Docas do destino

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Era mais um dia difícil em Nova Atlantis, ser um órfão nessa cidade grande não era para amadores e eu, infelizmente, nunca fui bom em me virar sozinho, vocês devem estar se perguntando quem sou eu, Me chamo Victor, tenho 16 anos por pura sorte e boa vontade do destino, vivo nas ruas desde meus 10 anos,sobrevivendo de restos e comendo apenas o básico, mas isso mudaria quando eu fosse até as docas naquele dia.
Nova Atlantis tinha uma taxa de criminalidade bem baixa para uma cidade tão grande, isso se devia ao alto policiamento até da região mais pobre e também aos julgamentos geralmente matando o culpado, n tendo distinção entre crianças ou adultos, tendo dito isso, lá estava eu passeando pelas docas, para ver os navios recém chegados, haviam escunas, brigues, canhoneiras, fragatas e até um man'o'war, estava admirando aquela máquina de guerra, quando um garoto passou correndo por mim, quase me atropelando, logo atrás vinham 2 oficiais o perseguindo.
Eu acompanhei aquela situação de longe, o garoto era incansável e os oficiais perceberam isso,então se separaram para o encurralar, não demorou muito para eles conseguirem dava para ouvir eles discutindo.
— Gente,vamos nos acalmar, não queremos nenhum problema não é mesmo? — dizia o garoto indo contra a parede.
— O único problema aqui é você continuar respirando garoto. — disse um oficial sacando sua espada.
Uh oh, a mão da justiça pesaria mais cedo para aquele garoto se eu não interviesse, e assim o fiz, indo correndo até o desconhecido.
— Aí está você Ernesto, graças aos céus te encontrei. — disse abraçando o garoto enquanto todos me olhavam confusos.
— Quem é você? E o que faz aqui? — Perguntou o oficial desarmado.
— Eu sou Manoel, irmão desse pequeno encrenqueiro, o que ele aprontou dessa vez? — disse num misto de medo e adrenalina.
— Hm, seu irmão roubou os pertences de uma senhora e alguns alimentos de um comerciante local. — disse o oficial olhando desconfiado.
— Ah Ernesto, você está tendo suas crises outra vez, estes seus ataques estão me causando muitos problemas, como vou conseguir sustentar nossos outros irmãos se você não para com essas suas travessuras. — disse com um tom penoso e cerrando os olhos.
— Então ele é problemático desde sempre, pode deixar que resolvemos isso pra você, garoto. — disse o oficial aproximando a espada do garoto.
— Eu já sou homem, senhor, sei lidar com os desequilíbrios mentais do meu irmão, pode deixar que eu me viro com ele. — disse pegando o garoto pelo braço e abrindo caminho entre os oficiais.
— E aonde vocês pensam que vão? Pergunta o oficial em tom de ameaça.
— Onde mais eu iria além do sanatório? Vou levar esse pestinha  e deixar ele por lá, já não aguento mais. — disse apertando o passo.
O garoto me olhava estranho e parecia bem confuso, eu segui em até uma bifurcação que um caminho ia para o sanatório e o outro levava para as favelas, alí soltei o garoto e vi que os guardas não estavam mais em nosso encalço, alí começamos a rir e conversar.
— Cara, você é maluco, nunca vi alguém tão doido feito você,mas conseguiu convencer os guardas e eu nem precisei devolver nada. — disse o garoto em meio a risos.
— Eu nem acredito que deu certo, mas não podia ver você morrer alí sem ajudar, da próxima toma mais cuidado "Ernesto". — disse ofegante de tanto rir.
— É Renan, me chamo Renan, e você grandalhão? — disse Renan estendendo a mão.
— Eu sou o Victor, muito prazer,baixinho. — digo apertando a mão de Renan.
— Tem algum lugar pra ficar ou tá sem rumo também? — pergunta Renan.
— Tô na rua da amargura meu chapa, desde que meus pais morreram de varíola. — digo com uma voz triste.
— Eu tô nas ruas desde meus 7 anos quando meus pais morreram de peste, mas me sinto muito a vontade nas ruas. — disse Renan olhando em direção das favelas.
— Diga por você, não ter família é um saco, ficar sobrevivendo de restos, não, eu quero mais do que isso entende? — Digo olhando em direção ao mar.
— Sei...— disse Renan com um olhar distante.
— Bom mas eu acho que é aqui que nosso caminhos se separam, foi bom te conhecer. — digo indo em direção a rua do sanatório.
— Espera... e se eu te oferecesse mais do que só sobreviver de restos, um propósito sabe? — pergunta Renan segurando meu ombro.
— Como assim? — pergunto confuso.
— Vem comigo, eu te explico no caminho meu chapa. — disse Renan me conduzindo até a favela carinhosamente chamada de "Baixa maré".
— Tudo bem, não tenho nada a perder não é? — digo rindo.
Caminhamos um longo tempo até chegarmos a um casarão que parecia abandonado, mas ao entrar me deparei com vários jovens morando ali.
— Bem vindo a família Vitão, esse é meu agradecimento por ter salvo minha vida, sempre é bom ter uma cara nova por aqui, sinta-se a vontade pois aqui é sua nova casa. — disse Renan com um largo sorriso amistoso no rosto.
— Obrigado cara, de verdade, eu nem sei como te agradecer, prometo ajudar com o máximo que eu puder. — disse abraçando Renan em meio a lágrimas de emoção.

E aquele era o começo de uma irmandade e grande empreitada...

Contos dos afogados: Rum, Sangue & OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora