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— Você? – Andréa profere ao abrir a porta depois de muita insistência.

Miranda tira seus óculos deixando transparecer a impaciência que foi ficar insistindo em tocar a campainha incessantemente.

— Feche a porta, Andréa. – Miranda ordena, sentando-se no sofá.

Andréa olha para porta, olha para Miranda sentada no sofá de sua sala e olha para porta mais uma vez. Definitivamente a jovem não está entendendo nada. Miranda em sua casa é algo que a Andréa não cogitaria nunca.

A jovem fecha a porta, desconfortável, senta-se na poltrona ao lado de onde Miranda estar. Miranda por sua vez, não deixa de observar a garota de short de malha e uma camiseta branca, e mais nada... Miranda admite para si que Andréa é bem distribuida.

Miranda olha para os olhos da jovem, mas Andréa não aguenta sustentar o olhar, então olha para baixo, Miranda sabe muito bem fazer leitura corporal, e sabe que Andréa está insegura e se sentindo impotente e acoada.

— Já pensou no que vai fazer da sua vida? – Miranda pergunta sem saber como abordar qualquer assunto.

Miranda passou as duas últimas semanas depois que demitiu Andréa, pensando nela, no que lhe aconteceu e o quanto se sente responsável por isso. Miranda sabe que se ela tivesse parado seu carro e mandado a garota entrar, aquilo não teria acontecido. Miranda sabe que se não fosse o seu orgulho e ego, teria sim, se importado e dado ouvidos as suas percepções e intuição sobre o comportamento daquele dois homens que pareciam seguir Andréa.

Mas, se ela o fizesse, ela estaria se importando com um empregado , e demostrar isso era demais para sua cabeça soberba, seu ego não aguentaria. Parece idiota, e é idiota, mas Miranda é presa demais em blindar seu ego para que ele não seja ferido.

Andréa franze as sobrancelhas, ela não entende o por quê da pergunta da ex-chefe. Miranda nunca se interessou em nada que não girasse em torno da Runway ou do seu próprio umbigo.

— Você veio até minha casa para saber no que vou fazer da minha vida? – A confusão está estampada na cara da ex-assistente.

— Eu quero ajudar você, Andréa. – Parece que para Miranda, as palavras que ela soltou pesava mais que uma tonelada. Foi difícil para sair de sua boca.

Andréa rir incrédula: — Você me demite e agora vem dizer que quer me ajudar? – Ela não acredita e tampouco entende Miranda, e não faz questão de esconder isso.

— Acredito que não seja fácil passar pelo que você passou, sei que fui intransigente. – Miranda pigarreia. — Mas, como mulher, como mãe, e sabendo que até agora você não conseguiu sair daqui em busca de novo emprego, e tampouco vai conseguir, e parece que está definhando, quero te propor para que trabalhe comigo, na minha casa. Bem, você pode ser minha assistente pessoal, terá que se mudar para lá. Eu quero ajudar você Andréa.

— Quem diria que Miranda Priestly tem pena de alguém. – Andréa solta as palavras no ar com rancor por tudo que Miranda já falou para ela e a fez passar.

— É! Pelo visto eu tenho. – Miranda encara Andréa que logo, mais uma vez desvia o olhar.

Miranda se levanta, olha ao redor da pequena e bagunçada sala, olha para os olhos triste de Andréa novamente e sente um aperto no peito. Não é compreensível para a mulher essas sensações e sentimentos em relação a Andréa, a assistente que ela mais se incomodou.

Outrora, Miranda simplesmente apagaria Andréa e toda sua trajetória na Runway da sua mente e seguiria sua vida como se Andréa nunca estivesse existido. Mas para o infortúnio da mulher, não foi isso que aconteceu. Desde quando Andréa confidenciou entre soluços que havia sido estuprada, Miranda não para de pensar e se culpar um minuto sequer, Miranda sondou sobre a vida de Andréa e sabe que a garota é vítima cruel do destino, sabe o quanto Andréa é batalhadora e sofredora. A mulher ainda resistente, sente, mesmo que não admita, que errou muito com Andréa, e agora parece que mesmo não verbalizando, precisa se redimir com ela.

— Eu realmente quero ajudar você, pense sobre isso, e caso você queira interromper, posso arrumar meios para isso.

Os olhos de Andréa são confusos sobre a fala de Miranda. A jovem a olha atordoada.

— Eu preciso ir, pense sobre isso e qualquer coisa me ligue. – Miranda caminha até a porta, ela mesma abre e sai daquele prédio decadente.

Só dentro do carro, Miranda consegue liberar todo o ar do seu pulmão. A mulher se sente estranha e tão culpada.

Enquanto isso, Andréa segue atônita na sala de seu apartamento. Ela não consegue achar uma lógica para a atitude de Miranda. Ela franze mais uma vez as sobrancelhas ao pensar na proposta da mulher para que ela tire o feto que se forma em seu ventre.

— Tirar? – Ela fala em voz alta.

Andréa não pensou nessa possibilidade, ela pensou que não queria e nem quer essa criança, questionou a Deus o motivo de está passando por isso, se perguntou o que fazer da vida, mas, em nenhum momento lhe veio em mente tirar. Ela sente medo ao pensar sobre isso. Afinal, é uma vida que se forma dentro dela.

Ela coloca as mãos no rosto, volta a fazer o que tem feito nos últimos dias: deitar, fechar os olhos e se martirizar. É como se Andréa tivesse entrado em um limbo.

Ela sempre pergunta para Deus o que fazer, estava esperando algo acontecer para lhe ajudar, e agora, ali pensando mais uma vez sobre tudo, percebe que talvez Deus a ouviu. A ida de Miranda, a proposta de Miranda seja a única alternativa no momento, afinal, ela não tem nada e nem ninguém para olhar por ela.

— Miranda teve compaixão? – Andréa se pergunta agora de olhos abertos ainda incrédula.

Ela vai até sua bolsa a procura do seu celular que há dias ela não mexe.

Miranda já trabalha a todo vapor, entre uns papéis e outros ela ver na tela de seu celular o nome da Andréa, a mulher sente seu estômago contrair e imediatamente atende.

— Pensou sobre o que propus? – Ela não espera nem o alô da garota.

— Eu não tenho outra escolha. – Andréa confessa encolhendo seus ombros, sentindo como se estivesse cara a cara com Miranda.

— Ótimo, arrume suas coisas, quando estiver pronta, avise que mandei Roy te levar para minha casa.

— Sim, Miranda. – A jovem murmura e Miranda desliga o telefone.

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