Hoje, parei para pensar na velhice.
E não confunda, a debutante senhorita velhice, com a decrépita senhora morte.
Há esta menina de olhar doce e melancólico, já dediquei toda a atenção, nomes e versos merecidos. Agora quem sonha e perde seu tempo me esperando, pensando em mim, é ela. Nossos medos e vergonhas, já estão superados.
Mas a debutante senhorita velhice me é algo novo.
Quero dizer, talvez visto deste ângulo, um ângulo que... há você sabe...e se não, nem tente.
Pois é necessário se ter algo para vislumbrar que só o tempo, a idade, a bagagem te dá.
Mas você que entende e sente o que estou dizendo, poderá ser o meu fiador.
E nem quero entrar no mérito das dores. Você sabe que o corpo humano tem prazo de validade? É tem!
Aprendi com o tempo, vão-se os dentes, as juntas se separam, os cabelos caem, ficam ralos e grisalhos, as pessoas e coisas ao redor parecem estar indo com uma pressa, que não me pertence mais, um agir que os olhos não acompanham, hoje é fácil compreender como é preciosa a pausa para respirar, assim como a pausa para declamar.
A leitura de um bom livro, há e como demoramos para descobri-los. A leitura de um caráter, o entendimento e a aceitação do outro. Mesmo que, sei lá, não concordando. O amor é mesmo um drama, mas acredite, ele existe e todas as juras de eternidade são verdadeiras, talvez, as únicas absolutas. Mesmo que...
A velhice nos permite coisas simples, como dizer verdades, porque mesmo tarde é melhor que nunca, aprende-se a apreciar, os sabores das cores, o cheiro dos sabores e dos amores, os versos que fazem juras...
Acredito que já é possível saber, da velhice estou fazendo apologia. O poeta assim diria. "Aquilo que ninguém quer, mas todos almejam".
A primeira pergunta, e creio seja justa, é se envelheço bem? E para se dar uma resposta no mínimo sincera, é preciso que se faça perguntas, que talvez, sinta algum incômodo na coluna. Será que hoje tenho a paciência necessária para ouvir? Hoje, tenho mais perguntas que respostas? Gosto do que vejo no espelho, e quando olho para o passado?
Talvez a parte chata sejam as manias, será que as cultivo? Tenho pressa de acordar? Preguiça de dormir? O que mais me agrada? Um beijo, um abraço, o sexo ou uma caneca de café forte? Caneca não, xicara! Campos ou praia? Relva ou concreto? Filosofia de padaria ou butiquim? Livros, autor ou título? Filmes, terror ou adulto? Piada, rir ou fazer rir? Música, folk para ouvir ou S/U para dançar?
O que me desagrada? Creio que nada. Nada disso é mais importante do que a velha companheira.... É claro, cada um ao chegar lá terá as perguntas que lhe cabe. Talvez nem as tenha. Só restando a absoluta e reconfortante paz.
É gostoso pensar que sim, sabe-se muito sobre pouco, e pouco sobre tudo. Quase nada é realmente importante. Afinal, as coisas que realmente importam, estão no agora.
Quando penso na velhice, não penso na sua, mas sim na minha. Nos meus cabelos brancos. Nas minhas incontinências. Penso nela.
O dinheiro e as urgências da vida, vamos falar delas.... Mas o que exatamente? A urgência é a vida.
Muito pouco se pode tirar, arrancar de quem debuta na velhice; envelhecer, exige-se uma disciplina ímpar. Um vigor quase pueril, de dez anos. As opções, desmandos, concordâncias, mandos, discordâncias, fica ao sabor do gosto ou não gosto. Quero ou não. Quem sabe... vemos depois. Não.
Envelhecer como eu, é para poucos, e poucos irão concordar.
Um jovem, (criatura) certa vez disse: "passo as mãos nos cabelos, para não ter que lembrar dos sonhos..." concordo, sorte a minha de não mais tê-los e lembrar sempre.
Afinal de contas, minhas pretensões, daqui em diante, são poucas, senão 'única'. É dobrar.
E hoje, conversando com uma sábia octogenária, cujo o nome faço questão de eternizar, em meu coração e nestas palavras, que muito fora inspirado nela, Iracema Mor, bisa dos meus, pude dar por verdadeiro tudo isto que lhes narro, talvez, cansativo por me prolongar.... O que ela, sabiamente resumiu em alguns versos, que só no envelhecer se é possível compreender. Veja...
"Hoje eu quero paz de criança dormindo... e abandono de flores se abrindo... para enfeitar a noite de meu bem..."
E completou ela, dizendo: "...há noite do meu bem... estar. "
E diante disso, penso, que quero morrer sem mentiras, ou pelo menos com uma única verdade. Sem ilusões.
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Palavras Para Distrair a Insônia
Non-FictionEste pequeno cacifo, agora aberto e ofertado a vocês caros leitores, que peço, fiquem a vontade para tomá-lo como desejar. Conta com uma série de composições, "estórias", rabiscadas em guardanapos, no velho pardo papel de pão, algumas vezes em meu e...