Após mais um dia cansativo de trabalho, tudo o que mais quero é tirar os últimos vestígios de suor corporal do dia, relaxar em baixo do chuveiro e poder ficar tranquilo, lendo um bom livro ou simplesmente vendo tevê no restante da tarde, esperando pelo dia seguinte. Mas entre ficar tranquilo e descansar existe a difícil e complicada tentativa de ignorar as discussões intermináveis em que meus pais se afundam que infelizmente ecoam pela casa toda. Todas as milhares de atividades que gosto de fazer no conforto do meu quarto, nenhuma é tão boa quando não se tem silêncio pleno, e tendo uma irmã pré adolescente isso se torna questão de sorte pra mim, então saio, vou dar uma volta, nem sempre, mais as vezes é bom colocar a cabeça no lugar - dizem que refletir faz bem, ainda mais nessa fase da vida em que as espinhas disputam o tamanho com os problemas.
Gosto de caminhar ao fim da tarde quando o por do sol está ao seu fim, dando lugar para o crepúsculo, sinto grande apreciação no escurecer do dia, o cair da tarde e o aproximar da noite, tem certa elegância nisso, tudo fica mais calmo e o silêncio da cidade torna se alto, nota se mais o vento a sua volta e os pensamentos começam a surgir. Cabisbaixo, dando pontapés em pedregulhos pelo caminho tento refletir algumas ideias de minha vida, reproduzindo imagens em minha cabeça. Em minha direção vejo se aproximar um casal sorridente, aconchegados em seus casacos de frio e em seus abraços apertados, passo por eles sem dar muita importância, em seguida de modo distraído e inocente vejo um reflexo reluzente no capô de um carro parado a minha esquerda na calçada e percebo que de longe algo me observa, quieta, boiando em um mar de azul negro acompanhada por tímidas estrelas e algumas nuvens acinzentadas. Com gratidão olho para o céu, talvez essa seja a lua mais linda do ano, com a mão no bolso fecho os olhos e deixo o vento me encarar de frente, sei sempre quando um momento em minha vida é único, mesmo que eu não tenha uma boa câmera na mão para registrar, tento contemplar ao máximo. Enquanto sigo minha caminhada olho pra ela como quem não quer nada, ela retribuí o olhar como o de quem quer tudo, alguém que deseja algo, uma menina linda e cintilante disposta a me conquistar com seu jeito apaixonante de ser, sua sedução tem fácil efeito sobre mim, afinal como resistir ao encanto dela, a todo esse fascínio e seu intenso brilho em noite calma de brisa leve. Ela consegue fazer com que não pisque, não o ato de piscar, o ato dos olhos piscarem, mas sim o de paralisar meus pensamentos de me fazer esquecer completamente os problemas. Por um longo momento enquanto sigo à caminhada percebo emfim que tenho alguém pra me acompanhar.
