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Morrer foi facil, foi como dormir, a morte estava me embalando como uma mãe embala uma criança assustada até ela pegar no sono. Aquilo tinha sido facil, indolor, mas ninguém me disse que eu poderia acordar uma semana depois no hospital, com a minha mãe adotiva Rose em prantos na beirada da cama, rezando pra que Deus poupasse minha alma e não me deixasse queimar no fogo do inferno caso eu morrese porque na verdade eu não queria nada daquilo.
Bem Rose, eu queria. Queria estar morta para não ouvir os seus soluços, porque eu não me sinto culpada por eles, queria estar morta para não estar usando os remedios que alguém deve precisar mais, queria estar morta para não ser mais o monstro que sou.
-Sav? -Ela chamou baixinho, como se fosse mentira - Você acordou?
-Não. To morta Rose - Falei sem abrir os olhos.

Poucos segundos depois que eu tinha falado aquelas palavras me arrependi delas, uma legião de enfermeiros lotaram meu quarto, cada um mexia em mim de um modo diferente. Resumindo, por ironia do destino eu estava bem.
-Porque você fez isso Sav? - Rose perguntou com lagrimas nos olhos - Eu não te dou atenção o suficiente?
-O que você mais me dá é atenção. - Respondi querendo acabar com aquela conversa.
-Então porque fez isso? Porque... porque você escreveu aquilo na parede do seu quarto?

**Flashback On**

Tinha acabado de fazer os cortes, o sangue escorria pelas minhas mãos e pingava no chão conforme eu andava.
Sentei o chão e deixei o sangue pingar dentro de uma vasilha, qualquer coisa a Rose poderia doar meu sangue, falando em Rose vou deixar uma mensagem pra ela.
Comecei a esfregar o punho na parede formando " U ME? " bem grande. Espero que isso deixe ela pensando por um tempo.

**Flashback Off**

-Deu vontade.
-Bem, tive que mandar pintar seu quarto novamente, achei que uma corzinha ficaria bom..
-Você tirou minhas paredes pretas?
-Pintei todas elas de rosa, mudei toda a decoração. Você vai amar. Prometo.
-DEUS, PORQUE FEZ EU FICAR AQUI?
-Não fale assim Sav, tem que ficar grata por Deus ter deixado você ficar aqui na Terra.

Um medico bateu na porta e entrou

-Senhorita Johnson?
-Eu - Respondi
-A Senhorita vai ter alta ainda essa tarde, seus niveis se estabilizaram e creio que estará apta a ir para a escola na segunda feira.
-Acho que vou tentar suicidio de novo então Doutor.
-Hahahaha muito engraçada ela não é Doutor? - Disse Rose fingindo rir. Ela que pensa que é brincadeira.
-E Savannah, sua mãe marcou um terapeuta aqui no hospital para você três vezes por semana, para ter certeza que você está bem.
-Ela não é minha mãe, e eu não vou vir no terapeuta.
-Ela vai vir sim Doutor, não se preocupe - Rose, sempre falando por cima da verdade.

Bem, para falar a verdade, sair do hospital seria facil, era rotina, eu passo a maior parte do tempo dormindo, tanto por causa dos remedios quanto pelo fato de eu não querer ver a Rose e a cara dela de eu-deveria-ser-uma-mãe-melhor.

Minha ultima noite no hospital, e eu lá, com insonia, estava sozinha no escuro olhando para as paredes ouvindo os corações das pessoas em coma baterem tão fracamente que faziam eu ter um pouco de inveja, era para eu estar morta. Agora estavam me dando remedio para depressão, porque de acordo com a minha nova terapeuta, eu sou muito depressiva e suicida. Decidi explorar o hospital, tirei os cabos que estavam conectados em mim e sai da cama, o chão gelado contra meus pés me fez arrepiar, era uma sensação boa levando em conta que eu estou a mais de uma semana em uma cama, sai do quarto e fechei a porta em silencio, tinham duas enfermeiras na frente do elevador então tive que dar a volta no corredor e descer de escada.
Estava escuro, eu estava descendo a escada rapido querendo cair e talvez quebrar o pescoço quem sabe. Comecei a cantarolar "West Coast" da Lana Del Rey.

Down on the west coast
They got a saying
If you're not drinking
Then you're not playing
But you've got the music, you've got the music in you
Don't you?

Mais escadas, mais escuridão, aquilo parecia como entrar na minha propria mente, cada vez mais escuro. Comecei a ouvir uma respiração desesperada tentando se acalmar, parei no degrau e olhei para os lados, não enxerguei um palmo na frente do meu rosto.

- Down on the west coast
I get this feeling like it all could happen
That's why I'm leaving you
For the moment, you for the moment
Boy blue, yeah you

Era uma voz grossa, um garoto estava sentado uns dois degrais a baixo do meu e cantarolou a proxima estrofe da musica. Ele tinha uma voz boa. Sentei no meu degrau e fiquei olhando para ele.

-Boa voz - Disse mais para mim do que para ele.
-Obrigada - Ele respondeu e eu vi um sorriso se formando na bochecha dele.
-Como se chama? - Ele me perguntou sem se virar.
-Savannah Johnson. E você?
-Adam Matthews.

Ele apontou um feiche de luz vinda de uma lanterna no meu rosto.

-Então Savannah Johnson o que aconteceu para uma garota linda como você vir parar na ala pisciquiatrica do Hospital Moore?.

Ala pisciquiatrica? Serio Rose? Ela tinha me dito que eu estava na ala de trauma porque bati a cabeça quando cai no chão. Ui, esse foi um golpe baixo até mesmo para você Rose.

-Adam Matthews, eu poderia te contar a emocionante história da minha vida, mas ela seria muito chata. Então vou resumir. Minha querida mamãe adotiva acha que eu sou louca.
-Você é a garota que tentou se matar? - Ele perguntou e os olhos dele brilhavam com uma curiosidade que ele queria esconder.
-Nossa, então eu estou famosa pelos corredores do hospital?
-Não, só entre os enfermeiros, não podemos deixar a população saber que jovens lindas estão tentando se matar.
-Jovem talvez, linda não. E você Adam Matthews, o que faz na ala pisciquiatrica do Hospital Moore?
-Eu trabalho aqui.
-Então tem uma quedinha por gente louca?
-Acho que acabei de desenvolver ela.

A porta na nossa frente começou a se abrir, eu e o Adam congelamos. Quando ouvimos vozes se aproximando saímos correndo e rindo, descemos mais uns três lances de escadas até acharmos que era seguro parar.
-Você vai fazer eu ser demitido Savannah Johnson.
-Eu te avisei que era louca Adam Matthews.

Uma nova porta abriu apenas uma frestinha e o Adam me empurrou para suas costas, de fato ninguém me veria ali. Ele era uma cabeça mais alto que eu e a largura das costas era quase o dobro da minha.
-Adam? - Era seu chefe eu presumi pelo modo que ele estremeceu a ouvir seu nome.
-Sou eu pai. - Pai? Como assim pai?
-Adam, já disse que não quero que me chame de pai no hospital.
-Me perdoe Sr. Matthews. Isso não vai se repetir. - TÁ BRINCANDO COMIGO? Mas que pai bunda que esse garoto conseguiu.
-Volte ao seu posto Adam. Nós vamos mais tarde.

Ele virou de frente pra mim e subimos o primeiro degrau juntos, e o segundo, até a porta se fechar.
-Savannah Johnson, você acabou de conhecer o querido homem que eu chamo carinhosamente de pai. Preciso ir agora, se não meu emprego e todos os festivais que eu planejava ir, estão acabados. Acho que nós falamos segunda na escola.

Ele começou a subir os degraus de dois em dois. Abri a porta na qual o pai do Adam tinha entrado é uma lufada de ar frio me envolveu. Preciso achar meu quarto novamente, não faço a minima ideia de onde estou.


Don't Die For MeOnde histórias criam vida. Descubra agora