Ela entrou nos meus braços
E indicou o caminho
Disse no meu ouvido
Não vai morrer sozinho
Ele me olhou de canto
Fingindo que não via
Me riu meio sem jeito
Andando os três em fila
Me ofereceu e eu aceitei
Dali pra frente eu desliguei
Ali no quarto, seis olhos vermelhos
Sentados, rindo alto
Eu tinha o mundo inteiro
Eu vim do interior
E ainda tem tanto desse mundo
Que eu não aprendi e que eu não sei
Mas meu coração é grande e cabem
Todos os meninos e as meninas
Que eu já amei
Meninos e Meninas - Jão
― Você está bem, gatinha?
Helena estava terminando de fritar um ovo, para juntar com o arroz e a salada que fizera. Ana Paula ― A garota que dividia apartamento com Júlia. ― estava fora de casa desde as primeiras horas do dia, e a amiga de Helena arrumava seu material para seguir caminho em direção à faculdade.
No entanto, a tristeza em seu rosto era nítida. Pudera; perdera o irmão de maneira cruel e sanguinária e, como se isso não fosse o bastante, fora obrigada a terminar um namoro com um de seus amores. Não, Helena definitivamente não estava no seu melhor dia.
― Eu vou ficar. ― Ela disse, conformada. ― Só preciso sentir minha dor. Acho que ela é parte de quem eu sou agora, na verdade.
― Não gosto de te ver assim. ― A preocupação estava estampada no rosto de Júlia. ― Mas entendo o seu luto. A morte de João te abalou profundamente, não é?
Helena levou o ovo até seu prato com arroz e salada, respirando fundo. Sim, a morte de João era um dos fatores que a deixava deprimida, mas não era o único.
― Não apenas isso. ― E comprimiu os lábios. ― Eu terminei com a Raquel nesta manhã.
Júlia arregalou os olhos. Era uma grande entusiasta do relacionamento entre sua amiga e a irmã de Maycon; talvez estivesse mais chocada com o fim deste que a própria Helena.
― Sério? ― Indagou Júlia. ― Poxa, Helena, que situação. Eu gostava de vocês juntas, achava que combinavam. Qual o motivo desse fim tão abrupto? Ela fez alguma coisa?
― Não. ― Raquel jamais seria a culpada pelas decisões de Helena. Os momentos que vivera junto da garota foram preciosos, mas não era justo entregar-se a ela pela metade. ― Raquel é preciosa demais para este mundo. Assim como Leonardo. E é por isso que eu não posso estar com nenhum dos dois; eu os amo demais e não posso me entregar pela metade.
― Ah. ― Júlia pareceu entender. ― O problema é o Leonardo, então.
― Não exatamente. ― Negou Helena, sentando-se à mesa com seu prato. ― O problema sou eu, que não consigo amar apenas um deles. Eu gostaria que fosse mais fácil, Júlia, mas eu não consigo lidar com isso.
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Nunca Mais Seremos os Mesmos
RomanceLeonardo, aos dezessete anos, acaba de perder sua mãe de forma abrupta e traumática. Se sentindo apenas um peso no mundo, o garoto acaba por viver com sua avó e se obriga a encarar uma nova vida, cheia de medos e mistérios. Dentre tantas incertezas...