Intenção

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Os poucos móveis se encontravam em seus lugares. As caixas ainda estavam espalhadas pelo apartamento, e ficariam assim por mais um tempo. Hoje é minha primeira noite na cidade que tornou-se meu lar, e não ficaria marcada comigo desempacotando caixas, mas sim bebendo em algum bar, isso foi o que minhas amigas me garantirão.

Me arrumo, colocando a roupa mais casual que consigo tirar de uma das caixas. Prendo o meu cabelo em um coque firme. No meu rosto uso uma maquiagem leve, porém nos lábios passo o batom vermelho. Quando finalizo, olho para o espelho, gosto do resultado.

A localização do pub indicava que era próximo do meu prédio, não havia a necessidade de dirigir. Então pego minha bolsa e saio, ao descer os andares, busco meu celular e conecto os fones. Minha trilha musical para desvendar a cidade havia sido escolhida, aperto play, e se inicia pela milésima vez no dia: Fly me to the moon.

Caminho, observo as ruas e as moradias. Ao som de Frank Sinatra parece que tudo é mais belo. Logo encontro o pub, o mesmo ficava isolado em uma ruazinha à alguns quarteirões do meu prédio. Sua fachada era convidativo, com letras grandes e brilhantes tinha escrito: La vie. Desligo meus fones, ao adentrar, percebo que seu interior era magnífico, e fazia jus ao letreiro.

Observo as horas, havia chego no horário combinado. Procuro pelas meninas, porém não às localizo. Pontualidade era algo que fazia parte de mim. Olho para o relógio novamente, deveria ter imaginado que isso iria acontecer. Elas estavam atrasadas.

Sigo, sento em um dos dez bancos alinhados ao longo do balcão. O ambiente não estava cheio, mas tudo muda, quando permaneço no mesmo lugar por uma hora.

De repente, uma música que faz parte de minha playlist ressoa pelo local. Vejo a comoção das pessoas ao abrir uma roda em torno de outras duas pessoas. Um casal de dançarinos. Do banco me estico para poder vê-los dançar. As notas musicais de Por una Cabeza ecoam, enquanto os dançarinos apresentam um show de sensualidade ao realizar os passos do tango. Os dois dançam mais duas canções, após agradecem e se despedem.

- Uau. - Falo em um sussurro. Ainda sentindo a energia da dança.

- Você está sozinha? - O homem atrás do balcão questiona, após ver eu virar a garrafa de cerveja.

- Estou esperando as minhas amigas. - Digo sentindo uma leve embriaguez. - Por favor, outra.

- Esse foi o seu último, até elas chegarem. - Ele argumenta.

- Não lhe darei gorjeta por isso. - Respondo.

Ele joga um pano sobre o ombro e me fita sorrindo.

- Tenho certeza que se mudou recentemente, pela sua fisionomia está gostando do meu bar, hm, provavelmente irá retornar aqui. Portanto terei gorjetas futuramente.

- Qual é o seu nome? - Pergunto por fim.

- Eusébio, mas todos me chamam de Baby.

- Alguém te chama de Zé?

- Não se quiser beber aqui.

- Anotado. - Sorrio. - Eu adorei a apresentação dos dançarinos.

No exato momento que o banco ao meu lado fica livre, uma mulher mais ou menos da minha idade se senta. Ela tira o blazer, e instintivamente sinto o seu perfume dominar o meu nariz. Nossos olhos se encontram por segundos, e, é o bastante para sentir uma corrente elétrica correr pelo meu corpo.

O meu celular toca, pego-o e vejo notificações de Ana. Informando que ela e Carol não conseguiriam ir me encontrar.

- Não sei o que viu no seu aparelho para ter ficado triste, mas você fez um bico incrivelmente lindo. - A mulher simplesmente dispara para mim - O que me faz pensar, é que não deveria estar sozinha em um lugar assim.

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