Capítulo 1 - O trabalho.

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Para a minha infelicidade, a humanidade ainda estava viva, mas eu tinha uma visão mais abstrata sobre o assunto. Se perguntarem o motivo do meu ódio, deveria dizer que é por culpa daqueles que só me causaram traumas e medos.

E não, a maioria das atrocidades não foram comigo, mas presenciei todos em questão que me fizeram ter esses traumas. Mesmo que eu odiasse os humanos egoístas e queria que estivessem todos mortos, ainda trabalho rodeado de muitos deles.

Ao meu ver, os bons tempos eram aqueles que os humanos me adoravam, principalmente, no Egito. Não que eu tivesse vivido naquela época e nunca conheci o Egito, mas ouvi histórias de que éramos adorados como deuses, o que já estava ótimo.

Caminhei de forma lenta até a entrada daquele lugar, mas parei ali e olhei ao redor. Vários carros estacionados na frente do lugar, Ambulâncias chegavam e paravam na entrada lateral. Macas eram arrastadas por profissionais de forma urgente e vi muitas pessoas andando apressadas, ocupadas, empurrando cadeiras de rodas ou macas.

A maioria das pessoas ali, usavam jalecos e pijamas coloridos, mas esses eram aqueles que tentavam salvar as vidas daqueles que vinham aqui. Tirando esses, só sobravam os seres com as roupas de pacientes ou acompanhantes.

Olhei para aquele lugar que às vezes me trazia felicidade de ver o último suspiro de vida deles. E às vezes só trazia tédio por não ver o que me animava. O dia já estava claro e podia ser visto através da janela que tinha naquele lugar.

O homem que antes estava dormindo, olhou para o teto e em volta notando que não estava em casa. Infelizmente ele teve a sorte de ainda estar vivo, porque pelo acidente que sofreu, era para estar no necrotério. Não foi dessa vez que o planeta se livrou de mais um humano inútil.

"Ah, como vim parar no hospital?", pensou Andy ao ver um enfermeiro entrando no quarto. Então Andy perguntou: — O que aconteceu comigo?

O enfermeiro se aproximou para trocar o soro de Andy, mas o triste é que o enfermeiro não era uma pessoa ruim, então a vida do outro estava a salvo. O acidentado percebeu que não foi escutado e preferiu repetir a pergunta.

— Poderia me dizer o que aconteceu comigo de tão grave comigo para estar no hospital? — Andy se mostrou bem perturbado com a situação.

— Você veio porque sofreu um acidente grave e aparentemente não teve muitos ferimentos, mas você está aqui há 3 dias. E vou chamar a médica para te examinar.

Com esse curto diálogo entre eles, o enfermeiro saiu dali sem que algo acontecesse com nenhum dos dois, o que foi uma tristeza para mim. Depois de descobrir que aquele homem estava bem, desisti de saber se tinha acontecido mais alguma coisa a ele. Meu trabalho não era aquele.

Continuei andando naquele corredor e aparentemente não seria um dia feliz para mim. Sem mortes para alegrar meu dia?

— Bem que esses humanos inúteis poderiam abrir uma lata de...

— TEMOS QUE SER RÁPIDO, PARA QUE ELE NÃO MORRA. — Alguém gritava essas informações inúteis para todo hospital. — SAIAM DA FRENTE!

Olhei para trás e só senti alguém me colocando nos braços, já estava ajeitando as unhas para atacar o maldito que teve a audácia de me segura, quando a seguinte cena passou na minha frente. Três enfermeiros empurraram a maca, enquanto o que gritou estava fazendo massagem cardíaca.

Aquela era minha chance de fazer meu trabalho, então pulei dos braços da enfermeira e corri para seguir todas aquelas pessoas, queria ver como a pessoa iria ficar. Cheguei na porta do quarto, estava uma correria naquele pequeno lugar. O paramédico deixou a medica assumir o procedimento e ouvi:

— Tragam imediatamente o desfibrilador. — Vi a enfermeira puxar o equipamento e colocar ao lado do homem. — Saiam todos de perto e pode ligar.

A máquina fez o barulho e podia ser visto o tronco do homem se levantando com o impacto da máquina. O médico dava os comandos e parou assim que viu no monitor a normalidade dos batimentos.

— Coloque o tubo de oxigênio — falou quando saiu de perto do paciente. — Já chegou alguém para identificar quem é ele?

O enfermeiro ao lado respondeu: — Até agora, ninguém chegou aqui. — Mas ele saiu da sala para obter mais informações.

Passei aquele tempo só observando toda aquela cena se acalmar e os procedimentos serem feitos. Ainda estava do lado da porta, quando a mulher do paciente chegou junto de uma criança.

Ele mal podia falar, a mulher se culpava pelo acidente. A menina só olhava sem entender o que estava acontecendo. A enfermeira que estava ali para vigiar o paciente se assustou quando me viu.

— Miau. — Sim, fiz isso para chamar a atenção de todos. Claro, um ser superior estava na frente deles.

A enfermeira fez com que eu tivesse espaço para chegar ao meu destino, a cama do paciente. No rosto dela, já mostrava a tristeza por me ver ali. Andei com cuidado para não ser pisado no caminho e quando cheguei perto da maca, tive a certeza: aquele homem não tinha mais vida.

Todos que trabalhavam ali sabiam que quando chego perto de uma maca essa pessoa iria partir para o outro plano e que tinha no máximo mais uma hora de vida. O jovem homem estava com uma máscara de oxigênio. Ele me olhou com cara confusa, mas não podia dizer nada.

— Por que tem um gato aqui? — Olharam para mim, com uma cara de interrogação. — Ele pode ficar andando pelo hospital?

"Humanos insolentes que ousam olhar desse jeito para um ser superior", pensei ao ver a petulância daquela humana.

— Ele é um mascote do hospital, sempre visita vários quartos. — A enfermeira explicou sem dizer a parte mais importante da minha visita. — Não se preocupe, daqui a pouco ele sairá daqui.

Odeio humanos, isso já deixei bem óbvio, mas era uma pena ver uma essência saindo de um bom humano. A cor era translúcida de pureza. Esse mundo precisava de gatos para dar jeito nos humanos e precisava de mais homens que nem aquele que deixaria sua família em breve por erro dos outros.

— Como foi que ele ficou assim? — A enfermeira sabia que eu gostava de saber sobre o motivo das pessoas irem para o hospital. — Se quiser contar, claro.

A esposa que chorava, falou entre os soluços: — Salvou nossa filha de ser atropelada por um carro. — Um verdadeiro nobre, pois sacrificou a própria vida para salvar a menina.

Depois que escutei aquilo, entendi o por que de ser tão puro, era pelo motivo do amor tão grande pela sua filha que preferiu morrer no lugar dela. Esses tipos de caso sempre deixava as almas daquele jeito. Uma perda para esse mundo e não era o meu trabalho salvá-los, mas dar paz antes da morte.

A criança pegou na mão do pai e aproximei deles dois, deitei ali para que eles mexessem em meus pelos. E ao fazerem aquilo, a minha magia começou a agir e tirei toda a dor que ele estava sentindo. A essência dele continuava a sair e começava a dar os últimos suspiros de vida enquanto olhava para esposa e filha.

Quando vi a enfermeira chamar o médico para dizer que aparecia ali, já sabia que chegou o momento de dar a notícia para os familiares. Me levantei dali e corri, pois não gostava de ver o choro que era se despedir de um ente querido. Depois de ver aquela alma se libertando, eu tinha que continuar a minha ronda.

Xeque-mate do Gato.Onde histórias criam vida. Descubra agora