Part 1 - Sonho ou pesadelo?

13 0 0
                                    

Era o primeiro dia do mês de novembro. Dom tinha ido dormir mais uma noite altamente bêbado e vendo fotos no seu celular de Lucy, sua ex noiva que estava desaparecida. Ele estava jogado sob aquela cama espaçosa, semi-coberto e com o celular na mão, até que o alarme que fora programado para às 6:00 horas, saltou do criado-mudo novamente pela sétima vez àquela manhã, às 11:40. 

Depois de todas as vezes que foi ignorado pelo Dom que só apertava o botão de soneca e tornava a dormir. Mas dessa vez foi diferente. Dom abriu os olhos, esticou o braço direito para alcançar o alarme enquanto ainda estava tocando irritantemente, levantou da cama, se aproximou da janela e jogou o objeto o mais longe que conseguiu daquela casa. Depois desse ato tão desesperador, ele sentou na cama e tentou abrir a tela do seu celular, mas estava desligado pois a bateria tinha acabado. 

Dom jogou o celular sobre a cama, bocejou alto, abrindo bem os seus braços e mirou num calendário que tinha colado na parede do seu quarto. O calendário era o seu maior castigo matinal. Porque a cada dia que se passava, era um dia a menos sem ela. Era terrível acordar e não tê-la. Ele acreditava que aquilo era um grande pesadelo e que Lucy apareceria a qualquer momento, mas infelizmente, nunca aconteceu.

Dom então virou na cama e dormiu novamente. Acordou algumas horas depois com bastante dor de cabeça, o céu já estava escuro, era possível avistar pela janela que dava de frente para a rua. 

Ele levantou mais uma vez da cama, foi ao banheiro, molhou o rosto e se encarou no espelho. Sua barba estava desalinhada e robusta, seu cabelo havia crescido ainda mais desde a última vez que ele se encarou assim e seu olhar continuava fundo e vazio. A vida parecia não estar sendo tão generosa com aquele rapaz de 25 anos. Ele continuava se encarando no espelho com um olhar de desesperança.

"Toc toc" se ouviu duas batidas na porta do seu quarto que o trouxeram de volta para a vida. Dom chacoalhou a cabeça, enxugou o rosto com uma toalha e foi atender a porta.

- Quem é? - disse ele com uma voz fraca e rouca.

- Sou eu, Antony.

"Esse cara não desiste" resmungou Dom.

- Dom? Você não quer abrir pra eu entrar?

Dom com bastante insatisfação girou a chave e abriu a porta. Seu rosto descontente respondeu à pergunta de seu melhor amigo que estava diante dele.

- Cara, eu não sabia que você ainda estava tão mal assim. - disse Tony entrando no quarto animadamente e fingindo que não havia percebido que seu amigo não desejava ter visitas. - Esse quarto tá muito bagunçado, minha nossa, porque você não joga essas garrafas fora, Dom, que furacão passou por aqui, hein, cara!

- Tony, o que você quer?

- Cara, eu vim te ver - respondeu o visitante animado e fastando a pilha de caixas de pizza com o pé. - Dom, você não pode sobreviver só comendo isso, cara.

Dom ignorou o comentário, o encarou silenciosamente e exclamou:

- Mas você veio aqui ontem e antes de ontem e toda essa semana, Tony.

- Sim, e você não entendeu a minha vinda ainda, meu caro. - respondeu Tony varrendo todo o quarto com os olhos.

- Não, você que não entendeu que eu não estou afim de sair desse quarto. Eu não quero e eu não vou e sua persistência não vai me convencer do contrário.

Tony deu uma risada de leve e derepente, trinta minutos depois daquelas últimas palavras de Dom, eles estavam numa cafeteria, sentados, esperando o pedido deles ficar pronto.

- Eu disse que você se sentiria melhor ao sair daquele casulo, Dom. - disse Tony sorrindo sentado numa mesa redonda de uma bela cafeteria da cidade com seu amigo que encarava as pessoas passando através da vidraça daquele estabelecimento e irritado porque seu amigo conseguiu arrastá-lo para a rua.

- Eu não estou me sentindo melhor. Talvez você que esteja por ter conseguido me tirar do meu casúlo - disse Dom com bastante raiva. - Mas eu só queria ficar na minha...

"Com licença, prontinho... dois cafés bem fortes e uma tapioca" falou a garçonete servindo a mesa com bastante gentileza na voz.

Tony encarou seu amigo com um olhar que ele conhecia e após agradecer a garçonete, Dom sibilou aproximando o rosto dele:

- Para com isso, Tony. Eu não penso mais nessas coisas. Eu não estou no clima há muito tempo.

O rosto de Tony ficou muito sério, o que era descomunal, e ele reagiu com bastamte rispidez:

- Cai na real, Dom. Ela não vai mais voltar. Já faz 2 anos, cara. A vida precisa continuar.

- Mas eu não estou afim de que continue - ergueu a voz Dom, olhando em volta para que os demais clientes não se atentassem para o que estava rolando alí - Eu nunca vou superá-la e você como meu melhor amigo, deveria me entender.

- Eu já te entendi demais. - Se levantou Tony pegando seu casaco que estava sob a cadeira sem nem ao menos triscar no seu café. - Eu não vou mais fazer isso. Se é isso que você quer... destruir a sua vida...

- Senta, Tony.

- Nós nem sabemos pra onde ela foi, Dom. Ela não teve a menor consideração por você. - disse Tony tirando uma cédula da carteira e colocando na mesa junto com as chaves do carro de Dom que ele veio dirigindo

- Não precisa atrair atenções, senta...

- Que tipo de pessoa sai no meio da festa do seu próprio noivado, deixa um bilhete dizendo "O tempo é a resposta" e nunca mais dá sinal de vida ou qualquer satisfação?

Dom se engasgou com um choro que quase veio, virou o rosto pro lado, perfurou a vidraça do estabelecimento com os olhos em direção à rua e prendeu os lábios.

- Ela custou seu emprego, sua família, seus sonhos, e agora todos os seus amigos.

Dom voltou o rosto rapidamente para seu amigo com os lábios trêmulos.

- É isso mesmo, Dom, todos os seus amigos. - disse Tony friamente aumentado o volume da voz -, porque até nesse momento eu ainda estava aqui com você. Mas eu cansei disso, Dom. - disse Tony com as mãos na cabeça - Se você acha mesmo que ela vale a sua vida inteira, eu desisto de tentar te trazer de volta. Você morreu junto com ela naquele dia que ela te largou.

Tony se retirou do ressinto batendo a porta que "Blem blem blem" balançou os sininhos logo acima. Todos em volta tinham os olhos em direção àquela mesa. Foi inevitável não escutar.

"O que foi que vocês perderam aqui?"

Gritou Dom, arrastando a cadeira ao se levantar furiosamente. Ele estava mais quebrado do que antes e resolveu voltar pra casa. Agora o seu único amigo que restara havia desisitido de lutar por sua recuperação e superação.

Blam! Bateu ele a porta do seu carro. Girou a chave e colocou a música que ele costumava escutar com Lucy toda vez que eles saíam juntos de carro... 

Every breath you take - by the Police

Since you've gone, I've been lost without a trace
I dream at night, I can only see your face
I look around, but it's you I can't replace
I feel so cold, and I long for your embrace
I keep crying, baby, baby please

Cada frase da música lembrava ela cantando alegremente com aquele jeito entusiástico que ela tinha. Cada nota e batida traziam os momentos compartilhados à mente de Dom que estava viciado nas memórias do passado.






Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 01, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

O Relógio MágicoOnde histórias criam vida. Descubra agora