Capítulo 1

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Pov Ricky

Acordei ansioso, diferente dos outros dias. Esse era o primeiro mês de junho desde que me assumi bissexual. E não, eu não acordava assim sempre que um novo mês começava. É que em junho, é comemorado o orgulho LGBTQIA+, e essa seria a primeira vez que eu comemoraria abertamente. Já fazem alguns meses desde que saí do armário completamente, para ser mais exato, 5 meses, e eu estava gostando dessa minha vida. Depois de me levantar da cama, tomei um banho e me arrumei para ir para a escola. Antes de sair de casa, tomei café da manhã e fui de skate para a East High. Chegando lá, encontrei o Big Red conversando com a Ashlyn, sua namorada. O casal me deu um forte abraço, me parabenizando pelo meu mês. O resto do dia não foi muito diferente. Diversas pessoas vieram falar comigo. Algumas delas eu nem conhecia, e também teve um garoto que deu em cima de mim, mas eu nem liguei. Eu não estava procurando um relacionamento agora. Eu queria dar um tempo para mim mesmo, me conhecer melhor... Coisas assim. Mas é claro que se eu conhecesse alguém e me apaixonasse, eu iria querer ficar com a pessoa. Por falar nisso, já tem algum tempo que não sinto mais nada pela Nini. É claro que ainda somos amigos, mas só isso. A garota também saiu do armário, se revelando pansexual, e hoje namora a Gina. É estranho pensar que há menos de um ano atrás as coisas estavam completamente diferentes. A Gina fazia de tudo para roubar o papel da Nini na peça, eu tentava de toda maneira reconquistar a Salazar, enquanto tinha que lidar com o E.J. Falando nele, eu ainda não o vi hoje. Nem sei se o moreno veio para a escola. Não que sejamos amigos próximos, ou algo do tipo, mas pelo menos não nos odiamos mais. Digamos que aprendemos a conviver um com o outro, e até conversamos de vez em quando.

- Ricky - disse Red chamando a minha atenção.

- Oi.

- No que tava pensando?

- Nada demais.

- Vamos indo? - perguntou.

- Pra onde?

- Pro ensaio.

- Ah, vamos.

Coloquei minha mochila nas costas e seguimos nosso caminho até a sala de ensaios. Depois de o sucesso de A Bela E A Fera, esse semestre faríamos Frozen, e eu consegui o papel do Christopher. A Ashlyn pegou o papel da Anna, o Seb irá fazer a Elsa, o Big Red vai fazer o Hans e o Carlos irá fazer o Olaf.

Pov E.J.

O dia hoje estava sendo péssimo. Um dos piores de toda a minha vida. Durante o período de aulas, precisei ir duas vezes ao banheiro, apenas para chorar. A cada ano que se passavam, eu me sentia ainda pior. Eu precisava de ajuda. Precisava desabafar com alguém. A pessoa mais próxima de mim era a Ashlyn, mas eu não conseguia falar com ela sobre esse assunto. Era difícil para mim, mas eu simplesmente não conseguia aguentar mais. Mais uma vez eu estava trancado em uma das cabines do banheiro, chorando pela terceira vez só hoje. Foi quando eu recebi uma mensagem da minha prima, me perguntando o porquê de eu não estar no ensaio. Quando olhei a hora, vi que eu estava uns 10 minutos atrasado. Sequei minhas lágrimas, lavei o rosto e corri até a sala de ensaio.

- O que foi que eu fiz pra você? - disse Ashlyn, ensaiando com o Sebástian.

- Já chega, Anna - disse o loiro.

- Não, por que você me abandonou? Por que se isolou do resto do mundo? Do que você tem tanto medo? 

- EU DISSE JÁ... E.J.? - disse o garoto, me notando parado em frente à porta da sala.

Nesse momento, todos viraram sua atenção para mim, enquanto eu entrava no local, timidamente.

- Eu posso saber o motivo do seu atraso? - a professora perguntou, irritada.

- Eu... perdi a hora. Me desculpa, eu prometo que não vai se repetir - falei de cabeça baixa.

- Acho bom... Garotos, podemos retomar o ensaio - disse a mulher loira.

Os dois voltaram a ensaiar, enquanto o resto assistia a cena com os olhos brilhando. Aquela de fato era uma das melhores cenas do filme e a atuação estava impecável. Era uma pena que eu não estava tão animado como os outros. Na verdade, durante todo o ensaio, eu fiquei focado em apenas uma pessoa. Um garoto. Ricky Bowen. Não nos dávamos muito bem até há algum tempo atrás. Não que tenhamos virado melhores amigos, mas não nos detestamos mais. No fundo, eu queria ser como ele. No começo, eu o achava bobo. Um cara sem sal. Não conseguia ver o que a Nini tinha visto nele. Mas hoje eu vejo que o Ricky tem tudo o que eu queria ter. Amigos de verdade, um pai compreensível e, acima de tudo, ele pode ser quem ele realmente é. O motivo de eu estar tão mal hoje, é porque eu sou gay e nunca consegui me assumir. Não que eu não tivesse tentado, mas ninguém nunca percebeu. E com o tempo, fui ficando com cada vez mais medo de me abrir, até que eu chegasse aonde cheguei. Uma pessoa completamente fechada e incompreendida pelos outros. O tempo foi passando e logo o ensaio acabou. As pessoas foram pegando suas coisas e saindo em grupos, conversando umas com as outras. De pouquinho em pouquinho, a sala foi esvaziando até que sobrassem apenas duas pessoas nela: o Ricky e eu. Eu continuava no mesmo lugar, enquanto o Bowen tentava ligar para alguém, no canto da sala.

- Você vem? - perguntou para mim.

- Hã? - perguntei confuso - Ir para onde?

- Você vai ficar aí o resto do dia ou vai ir embora?

- A-ah, eu já tava indo.

Me levantei, peguei minha mochila e caminhei até o centro da sala. E se eu conversasse com ele? Já que o Ricky é assumido, talvez pudesse me ajudar. Não, é melhor não.

- Por que você chegou tarde? - perguntou quebrando o silêncio, que havia se estendido por alguns segundos.

- Você não me ouviu falando com a srta. Jenn? Eu perdi o horário, só isso.

- Então não foi nenhuma mentira que você inventou para ela? 

- N-não - respondi - Enfim, eu já vou indo.

Caminhei até a saída, sentindo seu olhar sobre mim, mas antes que eu de fato deixasse a sala, me virei e falei:

- Parabéns, Ricky.

- Pelo o quê? - perguntou confuso.

- Pelo seu mês. Você é bem corajoso por ter coragem de mostrar seu verdadeiro eu para o mundo - falei num tom meio triste.

Me virei para ir embora mais uma vez, mas, novamente, antes que eu chegasse a cruzar a porta de saída, o menor chamou a minha atenção:

- E.J., espera!

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Continuação no próximo capítulo!

O que estão achando?

Os capítulos provavelmente serão mais curtos do que os de O Filho Dos Empregados, mas a história está incrível.

Até mais!

"Talvez Você Não Se Orgulhe de Si, Mas Eu Me Orgulho de Você" - CaswenOnde histórias criam vida. Descubra agora