, mas por favor não diga a ele que eu lhe contei isso, ele ficaria irritado por dias.
Contudo, eu também já não consigo mais suportar a situação na tecelagem mamãe, acredita que aquela secretariazinha dele acha que pode mandar em mim? Ao menos Danilo não é uma má companhia, mas juro que se ele tentar me cortejar novamente eu arremessarei o que estiver em minha mesa em sua direção e não ligo se papai se importa com ele ou com a mãe, afinal eu já disse mais de mil vezes que me recuso a me casar. Bom, não é apenas Úrsula que acha que está mandando na fábrica, acredita que ela também está dando pitacos em nossa própria casa? Porém não se preocupe, que eu já avisei a todos os funcionários que na sua ausência eu é que sou a dona da casa e não aquela sirigaita. Então fique tranquila que eu estou conseguindo coloca-la em seu devido lugar com a maestria que apenas uma Camargo pode ser capaz de executar.
Agora quanto a Tecelagem... Deus ela não anda nada bem das pernas e papai só pode achar que sou burra para não perceber. MAMÃE PRECISAMOS DE INVESTIDORES OU VAMOS FALIR! E eu simplesmente não consigo colocar isso na cabeça de papai, que diga-se de passagem, proibiu expressamente que eu recorresse ao vovô para qualquer ajuda financeira. O que vamos fazer? Não podemos deixar nossos funcionários na mãe e, pior ainda, como irei de herdar uma fábrica falida? Tenha piedade de sua pobre filha e coloque algum juízo na cabeça de seu marido ou melhor ainda, encontre um investidor que não papai não consiga espantar.
Bom dona Violeta, acho que por hora é isso que tenho a relatar, aguardo notícias de Paris o mais rápido possível.
Mande lembranças à Dorinha.
Com amor,
De sua filha que lhe quer sempre bem,
Heloísa de Camargo e Barbosa.
Violeta releu a carta da primogênita pela quarta vez ainda incrédula com toda a irresponsabilidade do marido em deixar a tecelagem de seus antepassados falir por mero orgulho besta em se negar a aceitar a ajuda financeira de outros.
Logo a mulher de cabelos cor de chocolate encontrava-se suspirando, ao estar bem ciente que seu retorno ao Brasil teria de ser adiantado ainda mais, não que ela tivesse planejando ficar em Paris com a Guerra indo do jeito que estava, mas a notícia de sua primogênita fez com que ela apressasse uma contrariada Isadora a arrumar suas malas para o retorno imediato.
Oh, não, cheguei muito perto?
Oh, quase vi o que está lá no fundo?
Todas as suas inseguranças
Toda a roupa suja
Nunca me fez piscar uma vez
Finalmente em solo carioca a esposa de Eugênio Barbosa aguardava o motorista dirigir até a residência de seu pai em silêncio, já que sua caçula não parecia se incomodar em fazer toda a conversa por si mesma, porém a mulher de orbes escuras deixava sua mente vagar sobre as velhas memórias.
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Unconditionally
FanfictionHá 25 anos Violeta e Eugênio juraram se amar incondicionalmente. Hoje, depois das filhas, da perda insuperável de uma delas, longas viagens e brigas pelas menores coisas, os dois só não se divorciaram porque seria ruim para os negócios dele e o pai...