Capítulo 65 - Jogo Perigoso (parte 2)

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A sensação de morte é algo inexplicável, eu não sei descrever. É muito difícil de explicar. Realmente passa um filme na cabeça, mas tantas dúvidas ficam martelando que, por um momento, tiraram a minha paz.

Será que é o fim? Acabou aqui tudo o que eu vivi? As lembranças se evaporarão como a água no seu estado de fusão? Será que eu impactei e consegui deixar alguma marca no coração daqueles que eu amo? Eu deixei algo de bom nesse mundo? Mas, eu ainda tinha tantos planos, tantos sonhos... A minha missão já acabou?

Eu não desejo morrer, não dessa forma. Não quero entrar para a história. Não quero virar notícia em uma página de jornal ou ganhar um memorial bonito. Não ainda. Não é a hora... ou é ?

Se eu pudesse escolher um último desejo seria: ser eterna no coração daqueles que mais marcaram a minha passagem nessa terra. Nessa minha vida.

Na realidade, ninguém deseja algo desse tipo quando se tem milhares de motivos para viver e, um estava à minha frente, aos prantos. O nosso tempo estava contado agora, mas ela não morreria comigo. Eu pularia antes.

A sensação de morte faz eu repensar, em tudo o que eu vivi, mas também em tanta coisa que eu não vou viver. Tantas pessoas que me marcaram e, quiçá eu ficarei nas memórias mais agradáveis delas.

A incerteza, a insegurança... tudo vem a tona. O risco, o medo, o pavor que eu sinto mas, o pior de tudo, não é morrer, é deixar quem eu amo.

É causar um sofrimento que eu nunca desejei causar. Eu não quis provocar essa dor. Não mesmo. Eu não poderia deixá-la. Não daquele jeito. Não sem nem avisar que eu já iria...

Essa sensação iminente de morte, te joga na cara tantos erros, acertos, tudo o que foi feito e que, talvez, deveria ter sido feito. É inexplicável a ponto de até quem passa, não sabe explicar.

Tudo estava em mim, tudo gritava na minha pele, mas eu não sei dizer exatamente como é. É a incerteza de: vou morrer ou não? Pelo menos valeu a pena a vida que eu escolhi? Ela foi vivida intensamente?

Se eu pensasse nela, tudo fazia sentido, menos a morte.

POV NARRADOR

Abadia e Evandro entraram como um raio no apartamento de Sarah, se guiando pelas vozes que vinham da sala. Fátima já estava com Arthur e Miguel no local, conversando tranquilamente com Márcia. Eles cumprimentaram e Abadia se deteve em Fátima, sentando-se ao lado dela, enquanto Evandro se acomodava ao lado de Miguel.

- Fátima, tenho pouco tempo, preciso que você tente ficar calma, ok? - ela começou atraindo a atenção de todos na sala.

- Juliette está com a Sarah em um vôo para Liverpool e...

- O que? Que coisa boa! ELAS VOLTARAM! - a mulher disse animada enquanto Abadia mexia as mãos de forma trêmula e se esforçando para não desmoronar.

- Espera, o que aconteceu, Abadia? - Arthur perguntou vendo aquela preocupação.

- O avião foi sequestrado. Hannah me ligou no caminho e a única notícia que eu tenho é que... - ela disse sendo dominada pelas lágrimas.

- É que o que mulher? Pelo amor de Deus! - Fátima já começava a entrar em pânico e segurou forte a mão de Abadia.

- É que estão tentando fazer a Juliette saltar do avião e... a minha filha está com uma bomba acoplada em um colete...  – ela disse olhando nos olhos daquela outra mãe cheia de dor à sua frente.

- NÃO, NÃO, NÃO... A MINHA JU... Ela não pode pular, Abadia... elas não podem... - Fátima disse caindo no choro e Abadia a abraçou.

O medo a dominava. Ela não conseguia entender absolutamente nada naquele momento, apenas que poderia perder a filha.

À Beira do Penhasco - SARIETTEOnde histórias criam vida. Descubra agora