The Palace - Prólogo;; 🦢

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A primeira vez que Park Jimin se deparou com a imensa construção no centro da Cidade da Luz, ele era apenas um garotinho que ainda chupava dedo. Mesmo com tão pouca idade, o monumento de maior orgulho para os cidadãos o tirou o ar no instante em que o avistou. Sua estrutura alta e massiva, com pilastras de ouro que brilhavam sob a luz da cidade e vidraças enfeitadas com os mais valiosos dos cristais, era capaz de arrancar suspiros até dos cegos endinheirados cujo ego não os permitia aceitar que tal preciosidade não fosse uma posse.

A construção havia sido um presente de um homem rico ao seu amante, um garoto cujos olhos só refletiam a arte em todas as suas formas: pintura, desenho, melodia, sentimento. Como forma de expressar seu amor da forma mais pura, na primeira noite onde em que foi inaugurado, o lugar brilhou com toda sua preciosidade e luxúria, e a música fina tocada por entre as paredes fez até os ignorantes chorarem. O monumento passou a ser endeusado, glorioso em formato, e situado no centro da Cidade da Luz, era todos os dias lembrado como um gesto de amor profundo, intenso, reconhecível.

Quando Jimin visitou o lugar pela primeira vez, era uma beleza sem igual que o fez querer correr por corredor em corredor, descobrir cada canto escondido, e fazer daquele lugar um palácio mágico. Hoje, crescido, formado e famoso, Jimin sabia que nunca mais olharia para o The Palace da mesma forma pura e intrigante.

As colunas de mármore e ouro sustentavam faixas pretas em toda sua extensão, e a música que vinha de dentro, sempre tão delicada e astuta, doce melodia suave, agora dava espaço a uma música fúnebre, triste, sem vida, capaz de cortar corações e dilacerar almas apenas com o som que produzia. As beldades que utilizavam de sua luxúria para o lugar, sempre com roupas dos mais belos dos tons, agora pintavam suas vestimentas apenas no preto frio e distante, capaz de consumir toda a luz com apenas a presença.

O velório seria realizado na maior câmara do The Palace, com direito a orchestra por toda a noite. A senhora Park havia se certificado de trazer tudo de melhor para a ocasião, e os mordomos que rodavam o salão principal comprovavam isso nos pratos que carregavam nos braços, e nas bandejas que comportavam as mais variadas bebidas.

Era tradição na família Park, desde a era antiga, que o velório deveria ser feito não para chorar pela morte de uma pessoa, mas para celebrar a vida boa que teve. E o avô de Jimin certamente teve uma vida honrada e feliz, cercado por filhos e netos que o amavam. Ele era amado, era apreciado, era honrado. Servira a Cidade da Luz com todo o amor que tinha, e sustentou o peso de seu posto com um sorriso caloroso mesmo quando as rugas apareceram e a coluna já não era a mesma. Ele foi forte a cada segundo, e sua morte não poderia ter sido mais calma, por entre cobertas caras feitas da seda mais pura e em um sono velado e tranquilo.

Jimin sabia que era tradição, sabia desde pequeno que a morte não era o fim, e que não deveria chorar por alguém ter o deixado, mas olhar ao redor, ver as pessoas sorrindo e brindando em taças caras enquanto vestiam o preto do luto, sem uma lágrima para escorrer por seus rostos belos e alegres, fez ele sentir nojo por um momento. Ele sabia que era a tradição, sabia disso, mas só queria se enfiar em um canto e chorar ao ponto de soluçar, ao ponto de se ver tomado por uma onda de lágrimas e suspiros e não parar. Acima de tudo, ele não queria voltar para casa e se lembrar que o maior quarto do castelo não seria mais habitado pelo avô. Ele não queria lembrar que nunca mais veria o rosto sorridente ou a voz calma do bondoso homem que cuidou dele com o mais caloroso dos afetos existentes.

Sorrir, quando a única coisa que gostaria de fazer era se deixar afundar no mar da tristeza, era como facas o dilacerando de dentro para fora. O fazia se sentir baixo, menos do que realmente era. Ele tentou tomar o vinho servido e ficar no próprio canto, tentou conter as lágrimas, tentou não se deixar levar pelos gritos animados que ouvia. Muito em breve, a orquestra começaria, e a música escolhida pessoalmente pelo avô ainda vivo tocaria. Ele se sentaria na cadeira confortável do teatro e veria uma apresentação, uma peça sobre a vida que o avô havia levado. Ele próprio faria a atuação do homem forte que estava feliz pela morte não ser o fim.

Black Swan | JJK+PJMOnde histórias criam vida. Descubra agora