O quilombo

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As tormentas haviam passado, ao longe viasse a costa brasileira, as arvores e a praia estavam bastante visiveis.
Faltava pouco para aportarem em Salvador, atual capital do Brasil, onde o grupo de corsários estaria, a cana de açucar do local fazia sucesso na Europa e em outras partes do globo.
Henrique havia acordado a pouco, sua cabeça ainda doia, mas não tanto quanto antes, Chad estava com o capitão, pensava seriamente sobre o que o capitão havia lhe contado, tudo parecia se encaixar, Helena perdera os pais cedo quando ainda era um bebê, a mãe de Henrique morreu e ela tinha um bebê, e se eles fossem irmãos... O caminho estava livre para ele.
Um sorriso brotou nos lábios avermelhados do rapaz ao imaginar Helena e Henrique sendo irmãos, eles não poderiam ficar juntos de forma que Chad seria o único concorrente a altura e quem sabe poderia se casar com a ruiva.
Seus pensamentos foram interrompidos pela voz do capitão ecoando e lhe chamando, rapidamente se preparou, vendo a colonia de Portugal se aproximar.
O navio aportou em Salvador e boa parte dos tripulantes desceram, mas logo foram rodeados por indios canibais.
O capitão pôs-se entre seus homens e os indios, tirou de seu bolso algumas joias e as ergueu, tentou dizer para eles ficarem com as joias ao invés de devorá-los, mas os indios não compreenderam e atacaram.
Os piratas então lutara contra os indios, fora um massacre terrivel, os piratas tinhas armas, espadas afiadas e habilidade, os indios possuiam armas feitas de madeira, pedras e coisas retiradas da natureza.
Não tinha possibilidade dos indios vencerem,nem por sorte e nem por força.
Poucos foram aqueles que conseguiram fugir para a mata densa, a maioria teimou em lutar bravamente contra os piratas.
Os indios que lutaram foram dessimados, mortos sem piedade, ou eram eles ou eram os piratas.
O capitão olhou para os corpos caídos e sentiu repulsa e culpa pelo que fizera, mas não havia alternativa, só havia uma opção, e essa opção era sobreviver.
Os homens seguiram pela praia, tudo parecia igual, as mesmas arvores, a mesma areia, o mesmo mar, tudo tão semelhante, pareciam seguir em circulos, mas sabiam que estavam indo em linha reta.
Não ousaram embrenhar-se pela mata, era perigoso, não conheciam o local, muito menos seus habitantes.
Ao longe havia um navio enorme, de onde negros saiam acorrentados, alguns corpos eram jogados para o mar, já mortos e em estado de putrefação.
Os homens brancos os chicoteavam e riam, pareciam se divertir com a dor dos homens acorrentados e sendo puxados para longe do navio.
Muitos negros gritavam, se debatiam, tentavam fugir e com isso apanhavam, crianças e mulheres não estavam de fora, todos negros.
O capitão não ousou se aproximar, o bando ficou apenas observando, não havia o que fazer, eram negros escravos, eram mercadorias e eram tratados como tal, estava na lei e era permitido, trazia lucros então que ma tinha?
Os negros foram levados de engenho a engenho, alguns eram comprados, outros deixados para lá, o trágico era intenso, milhares de negros eram capturados e vendidos, valiam muito e muitos lucravam com isso, inclusive a coroa portuguesa.
O bando de piratas continuou seu caminho, foram abordados mais à frente por um grupo de negros que haviam fugido de seus donos e criaram um quilombo no meio da floresta, os homens foram levados para lá, embrenhavam-se entre as arvores e invadiam cada vez mais a floresta.
Quando olharam para o céu já havia escurecido, não podiam fazer mais nada além de descansar por ali mesmo.
Os negros se reuniram em volta dos homens brancos e os encararam durante longos minutos, até um deles se pronunciou, era o líder, o provavel Zumbi do quilombo.
-Quem são vocês? E o que querem?
-Viemos em paz, somos piratas e viemos resgatar um dos nossos companheiros que pode estar por aqui.
O homem negro os encarou e voltou-se para o capitão.
-Você é o líder? Não acredito em vocês e portanto tem que ficar aqui e vamos vigiá-los por um bom tempo, terão que trabalhar.
-O que? Não! Nunca, temos que achar Helena, não podemos perder tempo com vocês - gritou Henrique se erguendo em um pulo e logo andou em direção ao negro, seus olhos faiscavam de fúria.
Porém quando estava prestes a dar-lhe um murro foi jogado para trás por outros dois homens.
-Henrique, chega, vamos fazer o que eles mandam, é a única forma de nos mantermos vivos, não vamos encontrar Helena se todos morrermos aqui - Chad ergueu-se e puxou o amigo para longe - se continuar atacando vamos todos morrer, eles são centenas de homens e nós não chegamos a vinte.
Henrique se deixou arrastar pelo loiro e olhou ao redor percebendo que este estava certo, eles eram mais fortes, certamente, e estavam em maioria, tinham grande vantagem.
-Odeio quando tem razão - murmurrou o moreno.
-Nós aceitamos, vamos ficar aqui até que confiem em nós - disse o capitão - mas em troca quero que nos ajudem a encontrar a pessoa que procuramos.
-Benedito e José vão procurar por essa Helena e vocês ficam aqui - continuou o negro.
Após esse pequeno contrato os piratas foram dormir em cabanas que eram vigiadas por vários negros, de forma que não podiam fugir.
-Acha que eles podem achar Helena? - perguntou Henrique ao entrar na cabana e acomodar-se desconfortavelmente no chão de terra.
-Eles conhecem esse lugar melhor que nós e uma mulher ruiva não pode ser tão invisivel no meio de tantos negros - respondeu Chad deitando-se no chão e encarando o teto.
-Não acho que eles sejam confiaveis.
-Tão pouco eles o acham de nós, por isso estamos aqui, mas temos que torcer para que eles cumpram o trato.
-Isso é ridículo, confiar nesses homens que estão nos vigiando e vão nos fazer de escravos, não posso deixar Helena à mercê desses negros, eles podem matá-la apenas por prazer, ou machucá-la, ou estupra-la, não posso permitir isso.
Henrique praticamente rosnou as ultimas palavras e suas mãos se fecharam em punho, logo estava de pé e andava a passos decididos para fora da cabana.
-Calma ai, garanhão, eles são nossa única chance de encontrarmos ela - Chad segurou-o pelas pernas e o poxou com força o fazendo cair no chão.
-Já disse que você é irritante? Até parece que não se importa com ela - rosnou Henrique socando o chão irritado.
-É claro que estou preocupado, seu imbecil, mas diferente de você não preciso ficar irritado por qualquer coisa, e apenas espero que ela volte, porque eu gosto dela, talvez mais do que você, a vi primeiro naquela praia, antes de você, mas deixei que você ficasse perto dela porque pensei que ela fosse te odiar e correr para os meus braços, que merda, Henrique, por que ela tinha que te escolher?
Henrique arregalou os olhos levemente e sua boca se abriu por segundo que pareciam horas.
-Olha, eu realmente não sei... Eu fui um canalha e tenho que admitir isso, estava tão irritado, não queria que mais ninguém ficasse perto de meu pai, ele era meu e... Eu não... Eu não queria que ela tomasse o lugar da minha mãe, não queria que outra mulher ficasse como substituta, eu...
-Foi imaturo, eu sei, até porque seu pai ama muito a sua mãe, espero que saiba disso, e ele não via Helena como uma mulher e sim como uma filha... Você tinha uma irmã sabia? Ela teria a idade de Helena...
-Quem lhe contou isso?
-Seu pai, creio que deve saber.
-Eu sei, ela era... A princesa do meu pai, era o amor da vida dele, ele nunca me contou direito o que aconteceu, apenas sei que minha mãe era linda e minha irmã também.
-E eu acho que sua irmã pode ser a Helena... Olha, ela perdeu os pais em um "acidente" do qual ela não conhece, é ruiva assim como sua mãe e sua irmã, ela é da Espanha assim como você e provavelmente perdeu os pais na mesma epoca que sua mãe morreu.
-Impossivel... Não, não pode ser, isso não... Se for verdade eu... Ela... Irmãos não ficam juntos.

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