Sento na minha cadeirinha de madeira ao lado de uma das janelas da casa do sítio que agora, pertence aos meus pais. Chove bastante, o que parece coisa de filme, pois o clima correspondia aos meus sentimentos: Não gostava de vir aqui, porque me lembrava muito do passado, que não era triste, mas é porque as lembranças felizes não existem mais. Observo o balanço de madeira pendurado por meu avô falecido, que foi pintado de rosa especialmente para mim, pendurado no galho mais forte da árvore por uma corda branca. Lembro do meu avô neste momento, me acariciava com sua mão grossa e seca, que de vez em quando me machucava, mas gostava do mesmo jeito, pois ninguém tinha a mão igual, e ninguém me amava como ele me amava. Seu rosto mau — humorado, mas que para mim se transformava em gentil e carinhoso. Lembro quando ele pendurou meu balanço, o qual tinha sido cuidadosamente pintado de minha cor favorita na época, tinha comprado a corda mais forte da lojinha perto do sítio para não romper, e não deixava ninguém ajudá-lo além de mim, mesmo estando doente. Enquanto eu agora, olhava o pequeno balanço da janela entre as gotas d'agua que caíam.
Poucos meses depois do "projeto balanço", como ele o-chamava, ser concluído, acordei com o telefone tocando na minha casa, alguém atendeu, e logo em seguida minha mãe entrou silenciosamente dentro do meu quarto, mas soluçava incontrolavelmente. Abriu uma das gavetas do meu armário e tirou um conjunto de roupa, colocou em minha cama, e com certa dificuldade, mandou que me vestisse. Resolvi obedecer sem perguntar o porquê, pois, mesmo tendo só cinco anos na época, já tinha uma ideia do que tinha acontecido. Minha mãe dizia que um dia meu avô iria viajar, mas sem contar para ninguém, e foi naquela noite quando ele decidiu partir. Lembro que fiquei até com uma certa raiva por ele não ter me contado, mas respeitava sua decisão, pois ainda tinha esperança que iria vê-lo de novo, pois como só era uma menina, cheguei a conclusão que todo mundo que viaja, volta. Continuei sentada por mais alguns instantes, enquanto minha vista do lado de fora ficava cada vez mais embaçada por conta das gotas d'agua que escorriam lentamente. Pareciam fazer caretas para mim, me ridicularizando devida a minha siutuação, mas isso deve ser só fantasia minha. Comecei a lembrar de meu passado, de meus tempos de criança, onde a única coisa que importava era brincar e passar o tempo com meu avô. Após ter pendurado o balanço, passava o dia inteiro alí, pois o meu pequeno balanço era a coisa mais preciosa que tinha. Encosto meu rosto cuidadosamente no vidro frio da janela, assim posso ver a paisagem cinzenta e a melancolica causada pelas nuvens escuras que tomavam o céu. O tempo começou a melhorar lentamente, o sol parecia enrolar para sair, até que tinha parado completamente de chover, e ele parecia mais uma vez confiante para brilhar mais do que tudo. Perdi o controle dos meus pés enquanto me levavam até a porta, deixando a tristeza da janela e da cadeirinha para trás, corri até o balanço, e pela primeira vez em anos, sentei-me nela e começei a balançar lentamente, voltando à minha infância.
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Meu Pequeno Balanço Cor de Rosa
Short StoryUma adolescente relembra sua infância quando visita o sítio antigo de seu avô falecido.