Heejin.
O frio em minhas mãos trêmulas vacilaram no momento em que Jimin arrancou o aparelho de minhas mãos, em seu rosto delicado feições ríspidas como um gato enraivecido. — Nunca mais ouse ligar pra esse número, está bem? Você e suas palhaçadas não cabem mais aqui, tenha decência pela primeira vez na vida e esquece que ela existe, que inferno. Ela tá muito melhor sem você! — Karina desligou no que parecia ser "na cara de Siyeon", peguei meu celular mas em minha face era nítido o quanto tinha detestado aquela atitude.
— Jimin, não se mete mais na minha vida, ok? Você não tem nada a ver com isso. — Minha confusão era óbvia e descarada, muito embora houvesse sido traída sentia no âmago que precisava ponderar como tratava Siyeon, ela foi parte de mim por sete anos e eu ainda não havia encontrado paz para me despedir, não tão rapidamente. Karina pareceu compreender e me abandonar em silêncio, atravessando a porta amadeirada e pesada sem fazer muito barulho ao fechá-la atrás de si, mordi os lábios em contração enquanto as lágrimas me tomavam outra vez, eu queria pedir para Jimin voltar e não me deixar sozinha naquele momento, mas parecia comum de mim afastar até o mais empático dos corações.
Fitava o porta retrato acima da penteadeira, um dos vários móveis brancos amontoados em meu quarto, por vezes me sentia engolida pela mobília como se eu não coubesse ali, mesmo que o local que eu mais ocupo seja a cama onde eu me encontrava naquele momento, abraçada com o travesseiro contra minha cabeça cuja dor latejante identificava que eu já tinha chorado demais.
A minha porta novamente se abriu e Jimin me entregou um copo com água, peguei o objeto de sua mão e entornei o líquido em poucos goles — enquanto só se ouvia o barulho que a água fazia descendo pela minha garganta no cômodo que ficava iluminado mesmo sem luz alguma acesa, minha fixação por móveis brancos era antiga desde quando minha mãe utilizava a mobília como cinzeiro quando morávamos juntas, porém já fazem pouco mais de dois anos que essa não é mais nossa realidade, acabei entrando no departamento de polícia para investigar seu paradeiro mas a investigação esfriou e continuamos sem resposta. — Desculpa, Jimin. — disse ao entregar o copo de volta para ela.
A vi esboçar um sorriso fraco e tímido, era comum porque ela detestava que a pedissem desculpa. Jimin sempre foi uma amiga querida, certamente muito melhor pra mim do que eu merecia. — É que essa situação ainda é muito recente, não sei o que fazer. — Minha voz falhou ao tentar explicar que não havia explicação para minha atitude, deitei na cama e Jimin sentou-se próxima a mim, elevei a cabeça até o seu colo e sob suas carícias silenciosas acabei adormecendo.
Geralmente quando desperto costumo pensar que é um novo dia para ser feliz, oportunidade pra fazer tudo valer a pena entretanto o rosto inchado demonstrava no reflexo do espelho que eu tampouco parecia viva, a imagem cadavérica do sono acompanhado pelo choro compulsivo. Levantei me arrastando até a sala, vi que Chuu dormiu em meu sofá então resolvi fazer dois sucos de laranja fortes e deixar um para ela quando acordasse, já era tarde então provavelmente Jimin não estava mais em casa.
— Bom... quer dizer, Dia Heejin-ah. — A voz de recém desperta que saia das cordas vocais de Chuu teriam me chamado atenção se eu não estivesse moribunda, seu timbre era sempre fofo assim como a própria existência. — Você não tem que ir trabalhar, Jiwoo? — Perguntei curiosa, talvez tivesse soado grosseira mas estava de fato preocupada com atrasa-lá ou fazê-la perder algo importante.
— Não se preocupe, eu já avisei na faculdade pra alguém anotar a matéria pra mim. — Ela disse, peguei meu suco e sentei ao seu lado, ela também pegou o suco e parecia surpresa comigo tendo disposição pra comer — eu também estava.
Tomei o suco e levantei do sofá, era difícil olhar para os quadros na prateleira, a televisão estava desligada então apenas pedi licença para a garota em meu sofá e fui me preparar para o resto do expediente no trabalho, eu já havia perdido o primeiro turno mas tinha sorte da fofoca ter se espalhado, talvez eles nem mesmo esperassem que eu fosse dar as caras no departamento hoje.
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ab imo pectore | heechu.
FanfictionNo início todos nós somos escravos das nossas próprias vontades, da paixão e do ócio como válvula para acender a pólvora do âmago. No início eram quatro, Chuu, Yves, Yoohyeon e Jiu encontram-se com todo o mal que o mundo esconde, a libertação da tra...