Quatro meses se passaram desde a última vez em que eu vira Alfonso. As últimas palavras que me dissera ficaram martelando em minha cabeça durante uma semana inteira. A possibilidade de ainda dar certo. Me negava veementemente a cogitar aquilo. Seria sofrido demais basear a minha vida num sonho, esperando por Alfonso, e acabar, outra vez, quebrando a cara. A ideia de que eu deveria esquecer e recomeçar não era algo que eu descartaria, por mais que doesse.
Falando em dor, hoje a dor já era bem menor, ainda que não fosse inexistente. E de verdade, eu estava me saindo muito melhor do que imaginava. Cada dia era mais fácil não pensar, e talvez o fato de eu não vê-lo ajudasse muito nisso. Saudade é algo que a gente supera.
Ian ainda não havia ido embora de Nova Iorque, e eu começava a desconfiar que, talvez, tudo aquilo tivesse a ver comigo. Pretensão? Não. O que acontece é que estávamos bem grudados, e nos últimos dias ele vinha se mostrando um pouco mais interessado em mim do que o de costume. A proximidade no sofá da sala, enquanto assistíamos a algum filme, aumentara. Os abraços tornaram-se mais demorados e as horas depois do expediente, mais longas.
Então lá estávamos nós, comendo pipoca e vendo Jogos Mortais.
Anahí: Esse filme é sangrento demais. — Torci o nariz. Era nojento ver as pessoas se mutilando — Ai meu Deus, ela vai rasgar o braço! — Tapei os olhos.
Ian: Você fica tão bonitinha com essa cara! — Zombou.
Anahí: Como você é idiota!
Ian: Sério! Você fica ainda mais linda quando está com "nojinho" — Riu.
Anahí: Que engraçadinho você!
Ian: Eu falo sério, é quase irresistível. — Eu não disse? Bem mais interessado que antes.
Anahí: Ah tá. — Olhei-o, mantendo o ar brincalhão que ele já não tinha.
Foi aí que ele colocou a TV no mudo. Voltando a atenção inteiramente para mim.
Ian: Você não me leva a sério, né? — Balançou a cabeça, levando uma mão até o meu rosto — Você ainda não percebeu que tá me tirando do eixo? — Riu consigo mesmo — Acho que me apaixonei.
Ouvindo aquilo meu coração disparou consideravelmente. Eu não sabia o que dizer ou o que fazer. Eu não podia dizer que também sentia aquilo, porque eu não sentia. Quer dizer, eu gostava de Ian, mas não era paixão. Ou será que era? Fato que ele me fazia bem, que eu contava as horas para estar com ele, que só de olhar no seu olho já tinha vontade de sorrir, e que achava extremamente sexy quando ele arqueava a sobrancelha e entortava a boca num trejeito típico de quando estava sendo irônico. Mas isso não significava que eu estava apaixonada. Claro que não. Eu ainda amava Alfonso, e isso me impedia de me abrir para qualquer outra pessoa. Ou não.
Ian: Any, eu quero você. — Completou para piorar a minha situação.
Anahí: Ian, eu... É... — Gaguejei. Droga, será que era pedir muito querer que minha voz saísse?
Ian: Também fica linda quando está sem graça. — Aproximou o rosto do meu. Deus, ele era lindo. E eu... Eu estava carente. Foi inevitável, nos beijamos. Quer dizer, ele me beijou. E eu correspondi, sem qualquer objeção. Não era aquela sensação de ir ao céu e sentir milhares de fogos de artifício explodirem em meu peito, como era com Alfonso, mas era absurdamente bom. Não sei explicar, nós dois nos entendíamos de uma maneira única, e até naquele beijo parecíamos ter uma cumplicidade sem tamanho. Estranho. Muito estranho. E ao mesmo tempo tão familiar.
Ali fora a primeira vez que eu vislumbrei que podia, de verdade, superar Alfonso. E se aquela era uma oportunidade, eu me agarraria a ela.
O resto daquela noite fora repleto de muitos beijos e poucas palavras. Sem um compromisso maior, estávamos juntos.
Quando deu onze horas ele foi embora. E eu fiquei sozinha com meus pensamentos, mais conturbados e perdidos do que nunca.
Pensamentos que se acalmaram no dia seguinte quando eu e ele, finalmente, conversamos sobre aquilo.
Anahí: Entende o que eu quero dizer? — Perguntava enquanto almoçávamos.
Ian: Entendo, Any. Eu não te falei tudo aquilo ontem pensando que começaríamos a namorar agora. Relaxa.
Anahí: É que eu não quero que se magoe, entende? Eu realmente gosto de estar com você, e ontem... — Sorri — Uau, ontem foi ótimo, mas eu não posso dizer, com todas as letras, que estou apaixonada, ou pronta para qualquer coisa mais séria. — Ele aproximou a cadeira da minha, segurando o meu rosto e mordiscando meus lábios, enquanto mantinha aquele sorriso sedutor tão típico dele.
Ian: Já disse, relaxa. Vamos curtir o momento, okay? — Assenti, sorrindo, e ele deu início a um beijo terno e cheio de sincronia.
E nesse lance de 'curtir o momento' passara mais um mês. O melhor dos últimos meses da minha vida. Digo, dos últimos meses depois de Alfonso.
Ian: Estou me sentindo lisonjeado.
Anahí: Sinta-se muito lisonjeado mesmo. Não costumo preparar um jantar para qualquer um. — Mexia o molho de tomate, distraída, quando o senti abraçar-me pelas costas.
Ian: Isso significa que eu não sou qualquer um. — Deu um beijo demorado em meu pescoço. Instantaneamente minha pele arrepiou.
Anahí: Ian, para. Vou acabar me queimando. — Disse, contorcendo-me ao senti-lo mordiscar minha nuca. Virando-me de frente para ele, ele segurou meu rosto e me beijou. Eu retribuí o beijo, quase desesperado, agarrando-me a ele. Acho que as coisas estavam ficando quentes demais por ali.
Quando dei por mim, estava sentada na bancada da cozinha, com as pernas enlaçadas na cintura dele e os lábios vermelhos pelo beijo longo e quase violento. Eu ofegava e sabia exatamente o que poderia acontecer ali. E o pior, era o que eu queria.
Anahí: Ian, o molho.
Ian: Dane-se. — Resmungou com a boca em meu queixo e as mãos apertando minha coxa.
Anahí: Ian, vai pegar fogo na casa! — Ele riu, apressando-se, desgostoso, e desligando o fogo.
Quando voltou a se aproximar de mim, encarou-me sério. Trocamos aquele olhar por segundos, até eu me lançar a ele e começar outro beijo, indicando que queríamos o mesmo, dando a permissão pela qual ele parecia esperar. E a partir daí não houve mais sanidade. E sendo um do outro, atravessamos aquela noite.
Na manhã seguinte, quando acordei, vi Ian parado, com a sua câmera em mãos.
Ian: Bom dia, anjo.
Anahí: Bom dia! — Espreguicei-me — O que está fazendo com essa câmera, eim?
Ian: Tirando uma foto sua dormindo. Estava tão bonita que não resisti. — Estendeu a foto, revelada na hora, para mim.
Anahí: Mérito do fotógrafo e não da modelo!
Ian: Até parece! — Rolou os olhos — Acho que vou colocar na minha carteira! — Disse divertido.
Anahí: E você coloca as fotos de todas as mulheres com quem você sai na sua carteira? Tem espaço para tantas? — Ri, recebendo uma almofadada.
Ian: É verdade — Levou as mãos ao queixo, com uma carinha pensativa — Vou ter que ver se eu consigo arrumar um espacinho para você. — E foi a vez de eu retribuir a almofadada. Eu até iria levantar e começar uma verdadeira guerra de travesseiros e almofadas, mas Ian foi mais rápido e se jogou em cima de mim, enchendo-me de beijos, fazendo-me rir.
Sim, eu estava feliz. Finalmente feliz.
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Palavras, apenas palavras
Hayran KurguPalavras podem ferir, ou podem te fazer a pessoa mais feliz do mundo. Uma simples palavra é capaz de te levar ao céu, ou te atirar sem piedade ao inferno. Elas podem ser motivo de alegria, ou do mais doloroso choro. Palavras prometem, aliviam, engan...