As luzes do salão batendo em seus corpos enquanto rodeavam era ainda tão familiar e presente, que muitas vezes esquecia da água no interior de seu corpo e das temperaturas baixas do mar.
Lembrava-se dos músicos tocando em sincronia como robôs e ainda assim passavam calmaria, quando tiraram os sapatos para correrem sobre o tapete vermelho no meio do salão. As paredes brancas de mármore amareladas pelas velas como as de castelos com direito a pilastras e tudo, mas o que mais o encantava era o teto com aqueles lustres enormes seguidos pela pintura de estrelas e céus noturnos, conseguindo imaginar sem problemas de que estava lá fora em céus aberto. Nem as janelas que iam do chão a quase o teto abobado chegavam nesse nível.
Era realmente encantador, uma última lembrança feliz de sua vida. Mas por pior que parece-se, havia conseguido fazer amigos e um deles se chama Breno, um golfinho muito simpático que adorava brincar com suas peças quando elas soltavam. Sua pele de um cinza lustroso e macio, a voz esganiçada e fofa que soltava quando se animava, era uma ótima companhia. Era muito grato por Breno ajudá-lo a sair do fundo e voltar a terra, atrás de seu amado.
O cheiro da cidade urbana nunca o cativou, porém, após passar tantos anos no mar sentindo o cheiro de sua brisa, era de certa forma reconfortante. As luzes dos postes agora brancas e não amareladas iluminavam as ruas silenciosas e estranhamente paradas. Parecia que tudo estava a seu favor novamente.
Foram os mesmos 20 minutos de caminhada pelos mesmos bairros e casas coloridas de dois andares até dar de cara com sua antiga casa. Quase uma mansão comparada ao resto da cidade. Era uma casa cercada, com jardins verdes e enormes árvores quase sem nada em seus galhos por conta da estação, aparentemente apenas uma pessoa dentro da casa, com o terceiro andar aceso.
Fez o mesmo trajeto que faria em qualquer dia normal após sair do trabalho e ir até seu quarto de casal. A mesma decoração e cores em branco com detalhes em madeira, alguns quadros com fotos de certificados, porém nenhum registro de fotografias.
Abrindo as portas brancas se deparou com seu antigo quarto, com uma cama de casal, guarda roupa imenso e um espelho e escrivaninha em outro canto. Queria muito continuar ali e relembrar todas as memórias boas que teve com seu amado Harry.
Cuidadosamente para não ativar suas spring locks ou molas soltas foi tirando peça por peça deixando-as em cima da cama. A tintura antes em tons verde, vermelho e branco agora estava toda corroída e desbotada, com alguns musgos e algas aparentes, e seu reflexo no espelho não era diferente.
Lembrava-se de sua pele bronzeada e macia e seu cabelo todo trançado quando foi em sua primeira parada LGBTQIA + e o conheceu, seus olhos verdes que cativaram tanto seu amado, seu corpo que por mais delicado que fosse deixavam muitos homens com inveja. Pena que era ingênuo e apaixonado demais para notar, não conseguia ver maldade nos outros, uma criança se considerava naquela época, e sua queda foi confiar.
Trazendo a mente seu reflexo o lembrava muito um zumbi, com partes com corais, pele enrugada e lugares podres, sorte ou azar seu que não conseguiu tirar o esqueleto, pois se não estaria no chão imóvel. Não sabia ao certo o que ocorrera com sua alma, mas não se importava com isso, não por hora pelo menos.
Abrindo o armário do meio retirou de lá sua roupa, o mesmo que teria levado ao mar consigo se não tivesse insistido em retirá-la. Ainda conseguia sentir o cheiro de jasmins misturado com lavanda, dos seus corpos juntos.
Saindo do quarto começou a procurar seu amor, já sabendo que ele não estava presente no primeiro andar nem no segundo andar, mas sim no terceiro. Estava torcendo com todo o resto de sanidade que lhe restava que seus parafusos não estivessem fazendo tanto barulho.
Subindo as escadas olhou ao redor do corredor, localizando o escritório aceso e seu amado lá dentro, tão lindo como sempre. Cabelos lisos curtos em um topete, pele bronzeada delicadamente, usando sua camisa e calça social que o deixava mais lindo ainda. O antigo Miguel teria achado isso.
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My Last Dance
HorrorQuando uma alma esta presa a terra, ela nunca descansa, dizem que não há mais salvação para ela. Porem ele não pensa em nada disso, apena em uma coisa... Vingança. [Isso aqui é um trabalho de escola, postado apenas aqui e nessa conta, qualquer outro...