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Izabella

Minha mente não raciocinava direito, minhas pernas tremiam e tudo parecia ser um erro no qual eu deveria correr para longe e me esconder como um animal acoado e machucado.

A noite estava quente e com muvuca devido ao baile, o céu límpido com estrelas e as casas iluminavam a rua que servia de estacionamento para os carros, sentei na calçada e minha maquiagem nessa altura que estava totalmente derretida pelo choro me dava raiva maior.

— Achei que já estava no asfalto — A voz do André me chamou a atenção.

— A praia cansou de me ver chorar — Suspirei e vi ele sentar do meu lado.

— O que quer fazer ? — Ele falou colocando a mão em minha perna.

Eu deveria ter raiva dele, mas não temos nada e nem se quer namoramos e de certa forma parece bom para mim assim, ele não tá preparado para se prender a ninguém e acho que o que eu sinto por ele não é o suficiente para fazer ele tentar algo.

— Não me respondeu — André chamou minha atenção.

— André, me perdoa mas quero ficar sozinha — Falei me levantando e descendo a rua.

Eu fui até a barreira e peguei um táxi para um barzinho na orla e sentei ali ouvindo a música que tocava.

...

Eu que é perigosos mas quando decidi voltar já era mais de quatro e meia da manhã, quando passei pela barreira já era cinco e subi o meu caminho quieta.

O morro estava movimentado com o povo saindo para trabalhar, os mais novos voltando para casa depois da noitada, as músicas que se misturavam entre forró, funk e pagode o sol dando seu bom dia e iluminando a favela.

— Fiquei preocupado — Olhei para a minha esquerda e vi 88 escorado enquanto tragava o cigarro de maconha.

— Desculpa — Sussurrei.

— Tá sussa, pelo menos tô vendo tu bem apesar dos pesares. — Ele veio até mim e beijou minha testa — Se cuida e dorme que eu vou fazer o mesmo.

— Viu o pesadelo ? — Falei olhando ele se afastar.

— Tá drogado em algum canto — Falou dando de ombros — Depois que você dispensou ele, ele foi para o baile e debrulhou tudo que era droga.

Balancei a cabeça negativamente e caminhei até a minha casa, destrancando o portão e entrando.

— Você tá bem ? — Ouvi a voz do meu tio Paulo.

— Tô bem — Me joguei no sofá tirando os sapatos.

— Seus pais tão dormindo no seu quarto — Meu tio sentou do meu lado e bateu em seu colo.

Assim que deitei a cabeça lá, o choro voltou e algumas lágrimas escaparam — Por que eles nunca voltaram tio ? — Minha voz falhou e meu tio enxugou minhas lágrimas.

— Por que era perigoso minha filha, iria por você em risco — Ele acariciou meus cabelos — E sinceramente eu não quero perder minha filha postiça.

— Mas eu entrei em depressão Tio, eu tentei me matar mais de 3 vezes. E eu quase consegui — Gritei batendo a mão em minha cabeça — Eu quase morri.

Meu tio segurou minhas mãos e se debruçou sobre mim como um abraço e eu chorei com mais força ainda, por que aquilo ainda doía, eu fui abandonada e eu senti a dor da perda e sinceramente isso não era justo comigo.

— Não é justo, eu sei como foi pois eu estava lá meu amor mas agora você pode ter eles novamente e viver todas aquelas coisas — Ele se endireitou e eu sentei olhando ele enquanto apoiava os braços nas minhas pernas.

— Mas tudo que eles perderam ? Cada festinha ? Cada data comemorativa? Formatura ? Tudo ? — Falei balançando a cabeça.

— Eu estava lá ! E eu sei a criança maravilhosa que você foi e a mulher maravilhosa que está se tornando meu amor, não sou seu pai de sangue mas de coração — Ele beijou minha testa e se levantou.

— Tio Paulo — Chamei o mesmo enquanto se afastava — Eu te amo Pai postiço — Sorri e ele riu fazendo um coração com as mãos.

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