Capítulo 11

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O Antigo estava na soleira da porta, e ainda que aquela fosse a sua cidade, parecia decidido a não entrar até que fosse convidado.

Parece pronto para aceitar o inevitável — tripudiou a coisa telepaticamente.

Tinha um aspecto terrível, não só pela estranheza de sua composição inumana, mas por parecer cada vez mais debilitada. Sua couraça exibia um amarelo doentio e a asa que lhe restava agora não passava de ramificações tubulares meio envergadas.

Você está morrendo, pensou Eriksson e a coisa deixou uma espécie de riso soar em sua mente.

Mesmo a morte pode morrer, não é mesmo?

Era possível. Pierce Lake, seu mentor nem um pouco dado à religião (não como a mãe de Eriksson aprovaria, pelo menos) não costumava aventar que nada, mesmo o próprio Criador, era eterno?

Vivia em ferrenhas discussões com seus alunos e outros acadêmicos sobre isso e nunca arredava um centímetro. Dizia que havia coisas muito mais poderosas 'lá fora' e também antigas o bastante para fazer o deus daqueles ingênuos parecer um bebê, e mesmo elas um dia teriam de se extinguir.

"O Criador dos Criadores um dia também deixará de existir e então, enfim virá o verdadeiro vazio."

Bem, aquele ser ali na sua frente trazia alguma credibilidade a Lake.

— Ainda pode ler minha mente, mas está acabado.

Não se meu povo me restaurar.

Eriksson achou que a coisa falava a verdade: tinham esse poder. Contudo, por outro lado, haviam-no deixado para trás, não? Talvez um exemplar defeituoso da raça, mas poupado como por misericórdia. Nossos próprios médicos prestam um juramento de salvar não importa a quem – mesmo que seja apenas para ser executado pela lei em uma forca posteriormente.

A criatura não gostou de absorver aquele pensamento. Sibilando de ódio, suas garras ramificadas crispando-se, as bocas estelares se abrindo e exibindo dentes com promessas de uma punição horrível pela insolência daquele ser inferior.

Você é o incidente aqui — projetou a coisa na mente de Eriksson. — Tinha de ter sido deixado lá, morto, junto de seu insuportável espécime peludo.

— Pare! — Eriksson tirou o velho revólver da cintura e apontou para o ser.

Afastava-se devagar, tateando o ar com uma mão para trás em busca de algum obstáculo que o protegesse. Esbarrou na pesada estante de livros e pôs-se atrás dela.

Os verminosos tentáculos na cabeça estelar do ser antigo se agitaram; era algo hediondo de se ver. Eriksson pensou em minhocas num balde de iscas, no macarrão de domingo que sua mãe fazia e sentiu nojo e raiva pela criatura macular lembranças tão puras de sua infância. A criatura riu de novo em sua mente.

Vou gostar de sugar cada um desses seus pensamentos inúteis, e depois vou atrás dos que me deixaram naquele lugar.

Estava a poucos metros de Eriksson agora. O homem, que jamais quisera usar de violência contra ninguém, ordenou mais uma vez que ela se afastasse.

Vire esse instrumento rudimentar para sua própria cabeça — ordenou a coisa. — Será mais rápido e menos doloroso do que farei com você.

Eriksson apoiou-se na estante, os pensamentos confusos. Será que de tão perto o poder de sugestão mental da criatura, mesmo com a debilidade que exibia, poderia agir sobre ele?

Atire em si mesmo... Atire...

— Não! Pare!

Seu companheiro quadrupede foi mais esperto que você. Talvez eu devesse tê-lo poupado, afinal.

Renascido para a LoucuraOnde histórias criam vida. Descubra agora